A Jóia - Ato Primeiro - Cena III

Cena III

Valentina, Gustavo

Valentina (Apertando-lhe a mão)

- Não te esperava já, palavra de honra!

Gustavo - Já?

Querias que eu ficasse eternamente lá?

Valentina - Deste-te bem?

Gustavo - Então? Não vês como estou nédio?

Para o blazé não há mais eficaz remédio

do que passar um mês de vida regular

onde os prazeres são difíceis de encontrar.

O físico e o moral a roça purifica:

tens precisão também da roça, minha rica.

(Repoltreando-se na poltrona.)

Dize-me cá: tem vindo o deputado?

Valentina (Encostando-se ao espaldar da poltrona.)- Tem.

Gustavo - O João Ramos?

Valentina - E o Pimenta?

Valentina - Também.

Gustavo - Que bons amigos tens! Sou eu que tos arranjo!

Em consideração deves tomar, meu anjo...

Valentina (Descendo à cena.)

- Pois queres mais dinheiro?! És exigente.

Gustavo - Sou;

mas vê lá também a roda que te dou!

Valentina (Sentando-se à direita.)

- Não trouxeste o melhor dos que aqui vêm agora.

Gustavo - Quem é? Não é segredo?

Valentina - Um tipo que me adora!

Um fazendeiro rico e velho que supõe

ser ele só que os pés em minha casa põe.

Gustavo (Com interesse.)

- E onde foste encontrar esse tesouro raro?

Valentina - No Prado Fluminense. Eu vi-o, deu-me o faro,

sorri-lhe, ele sorriu-me... Eu dei-lhe o meu cartão..

Veio. Adora-me e... crê que tenho coração.

Gustavo - Um fazendeiro é mina; e quanto mais se explora,

mais ouro dá!... Pois bem, caríssima senhora,

- não é por me gabar - acredito que o seu

é muito bom, mas tenho um ótimo!

Valentina - Tu?

Gustavo - Eu.

Valentina (Erguendo-se.) - Onde ele está?

Gustavo (Idem.) - Depois... depois nós falaremos...

Valentina - Mas que custa dizer?

Gustavo - Tempo de sobra temos.

Valentina - Mas dize-me...

Gustavo - Não posso agora; logo mais

voltarei.

Valentina -‘Stás com pressa?

Gustavo - Estou.

Valentina - Aonde vais?

Gustavo - Subi só por te ver. Espera-me um amigo

que convidado está para almoçar comigo.

Valentina - Bem; vai e volta.

Gustavo - Dá-me uns cinqüenta mil-réis.

Valentina (Vai à secretária e conta o dinheiro.)

- Com muito gosto. É já... Dois, quatro, cinco, seis...

Dez e dez vinte, e trinta... Ah! Cinqüenta... Pega!

(Dá o dinheiro a Gustavo que o guarda.)

Gustavo - Obrigado. Até logo! (Sai por onde entrou.)

Valentina - Adeus. (Só.) Supõe-me cega...

Com tal balela quis uns cobres me apanhar!

(Fechando a porta.) Enfim... Vamos a ver... Bem posso me enganar.

Submited by

Jueves, Abril 16, 2009 - 00:31

Poesia Consagrada :

Sin votos aún

ArturdeAzevedo

Imagen de ArturdeAzevedo
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 14 años 23 semanas
Integró: 04/15/2009
Posts:
Points: 450

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of ArturdeAzevedo

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia Consagrada/Teatro Uma Véspera de Reis - Cena XVIII 0 466 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Uma Véspera de Reis - Cena XIX 0 686 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato Terceiro - Cena II 0 734 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato Terceiro - Cena III 0 609 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato Terceiro - Cena IV 0 1.078 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato Terceiro - Cena V 0 1.071 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato Terceiro - Cena VI 0 1.160 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato Terceiro - Cena VII 0 692 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato Terceiro - Cena VIII 0 876 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Uma Véspera de Reis - Introdução 0 730 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Uma Véspera de Reis - Cena I 0 467 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Uma Véspera de Reis - Cena II 0 551 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Uma Véspera de Reis - Cena III 0 1.030 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Uma Véspera de Reis - Cena IV 0 624 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro Uma Véspera de Reis - Cena V 0 586 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena V 0 535 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena VI 0 728 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena VII 0 743 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena VIII 0 696 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena IX 0 914 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena X 0 775 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena XI 0 815 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena XII 0 1.026 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena XIII 0 863 11/19/2010 - 16:53 Portuguese
Poesia Consagrada/Teatro A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena XIV 0 686 11/19/2010 - 16:53 Portuguese