HISTÉRICA, EUUUU?
Há muito que o termo “histeria” escapou do vocabulário médico e caiu no uso popular. E ainda hoje não é raro considerar-se o histérico como uma pessoa de má índole, problemática e fútil. Não é verdade. Ainda que devidamente classificada no CID-X (Classificação Internacional de Doenças, da OMS), a histeria é um traço de personalidade, um jeito de ser que talvez muitos de nós carreguemos sem perceber.É uma das formas mais conhecidas da neurose.
Outros profissionais de saúde, não psiquiatras ou psicólogos, podem, por uma questão até cultural, vir a rejeitarem o sujeito que assim se apresenta.
O que dificulta o entendimento da histeria como doença ou não, é que ela se apresenta, na maioria das vezes, uma sintomatologia sem nenhum substrato físico. São sintomas que se modificam ao longo do tempo e dos costumes e conveniências sociais. E se procurarmos os motivos pelos quais os histéricos recorrem a esses sintomas e os ganhos que obtêm com eles, talvez sejamos obrigados a concluir que todos nós temos um “quê” de histéricos.
Quadros histéricos são encontrados até nos papiros egípcios datados de 4 mil anos. Documentos dessa época (eu não estive lá, juro...) descreviam vários sintomas encontrados em mulheres, normalmente representados por dores em diversos órgãos, variando até a impossibilidade de abrir a boca, caminhar, mexer as mãos. E todos esses distúrbios eram remetidos a uma causa uterina. Daí, se explica a origem da palavra histeria, que etimologicamente vem de “ hystéra “, grego para”útero”.
Supunham na antiguidade, que este órgão era acometido de inanição, pasmem, por “descaso matrimonial”, ou até crueldade do destino, então deslocar-se-ia através do corpo feminino, prejudicando, ora aqui ora ali, o funcionamento dos diversos órgãos. O tratamento consistia em fazer o útero voltar ao seu local de origem.
Foi com o trabalho desenvolvidos com as histéricas na escola de Salpêtriére, junto com Charcot , que Freud criou a sua Teoria Psicanalítica.
No meu curso de formação em Hipnose Clínica, eu era uma das poucas psicólogas, em meio a um público de Odontólogos. Fui convidada pela orientadora do curso, Claúdia Maia, uma psicóloga brilhante, a dar uma aula sobre o tema, e logo arranjei um título bem criativo,: “Algumas considerações sobre a histeria – Transtorno de aspecto histérico ou histriônico”. A aula foi ótima, num tom bem-humorado, até que um aluno e colega, levantou um braço para fazer uma pergunta. Minha intuição já me dizia que iria me pôr em situação difícil. Perguntou-me então se eu, particularmente, possuía todos aqueles sintomas característicos da histeria, e em suma, se eu me considerava uma mulher histérica. Não tive dúvidas, armei uma cena; comecei a atirar sobre ele canetas, papéis, o apagador do quadro, tudo o que me caía nas mãos, enquanto respondia furiosa: - histérica, euuuuuu?
Nem preciso dizer que havia gente chorando de tanto rir.
Sandra Fonseca
Belo Horizonte, 27 de Fevereiro de 2009.
Fontes de pesquisa sobre o tema:
www.psiqweb.med.br
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