Santa Sampa


Hoje, a garoa de antes
voltou a molhar os reflexos
que vejo nas escuras noites cruas.

Talvez, aquele seja o bar
e, aquela, a cena de sangue
que Vanzolini, uma noite viu
e noutra cantou.
Mais um pouco, no próximo quarteirão,
ficava o aparelho onde primeiro caí.
Dali, também, Beth se foi.
Pouco além, imponente, mas quase
pedindo desculpas pela própria imponência,
ouço a Quinta de Malher que abafa
os gritos torturados que ainda vagam
pelas sórdidas paredes do antigo Palácio do Mal.
Foi ali, hóspede esperado da "Cadeira do Dragão",
que soube da realidade dos homens
e que o Diabo existe. E que não morre.
Talvez, Glauber, a Terra seja apenas dele.
Tantas coisas no coração, Caetano,
entre a Ipiranga com a São João!

Tantas coisa havia, Beth.

Tanto andei, Deus dos ateus,
mas ainda sinto Santa Sampa envolver-me
com suas negras garras e sujos grafites
nos muros escorados pelas putas da Luz.

Tantas...

Mas, depois, foi o tempo de ir embora.
De tentar esquecer. De tentar vencer.
De fazer outra vida
e, depois, outra vida fazer.
E tudo passou e tudo mudou.
Mas, tu, Santa Sampa, cresceu ainda mais.
E, ainda menor, fiquei.
Os outros se multiplicaram
e já nem sei quem são.
O frio acabou, o encanto quebrou
e o grito secou.
Mas a utopia, Carlos, não veio.

Das poéticas de Paulo Vanzolini, Glauber Rocha, Caetano Veloso e Carlos Drumonnd de Andrade.

Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, outono de 2015.
Lettre la Art et la Culture

Submited by

Miércoles, Mayo 27, 2015 - 15:11

Poesia :

Sin votos aún

fabiovillela

Imagen de fabiovillela
Desconectado
Título: Moderador Poesia
Last seen: Hace 8 años 29 semanas
Integró: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of fabiovillela

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Tristeza A Canção de Alepo 0 8.282 10/01/2016 - 22:17 Portuguese
Poesia/Meditación Nada 0 6.966 07/07/2016 - 16:34 Portuguese
Poesia/Amor As Manhãs 0 6.955 07/02/2016 - 14:49 Portuguese
Poesia/General A Ave de Arribação 0 7.142 06/20/2016 - 18:10 Portuguese
Poesia/Amor BETH e a REVOLUÇÃO DE VERDADE 0 8.922 06/06/2016 - 19:30 Portuguese
Prosas/Otros A Dialética 0 12.655 04/19/2016 - 21:44 Portuguese
Poesia/Desilusión OS FINS 0 7.699 04/17/2016 - 12:28 Portuguese
Poesia/Dedicada O Camareiro 0 9.868 03/16/2016 - 22:28 Portuguese
Poesia/Amor O Fim 1 7.060 03/04/2016 - 22:54 Portuguese
Poesia/Amor Rio, de 451 Janeiros 1 11.872 03/04/2016 - 22:19 Portuguese
Prosas/Otros Rostos e Livros 0 10.823 02/18/2016 - 20:14 Portuguese
Poesia/Amor A Nova Enseada 0 7.122 02/17/2016 - 15:52 Portuguese
Poesia/Amor O Voo de Papillon 0 6.390 02/02/2016 - 18:43 Portuguese
Poesia/Meditación O Avião 0 7.500 01/24/2016 - 16:25 Portuguese
Poesia/Amor Amores e Realejos 0 8.756 01/23/2016 - 16:38 Portuguese
Poesia/Dedicada Os Lusos Poetas 0 7.078 01/17/2016 - 21:16 Portuguese
Poesia/Amor O Voo 0 6.896 01/08/2016 - 18:53 Portuguese
Prosas/Otros Schopenhauer e o Pessimismo Filosófico 0 13.236 01/07/2016 - 20:31 Portuguese
Poesia/Amor Revellion em Copacabana 0 6.342 12/31/2015 - 15:19 Portuguese
Poesia/General Porque é Natal, sejamos Quixotes 0 8.232 12/23/2015 - 18:07 Portuguese
Poesia/General A Cena 0 7.837 12/21/2015 - 13:55 Portuguese
Prosas/Otros Jihadismo: contra os Muçulmanos e contra o Ocidente. 0 11.912 12/20/2015 - 19:17 Portuguese
Poesia/Amor Os Vazios 0 10.751 12/18/2015 - 20:59 Portuguese
Prosas/Otros O impeachment e a Impopularidade Carta aberta ao Senhor Deputado Ivan Valente – Psol. 0 9.885 12/15/2015 - 14:59 Portuguese
Poesia/Amor A Hora 0 10.254 12/12/2015 - 16:54 Portuguese