Diz-me

Tu que tens a transparência
Do rio da minha aldeia
E a altivez de todas as serras
Que me abraçam sem receio

Diz-me como sair desta melancolia
De não conseguir alcançar
O meu pensamento
E deixá-lo suspenso
À espera do vento

Tu que és a outra parte de mim
Aquela que me guia
Por estradas invisíveis
Do Ser...

Diz-me como sentir o que digo
Sem a dureza dos dias
Que as duas, seremos
A concepção de um mundo
Liberto de fantasias

Tu que num simples gesto
Me fazes pensar
Como sou pequena
Até no segredar...

Diz-me como viver de aparências
Que nos levam por estradas desertas
Sem estrelas a brilhar
E ficamos só
Com algumas plumas a esvoaçar

Tu que és um vulcão
Num mundo onde,
Já não há lava no chão...

Dá-me a tua mão!

Dolores Marques in "Olhares"