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Ao jantar...
Sentados à mesa, composta de uma vasta panóplia de cores e sabores, a refeição estava a meio e a garrafa molhada, suada do gelo que a cobria e pingava, observava a linguagem silenciosa que trocavam, somente com o desejo como som de fundo.
Largavam-se sorrisos tímidos e piadas sem graça na tentativa ridícula de disfarçar a óbvia ânsia pelo toque. Hábeis jogos camuflados de sedução…
Deu-se uma pausa na fútil conversa que ninguém tomava atenção por estar demasiado penetrado na fantasia que os envolvia e após um curto silencio, uma subtil mas desesperante pergunta foi exposta:
-“Em que pensas?” – Perguntou ele.
Tudo parou naquele momento de expectativa... Devorava ansiosamente a imagem feminina que se sentava diante dele. Alimentava-se mais daquela deslumbrante vista que do próprio banquete exposto na mesa, meio consumido ainda.
Ela, em resposta e sem ter sequer tempo para ponderar em palavras que traduzissem o que estava a pensar;
Cabisbaixa, desviou o olhar do copo meio vazio que fixava e inclinou ligeiramente a cabeça para a esquerda deixando deslizar os cabelos descobrindo-lhe a face por completo, olhando para a sua direita, onde ele se encontrava. Seus olhos denunciavam o farto consumo daquele vinho geladamente pecaminoso. O olhar de um misto de antagónica inocência e de um total desejo carnal por aquele ser diante dela. Muito vagarosamente, como que em câmara lenta, o seu braço elevou-se da mesa onde repousava. Os olhos dele sem abandonar os olhares que se entrelaçavam, pelo canto do olho, tomavam atenção aquele lento gesto que, esperava, lhe responderiam à pergunta.
À medida que o braço se elevava e curvava, um dedo sobressaía dos outros, ficando o punho semicerrado.
Enquanto a mão se aproximava da boca, os lábios descolavam-se, permitindo que os dentes espreitassem o dedo a aproximar-se. A língua molhou os lábios, carnudos como uma serpente. Com os olhos fixos nos dele, ela mordeu ao de leve o dedo e pestanejou demoradamente. As pálpebras fecharam-se e ao subirem revelaram o branco do olho até que a pupila se desvendou, os olhos pareciam revoltos de prazer. Os dentes libertaram a ponta do dedo que depois se passeou pela textura polposa daqueles lábios libidinosos.
Ele ao ver o pormenor daquele movimento, notando a fálica ponta do dedo tão húmida que reflectia a luz emanada pelo candeeiro antigo que pairava sobre eles, arregalou os olhos e esboçou um sorriso quase demoníaco, ergueu o braço em direcção ao garçon e quando este os abordou, só disse:
“-A conta por favor!”
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