De Profundis

Das profundezas da minha alma eu proclamo:

“Embarquei a teu lado na viagem pelo Oceano da Insídia em busca das terras prometidas num asco desejo pela fortuna.

Terras prometidas sem horizonte, sonhos arquitectados nos alicerces da utopia. Peço-te… não digas mais nada.

Como te repugno.

Como me desprezo por um dia ter rastejado sob o fulgor do teu olhar, sob o sorriso impetuoso da tua boca formosa.

Agora sei. Nada vales. Lixo. Apenas lixo. Coração consumido pela superioridade de uma alma em decadência. Lixo!

Quando tudo o que precisas para te sentires Alguém se resume a superficialidades corrompidas pelo beijo narcísico dos teus lábios.

Mas diz-me... Quando o Sol rompe pelo céu numa manhã límpida primaveril e te olhas ao espelho, o que vês? O que sentes quanto te despes por completo? Lixo!

O que sentes quando as superficialidades ficam, momentaneamente, para trás? Repete comigo... Lixo!

Talvez um dia, quando sentires a pele a putrificar e te agonizares a cada segundo que passe num tempo eterno, te recordes daquele que por ti morria. Daquele que por ti tudo repudiava até ao limite do real.

Aí talvez compreendas como se edifica a palavra «amor» em toda a sua tonalidade.

Agora limita-te a apodrecer.
Transpira todo o lixo que há em ti… e dissipa-te.”