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A Filha de Maria Angu– Ato Terceiro - Cena IV

Cena IV

Barnabé, depois Sampaio

(Barnabé entra correndo e também disfarçado.)

Barnabé - Uf! Eis-me enfim em Maria Angu... e quase reduzido a angu! Que é isto? ah! a festa!... Sarcasmo do destino!... (Pausa.) Quantas atribulações para um pobre barbeiro sangrador! No dia do meu casamento sangram-me o coração: prendem-me a noiva antes que eu a prendesse com os laços do himeneu! Sei que ela foge para a Corte, levada pelo subdelegado! Vou também para a Corte e tenho a satisfação de saber que ela não tinha fugido, mas fora apenas conduzida à presença do chefe de polícia. Não sei como nem como não, roubo uma pulseira, que é encontrada no meu bolso, prova cabal que a roubei... mas como? Mandam-me prender por Uns Soldados que são tudo menos Urbanos, e ferram comigo na estação dos ditos, na Travessa do Rosário. No xadrez encontro o Jerônimo, vulgo cabeçada, preso também por ter dado uma cabeçada num sujeito que lhe pilhou dando um beijo em sua mulher... (Como lhe devia ficar a cabeça!) O Jerônimo é um amigo velho; fui eu que lhe emprestei duzentos mil réis, quando residi na Corte, para prestar fiança quando quis ser condutor de bondes. Por sinal nunca mais vi a cor desse dinheiro! Levamos toda a noite a contar um ao outro nossas desventuras. O Jerônimo lembrava-se dos duzentos mil réis, e teve pena de mim... Tinha de sair logo de manhãzinha do xadrez, e, como não fazia muito empenho em tornar a ver a mulher, lembrou-se de me fazer sair em seu lugar. Vesti a sua roupa, ele vestiu a minha, pus o seu chapéu, e quando vieram soltá-lo, zás! por aqui é o caminho! Estava ainda no Largo do Rossio, quando ouvi gritar: “Pega! pega!” Pernas pra que te quero?! Olho um tílburi que saía! Brr... Entrei na estação... noutra, mas desta vez na da Estrada de Ferro... Felizmente o trem estava sai-não-sai... Em viagem lembrei-me de minha mala, mas o colete é o meu e os cobres cá estão... Chego a Maria Angu mais morto que vivo, e eis-me numa festa! Numa festa... E talvez a estas horas a minha Clara gema no ovo!... O ovo é o xilindró...

Sampaio (Entrando.) - Não a encontrei.

Barnabé - Vim buscar o auxílio de meus sogros e de minhas sogras, mas parece estar escrito no livro do destino que não há livro do destino que a aguarda!...

Sampaio - Já devem ser horas.

Barnabé - Vou procurá-los.

Sampaio - Vamos por outro lado... (Esbarram-se.)

Ambos - Você está cego?

Sampaio - Oh! que bruto!

Barnabé - Pra lá!

Ambos - Céus! Quem será?

(Afastam-se com medo um do outro.)

Sampaio - Quem será?

Barnabé - Quem será?

Ambos (À parte.) - Será, pois não! imensa asneira

Medo por ele aqui mostrar!

Eu vou, vou já, de um capoeira

As aparências tomar!

(Provocam-se como os capoeiras.)

Sampaio - Você não vê por onde anda!

Barnabé (À parte.) - Ai! que o sujeito é valentão!

(Alto) É que eu olhava pra outra banda...

Sampaio (À parte.) - Este indivíduo é fracalhão!

(Alto.) Zangado estou, e vou-lhe às ventas!

Barnabé (À parte.) - Se eu recuar, perdido estou!

(Alto.) Eu quero ver se tu sustentas

O que da boca te escapou!

Se não retiras a expressão

Fanfarrão!

Levas muito cachação!

Sampaio (À parte.) - Ele é valente! Haja prudência!

Barnabé (Avançando.)- Há de ter santa paciência:

Apanhas como ladrão!

Sampaio (Fugindo, à parte.) - Ele me quer limpar a roupa!

Barnabé (À parte.) - O fanfarrão tremendo está!

(Alto, avançando.) Fazer-te quero numa sopa!

Sampaio (Fugindo.) - Adeus, e fique-se por cá!

(Barnabé agarra-o pelas barbas, que lhe ficam na mão.)

Barnabé - Hein? Deixou de ser barbado!

Sampaio - Bico! Bico por quem é!...

Barnabé - Que vejo? O subdelegado!

Sampaio (Á parte.) - Conheceu-me! Passo o pé!

(Vai fugir.)

Barnabé - E eu cá sou o Barnabé!

Sampaio (Voltando.) - O Barnabé!

Juntos - Ah!ah!ah!ah!ah!ah!ah!

Estou aparvalhado!

Caso mais engraçado!

Decerto que não há!

- Ah!ah!ah!ah!ah!ah!ah!

Sampaio - Mas como pode isto ser? Eu supunha-o preso!

Barnabé - Preso não estou; estou apenas surpreso! (Lembrando-se.) Mas... oh, meu Deus... dar-se-á caso que Vossa Senhoria queira catrafilar-me outra vez? Acredite que estou inocente!...

Sampaio - Descanse. Folgo até de encontrá-lo aqui.

Barnabé - Por quê?

Sampaio - Quer me parecer que nós somos enganados...

Barnabé - Vossa Senhoria, quando diz “nós”, fala como autoridade, ou refere-se a mim também?

Sampaio - Falo como barbeiro. Vejamos se alguém nos ouve... (Sobem a cena e observam, um à direita, outro à esquerda. Sampaio põe as barbas.)

Barnabé - Senhor subdelegado, onde está Vossa Senhoria? Ah! Cá está! Com as barbas já não o conhecia! (Clarinha aparece ao fundo e aí se conserva.)

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quarta-feira, abril 15, 2009 - 22:30

Poesia Consagrada :

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ArturdeAzevedo

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