CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

A tempestade

A tempestade

Começa lentamente, sem fazer barulho, como uma chuva fina que toma aos poucos a cidade. Um murmúrio que pouco a pouco ocupa os espaços e seduz os ouvidos. Sem se dar conta de que o tempo passa e mesmo assim tudo parece estático, sem movimento, sem vida, apenas olhares fixos e fiéis, em vislumbrar o nada.

Existe alguns poucos que ao perceberem se levantam e caminham até a janela, apoiando no parapeito o que resta de dignidade e há quem diga é apenas mais um dia e continuam trocando passos com uma vida sofrida.

Mensageiros com palavras embriagadas que seduzem, pensamentos e objetivos que distorcem. Mentes que estão secas, não são capazes de manter a sanidade, tão pouco uma visão clara, pois a chuva, turva os olhos e a razão.

Erros que se repetem sem parar, sem pensar, muda-se os nomes, os motivos, troca-se símbolos mas a sede é a mesma, a vontade é a mesma e a luz temporária serve apenas para disfarçar a escuridão.

A chuva parece acalmar, saciar o ego de quem com um guarda-chuva, oferece abrigo, gestos sutis em forma de afago, para mostrar-se útil, deixando molhar apenas o que lhe convém. Escondendo sem que notem, a dependência que se forma, como um elo, entre vida e morte.

Em meio a tanto pensar… cala! Porque sabe que a palavra é mordaça, é arma para quem vive da força dos outros, para aqueles que ouvem a chuva e distorcem o trovão. A tempestade abafa as palavras, e sem elas acaba-se lentamente perdendo a sensatez.
O que era suave se torna agressivo, o que era apreciado, se torna motivo de medo, sem se dar conta, a água que traz consigo vida, também é capaz de causar morte.

Os becos começam a ter seus espaços tomados, pobres miseráveis a margem de tudo, são levados a força. O que antes refrescava, agora pela quantidade de lamentos que trazem consigo, destrói.

Os murmúrios da cidade, que cercada por barreiras mentais, apenas se enxergam  pichadas, palavras antes de ordem, mas agora com a realidade tomando as ruas, vilas e bairros, se tornam sem nexo. Frases que são levadas pelas águas, o que era esperança agora se torna caos.

Os corpos enrugados apodrecem lentamente, pois não é possível construir jangadas com ilusão, a festa que se fazia com o chuvisco agora é luto. Lentamente as vielas começam a secar, os prédios e árvores, castigados pela umidade começam a receber raios de luz.

Pessoas que se encontravam isoladas, sem noção do que acontecia, envolvidas pelo diluvio, aos poucos tomam as ruas. Os seres que vendiam as boas novas com a chegada da garoa, se encontravam acoados, dizendo não compreender a destruição causada.

Pessoas envolvidas antes pela seca, agora não desejavam mais sentir o sabor da abundante água. Os mensageiros ainda praguejavam suas doutrinas para que o vento ainda pudessem espalhá-las, em vão. Pois poucos desejavam se afogar em pequenos milagres que ouviram falar em velhas histórias.

Os livros e jornais não existiam mais, molhados acabaram perdendo a utilidade. Não havia registros do que aconteceu, tudo parecia aos poucos, uma lenda que se conta em conversas de terror. Mesmo que naquele momento, tais pessoas haviam compreendido que palavras suaves, não são capazes de compreender a dor.

Nunca mais se ouviu falar dos mensageiros, volta e meia algum visionário misturava palavras com o que aconteceu, tentando mostrar uma nova forma de saciar a sede. Em vão, pois corpos afogados apenas desejavam a dosagem certa.

Alguns murmúrios, soltos com o vento, correm as ruas insinuando que em algum outro lugar, ameaça ser tomado pela garoa que se torna tempestade. Mesmo que o tempo demonstre, algumas civilizações precisam passar pela ilusão. Para aprender a nadar é necessário não ter medo de se afogar.

Submited by

quinta-feira, março 31, 2016 - 23:26

Críticas :

No votes yet

Pablo Gabriel

imagem de Pablo Gabriel
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 2 anos 48 semanas
Membro desde: 05/02/2011
Conteúdos:
Pontos: 2944

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Pablo Gabriel

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Críticas/Outros Conteúdo Expresso 0 1.120 08/19/2013 - 18:12 Português
Poesia/Meditação Liberdade assistida 0 1.316 08/19/2013 - 14:17 Português
Críticas/Outros Ensaio sobre a razão 0 2.305 08/17/2013 - 15:22 Português
Fotos/Outros Amores simples 0 2.407 08/16/2013 - 17:05 Português
Poesia/Meditação Lá fora! 0 1.054 08/15/2013 - 14:52 Português
Críticas/Outros Indi(Gente)! 0 1.545 08/13/2013 - 18:05 Português
Fotos/Outros Nunca, amor de vitrine 0 1.085 08/08/2013 - 19:32 Português
Críticas/Outros Você já fiscalizou seus gastos hoje? 0 2.064 08/08/2013 - 15:30 Português
Poesia/Alegria Em algum momento 0 1.680 07/30/2013 - 19:07 Português
Poesia/Alegria Caixa de sentimentos 0 1.717 07/29/2013 - 14:45 Português
Poesia/Meditação Passa 0 1.015 07/26/2013 - 17:45 Português
Poesia/Meditação Mulher 0 877 07/25/2013 - 18:03 Português
Poesia/Meditação Memorias 0 808 07/25/2013 - 15:09 Português
Prosas/Outros Reunião de condomínio 0 1.442 07/16/2013 - 21:10 Português
Prosas/Outros O garçom corno 0 1.708 07/15/2013 - 15:20 Português
Poesia/Amor Em algum lugar 0 680 07/12/2013 - 18:31 Português
Prosas/Outros Puta Velha 0 1.799 07/09/2013 - 14:48 Português
Poesia/Meditação sensibilidade bruta 0 559 07/08/2013 - 16:38 Português
Fotos/Outros Possibilidades 0 905 07/02/2013 - 18:49 Português
Poesia/Meditação Romper 0 981 07/02/2013 - 16:51 Português
Fotos/Outros O mapa 0 979 06/29/2013 - 21:37 Português
Poesia/Amor Todo coração 0 759 06/28/2013 - 21:37 Português
Poesia/Meditação Sapatos soltos 1 951 06/21/2013 - 00:17 Português
Poesia/Meditação Marcas 0 768 06/18/2013 - 19:53 Português
Poesia/Amor Intimo 1 571 06/16/2013 - 17:30 Português