Era uma vez...

Moça do campo de ar agreste,
Com jarro de barro, balanceando,
À fonte, por caminho campestre,
Brisa perfumada, bamboleando:

Aqui canto, danço, em trilho escuro,
Ao redor da fonte, por ti espero,
Meu amor há já muito procuro,
A sede afogar, por ti, desespero.

Sombra escura, brisas tenebrosas,
Ecoa o seu ronco, atrás da fonte,
Ergue-se esmagando rosas,
Sobrepõe-se, sem que ela o defronte:

Vós! Errante, que quereis?
Importunais o meu descanso,
Quão ousada sois, que quereis?
De vos comer, homens, não me canso.

O que fazer?
Por tal afronta,
Agora a temer,
Moça tonta:

Apenas quero água,
E meu amor encontrar.
Um abraço por tua mágoa,
Em teu coração entrar.

Furioso, sem penitência,
Alça-se sobre a coitada,
Rugindo em cadência,
Sombrio de alma cortada:

Não tenho coração,
Nada a terminar em ão,
Tenho sim muita fome,
Intrometida agora tome.

Sombra escura sem dó,
Enlaça-a como por amarras,
Sobre nuvem de pó,
Engole-a de entre as suas garras.

(Continua…)

Pedro Martins