AMOR RASGADO

Por que me traíu o amor?
Por que me feriu,
Se vestiu de fingidor?

Por que me olhou com desdém,
Me tomou como refém,
Me usou em seu proveito,
Me subjugou no leito,
Sem me cantar poesias,
Sem me pintar maresias,
Sem me ofertar rosas rubras,
Só me permitindo as sobras?

Por que me prendeu a ferros
E me inventou mil erros,
Sem me julgar na razão,
E me fingiu um perdão
Sem eu pedir ou querer,
Por não ter o que absolver?
Por que perdoei demais,
Por que prendi os meus ais?

Por que fez de mim um trapo
E usou os meus farrapos
Para limpar suas falhas,
Para polir as batalhas
Em que se logrou vencedor,
Por força do meu pavor?
Por que não domei a Vida,
Sem medo de ficar ferida?

Por que me anulaste, amor?

Mas, sabes...

Não te condeno ainda,
Nem sequer na vida finda,
Porque extraí de ti o melhor,
O mais supremo Amor
Que, como Mulher, pude ter,
E me foi dado colher:
Meus frutos, milagre meu,
Que o Céu me concedeu...!

(...Em troca de um terço meu...)