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Cova

No espaço compacto com cortinas fechadas
pela carpete lúgubre mórbida
morre lentamente a carne vagarosa
numa antropofagia própria de uma permanência esquisita
na qual os pedaços inteiros verdadeiros
encetam o estado limitativo ao iniciado
pois estão cansados.
Brotam deles
pingos de animal enjaulado
areias movediças de pântano
detritos viscosos não identificados
restos de pele esfolada
miasmas com asma
memórias
memórias
fios de sangue pelos cantos da boca.


Na sombra comprida de um passeio sujo
passa o homem inválido imundo
acossado de dores
repleto de neurónios em decadência
de insónias provocadas pelas horas da resposta.
As pernas não respondem satisfatoriamente
estão cheias de varizes verdes
o nariz e as orelhas têm pêlo grosso e saliente
as mãos têm tremores de impossível controlo
uma das pestanas é atravessada por uma cicatriz sem nexo.
Procura o espaço exacto para divagar
uma penumbra para esconder deficiências.
Assíduo ataque de fúria solitária e desordenada
assídua prostração calada no banco de jardim abandonado.
Circunscrevem a área
os seus olhos em forma de cova.


Predomina a perplexidade no horizonte
à frente do sono
e da luz
que se deixa a trabalhar à noite
para que a criança possa dormir com menos medo.
Um vórtice de granizo poluído
esbate incessantemente na portada da casa pequena
as tábuas da cama saltam em movimentos vigorosos
as obras decorativas, colocadas com precisão e ordem
caem desajeitadamente
e o seu aspecto fica irreconhecível.
O que outrora se aplaudia
torna-se desprezível como o ar que a viúva-negra respira todo o dia.


A licença para o sonho
são brechas minúsculas de sono
um copo na mão é um puzzle de cacos
a ferida do dia é um precipício cheio de dentes de crocodilo
a contemplação é um empurrão à queima-roupa
o acolhimento é uma praxe académica
os rodopios em reuniões sabáticas
são unhas cheias de marcas indicadoras de falta de cálcio
a sala de espera do hospital público
é uma borbulha inchada prestes a espirrar pus
o topo branco da ascendente montanha
é um tesouro pirata perdido nos calendários de parede
o carrossel do parque infantil
é uma tortura da inquisição medieval
o aquecedor no quarto
é um monstro devorador a rosnar
a vitória sobre a dúvida
é uma tarde passada na cinzenta labuta.
As saídas estão repletas de suicidas
e um féretro mal fechado anda muitos quilómetros de distância assim.
Ácidos incompatíveis são misturados
cada um é possuidor de uma faca de dois gumes
na autópsia mexe-se naquilo que não se podia tocar
a terra engole a água e fica imediatamente seca
sintomas de doenças contagiosas circulam por aí
uma horta de choques eléctricos é plantada
a pisadura salta como uma mola da caixa fechada
a vontade de morrer devagar morre depressa
as avenidas fazem das carícias berros silentes.
Raramente a fúria sabe o que é esperar.


Lestas fissuras no vasto campo dos sentidos
rápida necrose a esventrar zonas corporais
mau estar incontido na ameba do zoom máximo.
Nenhuma outra agrura teve tanto ruído
nenhum réptil rastejou tanto na rocha.
Um delírio lírico idílico foi criado
e agora traça-se uma sangrenta porta para outro mundo
sentido de uma maneira feroz.
A aurora é um carrapato
a muralha da China é debilidade
a flor de jasmim exala a lixo de há uma semana
o chá de limão sabe a salmonelas
agarrar o dia não adianta
quando o canário abre o bico é preciso fechar os ovários.
Circunscrevem áreas
os olhos em forma de cova.

 

http://cova-miguelsalgado.blogspot.com/

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domingo, agosto 14, 2011 - 15:28

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