DOR

Dor

Hoje estou triste, estou doente,

Só a minha alma sabe e sente,

Ninguém sabe ou sente como eu,

Pois quem está doente sou eu,

Nem quero parecer adoentado,

Não me queixo, estou bem, obrigado,

Digo quando perguntam se estou bem,

Só eu sei que estou doente e mais ninguém.

Ouvir dos outros tristemente coitado,

Não quero ouvir, muito obrigado,

Pois ainda fico pior do que estou,

Com palavras tristes ninguém me curou,

Quero ter a minha alma e auto estima,

Bem levantadas para cima,

Ajuda-me a curar mais depressa,

Do que ouvir palavras de tristeza.

As minhas dores só sou eu que as sinto,

Mas pela minha cara eu minto,

Não mostro o que as dores me fazem sentir,

Quero antes ter as dores a sorrir,

Para não ouvir as palavras que fazem doer,

Fico com dores a dobrar no meu ser,

Por isso sou um grande fingidor,

Não mostrando aos outros a minha dor.

Dêem-me alegria para contagiar,

Esta dor que eu ando a disfarçar,

É uma grande ajuda que eu agradeço,

Alegria sim, eu a amo e a peço,

E nunca me cansarei de a pedir,

Se me querem ver sempre a sorrir,

Pois palavras tristes em nada aliviam,

A dor que eu sinto e de mim não a desviam.

Por isso de alegria eu quero chorar,

Sempre me ajuda esta dor a passar,

Quer seja de amor ou de enfermidade,

Não quero que me afecte a dignidade,

A dor que sinto eu vou fingindo,

Abrindo os meus olhos e sorrindo,

O meu coração assim não sofre tanto,

E esta dor que finjo vai passando.

Enquanto eu vivi a minha juventude,

Eu nada ou pouco liguei à minha saúde,

Gastei-a para ganhar para viver,

E agora o que ganho é para a manter,

Este tempo todo eu vivi na minha ilusão,

Na juventude fui dando cabo do meu coração,

Agora ando devagar e com muito cuidado,

Escondendo a minha dor ludibriado.

Tavira, 27 de Abril de 2011 - Estêvão