Arado Moderno

Na rua da minha casa
Ainda estrada de chão
Passa ao final da tarde
Uma velha e seu cão

Um lenço cobre a cabeça
No pé um sapato cortado
Um cachorro e um carrinho
Diferente de um arado

É uma carroça pequena
Feita de tábua e ripão
Mas quem puxa não é boi
Nem cavalo alazão

Por fracas mãos enrugadas
Esta carroça é puxada
E segue devagarinho
Pela rua esburacada

Não carrega espiga de milho
Nem mandioca nem verdura
É uma carga muito alta
Não sei como a velha segura

A carga tão colorida
Que confunde a expiação
Garrafa, lata, papel
Caixas de papelão...

E a velha segue a estrada
Com olhar indiferente
É o cansaço desta vida
É a garra desta gente

O cão caminha ao lado
Devagar, acompanhando
Segue sua dona em silêncio
E em silêncio vão passando

Quantas coisas já viveram
A velha e o cão fiel
Uma velha e um cachorro
Catadores de papel.

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