Castelos Nocturnos de Desejos Ilusórios

novamente partes aventureiro
na senda de ternura...
mentes a ti (e aos outros),
juras que só te interessa
o prazer!

à noite não se notam tanto
as máscaras,
e os olhos ébrios... disfarçam
hipocrisias, cinismos
ou outras hipotéticas arrelias.

será que procuras sempre
uma paixão fatal?
tão dormente
e tão letal,
que ao outro dia docemente
desvanece?
(fecha a porta desaparece.)

porque imaginas no silêncio,
doutro cigarro (qual Platão)
um reino secreto,
(não de ideias imortais)
mas de luxúria...?
e ao mesmo tempo
inventas
outro nobre sentimento.

esquece agora tudo:
a dor que não existe,
o prazer que te fez triste,
apaga quaisquer mágoas da lembrança.

nem sequer te assustes com
a aparição pungente da morte
e deixa os fantasmas descansar.
pé ante pé, poderás agora entrar,
no castelo dos teus desejos,
hedonistas mas benfazejos,

sem culpa, sem perdão,
sem mácula de pecado,
sem sequer etéreos mitos
de outra extraordinária concepção.

nesta alcova só nossa
somos deus e deusa
de nós mesmos,
fingimos que morremos,
depois contamos segredos
e nunca precisamos de
ressuscitar
ou de omitir
qualquer anseio.

fica agora aqui neste
regaço,
já que no poema te prendi,
não desates esse nó
(e a sós) dá um laço...

a luz tranquila de Apolo
invadiu o teu castelo
e Eolo, numa só rajada,
abriu as janelas
deste quarto.

a noite já acabou,
termina também
o pesadelo encantado
do teu corpo...

Acorda,
apaga o cigarro.