Tango
Tango Tango O último raio de sol ainda ilumina as largas ruas, as latinas e quadradas plazas de Buenos Aires fim de tarde. Edifícios dourado róseo resplandecem de brilho , pesadas construções de pedra, simbolismo Espanhol noutro lado do mundo. No colorido e caprichoso bairro de Boca lentamente vão-se juntando pessoas em círculos nas estreitas e sinuosas ruas ,indiferentes ao trânsito. Um par vestido de negro dança ao som do tango, peles morenas e transpiradas, concentração total no movimento e no momento dançam com a alma pungente das guitarras espanholas. Aos câmbios de ritmo pronunciado dos músicos o par responde com o corpo num frenesim exagerado de sentimentos e emoções e em sintonia com o catalogo de cores das ruas contagia o mais lúgubre transeunte acotovelado na calle Santiago. Raul e Constância conheceram-se nas docas e ainda poucas palavras tinham cruzado até os pés desenharem os sons invisíveis das ruas. O bar totalmente cheio e a canilha de chá-mate vazia levaram-nos para outras paragens mais afastadas do rio La Plata, tinham no corpo magro a maldição da música, dançar transportava-os através de dimensões cósmicas que outros seres vivos ignoravam. Constância andava pelos trinta e poucos anos de idade, tinha coxas sensuais e uma bela silhueta de bailarina, pescoço esguio, olhos muito escuros e pele bronzeada, movimentos largos e suaves que controlava perfeitamente enquanto as mãos com longos dedos deslizavam demoradamente pelo corpo de Raul. Este era um pouco mais novo, Marinheiro e homem curtido pelo mar, em cada porto procurava o calor ausente das brisas marinhas, também ele dançava por paixão ,em todos os cais e com todas as amantes ocasionais. O tango foi alucinante assim como o devaneio que os uniu por um instante, as horas pareceram-lhes ínfimas fracções temporais. De mão dada ignoraram a vaga multidão calada e tão breves como chegaram afundam-se na distância da rua. As laranjeiras baixas ocultam a noite e esta fecha-se em cheiros doces e sombras dúbias onde dançam macabras todas as dúvidas e fantasias. Mal pendurada na parede branca uma placa em ferro ferrugento denuncia “pension” algo mais indistinto ainda: “Toscânia”; no interior, um pequeno pátio em terra batida, com muitos vasos e quartos dispostos em quadrado, preenchem um ambiente floral italiano deslocado em estranha noite austral. Raul e Constância trocam as roupas escuras e usadas pelos alvos lençóis e dão-se com fúria de vendavais,até que o fulgor da chama finda e os seus destinos se afastam em silêncio e cúmplicidade….. (continua) Jorge.Santos
Submited by
Prosas :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 3080 reads
Add comment
other contents of Joel
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Ministério da Poesia/General | Um pouco de Tu-do | 0 | 3.118 | 03/05/2018 - 10:26 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Atravessar-te em festa. | 0 | 2.414 | 03/03/2018 - 21:39 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Morcego ou Gente | 0 | 3.015 | 03/03/2018 - 21:01 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | João Sente-Sóis. | 1 | 2.464 | 03/03/2018 - 16:51 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Imagino Qu’inda o amo. | 0 | 2.519 | 03/03/2018 - 12:58 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | O Homem é isto. | 0 | 1.738 | 03/03/2018 - 12:52 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | A tasca dos abissais… | 0 | 1.327 | 03/02/2018 - 17:09 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Zé Luís-Filho… | 0 | 2.967 | 03/02/2018 - 16:37 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | Tal me fez Pessoa | 1 | 4.096 | 03/01/2018 - 17:45 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | procissão | 1 | 8.601 | 03/01/2018 - 17:00 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | o corvo (adaptado) | 1 | 8.825 | 03/01/2018 - 16:39 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | greve | 1 | 3.686 | 03/01/2018 - 16:31 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Dedicada | nunca os dEUSES | 1 | 2.547 | 03/01/2018 - 16:11 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | quase | 1 | 6.613 | 03/01/2018 - 15:10 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Amistad | sei | 1 | 5.528 | 03/01/2018 - 12:51 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Tristeza | inspiração | 1 | 7.224 | 03/01/2018 - 11:31 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | quase | 1 | 12.901 | 03/01/2018 - 10:10 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | a um deus anão | 1 | 7.710 | 03/01/2018 - 10:09 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | Gautama | 1 | 3.478 | 03/01/2018 - 10:08 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | desafia-me | 1 | 7.133 | 03/01/2018 - 10:08 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | travesti | 1 | 4.669 | 03/01/2018 - 10:07 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | payote | 1 | 5.674 | 03/01/2018 - 10:07 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/General | leve | 1 | 3.182 | 03/01/2018 - 10:06 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Aforismo | juntei sobra | 1 | 5.644 | 03/01/2018 - 10:05 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Fantasía | tarou | 1 | 21.792 | 03/01/2018 - 10:05 | Portuguese |
Comentarios
As laranjeiras baixas ocultam a noite
As laranjeiras baixas ocultam a noite