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Enfado-me Deste Fado / Epopeia Do Fracasso
Estar cansado, estar enfadado...
Desço as escadas com a sina deste fado.
Pouco é pior que o meu triste fiel enleio,
Muito dado com o meu eclipsado desenfreio,
Quiçá dormente no pânico do Chiado.
Por cá, arrasto-me nas teias do tédio
Tal como Sísifo em correntes irrevogáveis.
Subo o elevador para a dupla fachada de um prédio,
Caio para debaixo do chão de joelhos inconsoláveis.
Acordo com náuseas que do isolamento respirei,
Entro no nojo da reiteração de um outro mesmo dia
E pergunto-me a multiplicidade mendiga de mediania
Ou quantas salas de aula análogas contei
E quantas luas de epifania ávida aí delirei.
Hoje são infinitas as folhas de caderno rasgadas
Como o são as palavras dos só meus papéis com asas
E as distantes quimeras que no "serei" deixo legadas,
Em que escrevo e vomito ares de repulsa à mediocridade,
Farto da homogeneidade com que me deparo nesta cidade,
Assolado pela blasfémia unida de afastar um quarto de identidade.
Dos seis e dezasseis da fragilidade emocional
Aos dezoito da consciência acidental,
Falham-me ainda os grandes pequenos horrores
(Essas balas rosas num sobejo que ainda duvida).
De mim se alimentam, cínicos, constantes inibidores
Tal como a morte a foder com a vida,
Uma morgue a ascender numa ferida.
Do tão antecipado primeiro dia de escola
Ao tão desolador último funeral nas suas grades,
Dentro do crime crónico de exagerar a própria dor,
Louvo a imensa ignorância e os sonhos de bola,
Lamento os apagados candeeiros de intimidades.
Não fosse a porta de saída a mesma pela qual entrei...
Tivessem as janelas a fuga de inércia que desesperei...
Existisse uma dimensão em que com o "se" dialoguei...
(07-02-2012)
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