Todos os dias descubro... (Octávio Paz)

Todos os dias descubro
A espantosa realidade das coisas:
Cada coisa é o que é.
Que difícil é dizer isto e dizer
Quanto me alegra e como me basta
Para ser completo, existir é suficiente.

Tenho escrito muitos poemas.
Claro, hei de escrever outros mais.
Cada poema meu diz o mesmo,
Cada poema meu é diferente,
Cada coisa é uma maneira distinta
de dizer o mesmo.

Às vezes olho uma pedra.
Não penso que ela sente
Não me empenho em chamá-la irmã.
Gosto porque não sente,

Gosto porque não tem parentesco comigo.
Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena haver nascido
Só por ouvir passar o vento.

Não sei que pensarão os outros ao lerem isto
Creio que há de ser bom porque o penso sem esforço;
O penso sem pensar que outros me ouvem pensar,
O penso sem pensamento,
O digo como o dizem minhas palavras.

Uma vez me chamaram poeta materialista.
E eu me surpreendi: nunca havia pensado
Que pudessem me dar este ou aquele nome.
Nem sequer sou poeta: vejo.

Se vale o que escrevo, não é valor meu.
O valor está aí, em meus versos.
Tudo isto é absolutamente independente de minha vontade.

Octavio Paz, poeta espanhol, "Todos los días descubro..., Según un poema de Fernando Pessoa."

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina).


 

Submited by

Sábado, Febrero 26, 2011 - 18:35

Poesia :

Sin votos aún

AjAraujo

Imagen de AjAraujo
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 6 años 44 semanas
Integró: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of AjAraujo

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Intervención A uma mendiga ruiva (Charles Baudelaire) 0 11.271 07/03/2014 - 01:55 Portuguese
Poesia/Intervención Coração avariado 1 4.788 06/25/2014 - 02:09 Portuguese
Poesia/Fantasía Flores bonecas 2 3.397 06/24/2014 - 19:14 Portuguese
Poesia/Intervención Caminho de San Tiago 0 4.372 06/23/2014 - 23:31 Portuguese
Poesia/Soneto Há em toda a beleza uma amargura (Walter Benjamin) 1 4.633 06/20/2014 - 20:04 Portuguese
Poesia/Soneto Vibra o passado em tudo o que palpita (Walter Benjamin) 1 4.677 06/19/2014 - 22:27 Portuguese
Poesia/Meditación Sonhe (Clarice Lispector) 1 5.391 06/19/2014 - 22:00 Portuguese
Poesia/Intervención Dá-me a tua mão (Clarice Lispector) 0 4.979 06/19/2014 - 21:44 Portuguese
Poesia/Intervención Precisão (Clarice Lispector) 0 6.143 06/19/2014 - 21:35 Portuguese
Poesia/Meditación Pão dormido, choro contido 1 3.376 06/13/2014 - 03:02 Portuguese
Poesia/Fantasía A dívida 1 3.878 06/12/2014 - 03:52 Portuguese
Poesia/Intervención Eco das Ruas 1 2.558 06/12/2014 - 03:38 Portuguese
Poesia/Aforismo Maneiras de lutar (Rubén Vela) 2 4.399 06/11/2014 - 10:22 Portuguese
Poesia/Aforismo O médico cubano, o charuto e o arroto tupiniquim (cordel) 2 6.344 06/11/2014 - 10:19 Portuguese
Poesia/Intervención Espera... (Florbela Espanca) 0 2.701 03/06/2014 - 10:42 Portuguese
Poesia/Intervención Interrogação (Florbela Espanca) 0 4.131 03/06/2014 - 10:36 Portuguese
Poesia/Intervención Alma a sangrar (Florbela Espanca) 0 2.952 03/06/2014 - 10:32 Portuguese
Poesia/Soneto Vê minha vida à luz da proteção (Walter Benjamin) 0 2.748 03/03/2014 - 12:16 Portuguese
Poesia/Dedicada Arte poética (Juan Gelman) 0 3.680 01/17/2014 - 22:32 Portuguese
Poesia/Dedicada A palavra em armas (Rubén Vela) 0 2.841 01/17/2014 - 22:01 Portuguese
Poesia/Fantasía A ÁRVORE DE NATAL NA CASA DE CRISTO (FIODOR DOSTOIÉVSKI) 0 2.529 12/20/2013 - 11:00 Portuguese
Poesia/Dedicada Aqueles olhos sábios 0 4.528 10/27/2013 - 20:47 Portuguese
Poesia/Pensamientos Asteróides 0 3.103 10/27/2013 - 20:46 Portuguese
Poesia/Pensamientos O que se re-funda não se finda 0 3.983 10/27/2013 - 20:44 Portuguese
Poesia/Intervención Para mim mesmo ergui…(Aleksander Pushkin) 0 3.213 10/15/2013 - 23:14 Portuguese