Gaiolas de um quarto escuro
Os caminhos da mente são feitos de caos
E nem podemos negar o fato que importa para as almas perdidas
Quando o destino é o maior traiçoeiro que existe
E no silêncio ninguém pode conseguir nenhuma companhia
Porque as tristezas não se podem contar.
O psicopata na prisão tem a cor do elefante
A imagem silenciosa dos que sonham por dias melhores
Quando lágrimas teimam em rolar de faces inocentes
É quando percebemos que a humanidade falhou miseravelmente
Com os seus semelhantes que perambulam pelas ruas desertas.
Quando as mães varrem a sujeira dos filhos para debaixo do tapete
Percebe-se que os destinos são traçados na infância
Que o ambiente corrompe até a alma dos mais puros
E que a distância é apenas mais um pretexto para as angústias
Quando os seres humanos não sabem o que fazer.
O sangue preto que jorra das veias entupidas de entorpecentes
É o mesmo que poderia salvar vidas inocentes
Mas nem mesmo as pobres criaturas noturnas são capazes
Quando estão todas acorrentadas em algum porão por ai
Longe dos olhos de bisbilhoteiros e vagabundos.
É quando a solidão não faz mais nenhum sentido
Pessoas querem se esconder nos becos escuros de uma rua qualquer
Ou atrás de latas vazias de cervejas fedorentas e vencidas
Onde fumaça toma conta do ambiente impuro
E provoca náusea nos estômagos de quem ousa sentir o cheiro.
Tudo o que ainda não foi revelado está escondido
E nem mesmo os mais sábios do mundo pode saber o futuro
Quando ninguém prestou atenção nas aulas de História
O destino é implacável com os ignorantes e imbecis
Que vivem atormentando nosso caminho o tempo todo.
Todas as esquinas temem os estranhos que se escondem
Porque haverá dias em que não poderão mais ver coisa alguma
Se o sol não pode parar a sua trajetória
Quem poderá esconder as violências cometidas nas penumbras
Quando ficaram de tocaias no único esconderijo possível.
Eu sou impuro quando declamo meus versos sentidos
Mas quem poderá refutá-los com alguma audácia que não é minha?
Se eu um dia parar de escrever minhas angústias noturnas
O mundo há de saber que já não estou entre os mortais
E, então, estarei de braços dados com a imortalidade.
O último suspiro precisa dizer alguma coisa importante
E por isso estou aqui dizendo essas palavras
Quando não se sabe exatamente quais serão as últimas
Abra o seu coração e deixe que elas saiam desfilando por ai
Como se fossem uma carta aberta ao mundo da imaginação.
Gaiolas de um quarto escuro sempre esconde algo cruel
Uma saudade perdida no tempo que vive a incomodar
Ou uma lembrança no profundo da alma que nos faz lembrar
Que um dia algo de bom aconteceu em nossas vidas
E que, por algum motivo banal, deixou de existir com o tempo.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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