Obsessão

Num quarto escuro, fechado, silencioso
só iluminado por um candeeiro duvidoso
vive um escriba viciado em criar poesia
meditar nas asas dum dragão na fantasia
só sai durante a noite para viver a vida mundana
para sorver o que mais podre há da essência humana
e transforma-a em rimas benéficas e medicinais
por instinto ou por consciência sabia ler os sinais
os seus amigos era raro ver durante meses a fio
sempre fiel à rotina esteja sol, neve ou frio
vivia no meio de canetas, papéis e dicionários
livros e livros sobre os maiores revolucionários
só se fazia acompanhar de café para se manter acordado
quando saia à rua a luz fazia transparecer a sua cara de assustado
olheiras enormes coloriam a sua pele envelhecida
mas por dentro de si habitava uma mente estimulada e guarnecida
guardava os seus escritos religiosamente numa gaveta refundida
mal se via por causa da lâmpada do quarto estar fundida
a sua mãe doméstica de profissão vivia na preocupação
sem saber em ponto estava a decorrer a sua evolução
a degradação do seu filho era cada vez maior
sem saber que ele voava ao escrever nas asas de um condor
sem patrocínio só paixão selvagem e sem barreiras
a escrita não tem limites quando o autor não tem fronteiras

........
Passados 2 anos...


Este rapaz começou a divulgar as suas obras
poesia de paz e amor sem rancor ou cobras
sem pensar no sucesso ou vantagem monetária
para ele partilhar cultura era questão humanitária
mas a sua praia era o seu predilecto quarto mágico
lá montava defesas para evitar qualquer desfecho trágico
à média luz iluminando apenas uma folha branca
avizinhava-se uma torrente de sabedoria franca
arrobas de versos decoravam este papel cavalinho
fazia tanto uns assombrosos como outros com carinho
panóplia exacerbada de metáforas e paisagens mentais
mas a verdade e a humildade eram pontos fundamentais
o seu sucesso cresceu de forma gradual e proeminente
e o seu vicio cada vez se tornava mais impertinente
engolia-o numa rotina puramente artística e literária
reduzindo o espaço já ínfimo para uma vida mais arbitrária
como um monge vivia em exclusivo para uma só causa
a mil à hora num destino egocêntrico sem qualquer pausa


passados 6 meses
......

O seu corpo estava magro, frágil e sem defesas
eram vários os maços de tabaco e filtros de canetas nas suas mesas
afastado das lides sociais e sem real percepção do seu sucesso
a sua exaustiva dedicação à escrita deixava o seu rol de amigos perplexo
a ideia de melhorar cada vez mais era a força motriz da sua vivência
antigamente era paixão agora tomou contornos de dependência
a sua mãe faleceu entretanto fazendo-o aumentar ainda mais a reclusão
dentro do seu cubículo onde tudo tinha inicio mas não tinha conclusão
desnutrido de nutrientes e proteínas, alimentava-se de literatura
comia só o essencial e devorava livros e artigos para poder estar à altura

 

Passados 4 meses...


Muito débil e vulnerável a doenças
sem ninguém ao lado para o defender das suas desavenças
com o destino que lhe era vadio e libertino
onde ele só queria cumprir o seu sonho de menino
nas semanas posteriores o estado de saúde foi-se deteriorando
cada vez mais fraco e pálido, o seu hipotálamo foi piorando
os versos já não saiam tão fluídos como outrora
o vírus vai-se alastrando quando a ajuda demora
às 2:03 da madrugada foi encontrado deitado na cama
sem pulso, sem cor, lívido e sem expressão, sem alma
totalmente esgotado, tinha usado todas as forças na arte
foi-lhe fatal a sua mania sórdida de ser por à parte
o seu nome foi carimbado em escritos em série
mas o seu corpo foi levado pelo diabo para a intempérie
agora só resta aos amigos o seu legado
carinhosamente por si com minúcia delegado
para ser expandido e divulgado aos sete ventos
nas maiores feiras ou nos mais culturais eventos
na frase mais assustadora ou na metáfora mais bonita
o que transparece em realce neste poema é o amor à escrita!
 

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Viernes, Mayo 6, 2011 - 02:40

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Famaz

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Prometo ler amanhã, está muito longo o texto para essa hora!

Marne

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