Cancioneiro - Intervalo

Intervalo
Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado —
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca —
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.

Fonte: http:// www.ciberfil.hpg.ig.com.br

Submited by

Martes, Octubre 6, 2009 - 16:14

Poesia Consagrada :

Sin votos aún

FernandoPessoa

Imagen de FernandoPessoa
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 14 años 23 semanas
Integró: 12/29/2008
Posts:
Points: 745

Comentarios

Imagen de Joel

Breve, o dia em que decidi ser alguma coisa,

Breve, o dia em que decidi ser alguma coisa,
Espuma de mar cavado na sarração do vento.
Acordo no meio de uma conspiração d’ondas e horas
E dedico os últimos minutos a tentar definir o tempo

E lembro-me de não querer ser capitão d’coisa alguma
Sobretudo no dia de hoje que acabará d’manhã bem cedo,
Ainda me pus a olhar o futuro, sem solução à vista ou relógio d’pulso
E, na vigia baça da embarcação, abocanho um curto sonho,

Um sonho em vão, de quem espera horas e horas o fio,
Mas breve, breve como as ondas no bojo preto deste navio
Cargueiro. Vi passar o rápido, das nove e um quarto,
Branco, branco…Tinha na face, a expressão da glória antiga,

E eu aqui no porão, como um rato num ínfimo labirinto,
Hostil e angustiado sob o peso da máquina universal do atraso.
Ah, se eu estivesse atrasado dezoito horas na vida,
Começava tudo outra vez, à meia-noite e vinte em ponto

E seria mais um livro, posto na prateleira, sem paciência
Pra ser lido, contudo, sinto-me vivo como um nado-morto,
Embalado pelo dever de viver, ao lado de cada dia, de cada segundo,
Sem força para detestar tudo o que me é imposto,

Pela absurda tripulação de estibordo.
Ah, se eu tivesse ambição, provocaria um motim de praças
E partiria de malas feitas, por esse mundo sem fim,
Decerto seria alguma coisa, com mais sabor que não engodo

De peixe balão, batata de sofá, asceta gordo de time-sharing
Ou marajá da sanita. Descubro que sou, metade, tempo perdido,
Metade, escrita ilúcita e imaginação no intervalo, mudo de cor,
Ao estilo de camaleão do campo… sem título.

Breve, o dia em que decidi ser, coisa alguma,
Um zero, num fim metafórico de cena, uma réplica de sino,
Uma causa pequena, onde o vento, faz tempo não sopra
E dedico os últimos minutos, A TENTAR DEFINIR A ESPERANÇA.

Joel Matos
(01/2011)
http://namastibetpoems.blogspot.com

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of FernandoPessoa

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - A 'sperança, como um fósforo inda aceso 0 1.186 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - A tua voz fala amorosa... 0 1.678 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Aqui está-se sossegado 0 1.302 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Aqui neste profundo apartamento 0 1.010 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General Poesias Inéditas - Árvore verde 0 1.039 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM IV 0 861 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM V 0 1.040 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM VI 0 1.401 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM VII 0 824 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM VIII 0 934 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM IX 0 1.428 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM X 0 1.244 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM XI 0 780 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM XII 0 961 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM XIII 0 1.078 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM XIV 0 947 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM XV 0 545 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM XVI 0 529 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM I 0 1.056 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM II 0 1.232 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPITHALAMIUM III 0 597 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia/Meditación Tudo que faço ou medito 1 1.543 03/02/2010 - 04:35 Portuguese