Balada do mau amor (José Ángel Buesa)
Que lástima, garota,
que não te possa amar.
Eu sou uma árvore seca que só espera o machado,
e você um arroio alegre que sonha com o mar.
Eu joguei minha rede no rio…
Rompeu-se a rede…
Não junte teu vaso cheio ao meu vazio,
pois se bebo em teu vaso vou sentir mais sede.
Beija-se pelo beijo,
por amar o amor…
Esse é teu amor de agora, mas o amor não é esse,
pois só nasce o fruto quando morre a flor.
Amar é tão simples,
tão sem saber por quê…
Mas assim como perde a moeda seu brilho,
a alma, pouco a pouco, vai perdendo sua fé.
Que lástima, garota,
que não te possa amar!
Há velas que se rompem à primera rajada,
e há tantas velas rasgadas no fundo do mar!
Mas ainda que toda ferida
deixe uma cicatriz,
não importa a folha seca de uma rama florida
se a dor dessa folha não chega à raiz.
A vida, chama ou neve,
é um moinho que
vai moendo em seus braços o vento que o move,
triturando as recordações do que já houve…
Já o meu foi meu,
e agora vou ao azar…
Se uma rosa é mais bela molhada de orvalho,
o golpe da chuva a pode desfolhar…
Tive um amor covarde.
O tive e o perdi…
Para teu amor prematuro já é demasiado tarde,
porque na minha alma anoitece o que amanhece em ti.
O vento enche a vela, mas à esfiapa,
e a água dos rios se faz amarga no mar…
Que lástima, garota,
que não te possa amar!
José Ángel Buesa (1910-1982), poeta cubano, de estilo romântico e sensual, começou a escrever poesias aos 7 anos de vida.
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