Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético
MISTICISMO, MÍSTICA, MISTÉRIOS –
“porque existem mais mistérios entre o Céu a Terra do que sonha nossa vã filosofia ...” W. Shaekspeare.
Como ocorrido em tópicos anteriores, antes de abordarmos o Sistema Filosófico em si, estudaremos os termos ou nomes que lhes são relacionados.
MISTÉRIO – do Latim tardio “MYSTERIUM”, alteração do termo raiz: “MINISTERIUM” = trabalho, ocupação.
Mistério é, como se sabe, tudo aquilo que não pode ser compreendido. Que não é acessível ao intelecto humano. Em termos Religiosos (ou teológicos) é uma “Verdade Revelada”; isto é, uma Afirmativa, de suposta autoria divina ou sacra, que é mostrada ao Homem; e que só pode ser compreendida graças ao esforço conjunto de raciocínio e fé. É algo que vai além do que pode ser entendido racionalmente. Exemplo disso é o “Mistério da Santissima Trindade”, que os crédulos aceitam como verdadeiro mesmo sem compreendê-lo racionalmente.
Na Antiguidade, principalmente no Oriente, na Grécia e em Roma, existiram várias tendências Religiosas que eram envoltas numa atmosfera de segredo, com ritos secretos de iniciações, ou de celebração, além das outras práticas obscuras que envolviam seus dogmas em denso nevoeiro, só revelado aos membros graduados que passaram por um longo período de aprimoramento. Dentre outras, citaremos o Orfismo*, a Religião dos Ministérios de Elêusis e o Pitagorismo*, que foram as mais conhecidas. O Pitagorismo, aliás, é diretamente associado com a Filosofia Pré Socrática em razão de suas tentativas de explicar a Natureza física e pelas especulações que realizava na tentativa de compreender os significados da Realidade e da Vida.
Em termos coloquiais, a palavra “Mistérios” também é usada para identificar tudo aquilo que se acha oculto, que não é compreensível em qualquer aspecto da vida.
MÍSTICA – do grego “MYSTIKÓS”, pelo Latim “MYSTICUS”. Em sentido geral é o elemento, cujo agrupamento com outros iguais, formará o Sistema chamado de “Misticismo”.
A Mística é um conjunto de crenças em Seres, Objetos, Lugares cuja existência e realidade ultrapassam o nível da racionalidade, das práticas comuns do cotidiano. Geralmente esse conjunto é considerado oculto para a maioria e, consequentemente, acessível apenas para a “Elite de Privilegiados” cuja maior capacidade sensitiva (sic) lhes permite vislumbrarem “Verdades” que não estão disponíveis para os “comuns”. São, tais privilegiados, chamados de “Médiuns”, “Sensitivos”, “Videntes” “Profetas (izas)”, Sacerdotes (izas) e coisas do gênero. A Mística, além de ser disponível só para alguns, também se caracteriza por comandar de maneira irracional as ações do individuo crédulo e do grupo de que ele é parte.
Normalmente os Místicos Verdadeiros (e não aqueles que se dizem, por modismo ou para se locupletarem de vantagens indevidas) são pessoas extremamente religiosas, ou “Espiritualizadas”, como se auto definem. Buscam a Mística por acreditarem que nela encontrarão a “chave” para o sobrenatural, para o divino; como achava, por exemplo, São João da Cruz (1545/1591) que foi um dos maiores Místicos do Cristianismo.
A Mística, porém, encontra adversários ferrenhos, os quais dão ao termo um significado pejorativo quando o comparam com uma magia nefasta, ou a algo misterioso (ou pseudo misterioso) que exerce um fascínio pernicioso. Tem-se, então, a “Mística do Poder”, a “Mística do Ouro” etc.
MISTICISMO – é a doutrina daqueles que acreditam em outra Realidade, sobrenatural, metafísica, misteriosa e só acessível através de uma experiência extraordinária, que, via de regra, é chamada de “Êxtase Religioso”. Tal estado, que se aproxima do Nirvana1 hindu, é alcançado de várias maneiras, dentre as quais as mais comuns são:
1. ASCETISMO – como o total desapego das riquezas e dos confortos materiais.
2. AUTO-FLAGELAÇÃO – que pode estar inserida no item acima, Ascetismo, e que consiste de impor dor e sofrimento físicos ao próprio corpo, mediante jejuns, vigílias, açoites, cilícios e outros instrumentos de castigo.
3. PENITÊNCIA – a extremada penitência que pode estar associada aos dois itens anteriores. É formada pela rigorosa obediência ao que for estipulado por sua religião, ou seita, ou crença.
4. DROGAS – a ingestão de substâncias alucinógenas que produzem uma alteração na Consciência ensejando visões e sons sobre-materiais. Exemplos das mesmas são os “Peiotes” na América Central e no México, ou o “Santo Daime” no Brasil.
5. MEDITAÇAO INTENSA – a concentração intelectual extremada que é conseguida através de técnicas de meditação e que pode, ou não, estar associada à recitação de Mantras2, ou músicas espiritualistas (new agge), queima de incenso e outros rituais.
O Misticismo, como a Mística, é ferozmente combatido pelos adeptos do Racionalismo*, do Materialismo*, do Positivismo* e doutras tendências que crêem apenas naquilo que os Sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato) podem captar e o cérebro processar. Porém, nos últimos tempos, os cientistas, usando de modernos aparelhos hospitalares como a “Tomografia”, a “Ressonância Magnética” e outros, cientistas, puderam comprovar “cientificamente” que estados de meditação profunda, como os conseguidos por Monges tibetanos ou por Freiras católicas, alteram “materialmente” o mecanismo cerebral, deixando evidente que as censuras dos adversários do Misticismo terão que ser reformuladas; pois com o uso de seus próprios instrumentos “racionais”, os cientistas comprovaram que “janelas” são abertas e que, talvez em breve, a Física Quântica possa mostra o quê há além dessas “janelas”.
1) Nirvana - estado de "bem aventurança" que pode acontecer ainda durante a vida fisica daquele que consegue dominar suas paixões e libertando-se do jugo da "Vontade Insaciável". Normalmente é produto de uma vida ascética, piedosa e repleta de boas ações.
2) Mantra - silabas ou palavras que são recitadas em cadência apropriada para tornar o cerebro apto a entrar em estado de transe. Dentre todos, o mais conhecido é o Mantra hindu "AUM", cuja pronúncia é "OM", que simboliza a Divindade, a Eternidade.
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