Viagem num cesto de fruta

  A Amora

  A amora não é apenas o que dela se vê; é tanta coisa mais do que si mesma! Tudo nela está para além de si. A tal ponto que ela acaba por ser sobretudo o que a envolve. Nela o mundo resume-se e sucede-se sem descanso. O sol: um aplauso universal de tudo quanto lhe recebe a luz. O verão: um convívio de rosmaninho e carqueja nas mãos roxas da serra. Ela absorve o sabor das coisas à sua volta. Conserva nos seus alvéolos negros como a noite os sucos da terra, prolonga-lhe nas veias o sangue escuro. Na amora concentra-se e agacha-se a infância das coisas. Daí que as crianças gostem tanto dela: sentem de imediato uma atração irresistível, pois reconhecem-se nela. E tal como as crianças, também ela vai direita ao assunto. Perde-se pelo caminho, claro, mas é a maneira dela de ir direita ao assunto.
  Tem como função proclamar o verão. E no dia certo lá está ela, vigiando, conferindo se está tudo em ordem, para que o menino das sandálias de fogo, ainda nu – pois que acabou de nascer ontem de manhã – entre com o pé direito nas charnecas em flor, pondo do avesso tudo por onde passa.
  De origens modestas, desdenhada por muitos, o povo no entanto não se engana: pois até há quem pretenda que é nela que o sol se deita…
 

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Martes, Mayo 15, 2012 - 20:34

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geraldo p

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