Flor do deserto

Dunas de areia brilham, refletem a paisagem branca. Ela, atormentada, sedenta e quase sem esperanças. O cavalo agoniza a seu lado. Ao menos, uma pequena sombra do animal lhe aplaca o calor imenso. Com sofreguidão, toca o pequeno punhal que carrega dentro das roupas brancas. Precisa beber algo. Já vira em muitos filmes que os árabes em apuros, como estava agora, matam o cavalo e bebem o seu sangue. Ela não tem coragem de fazer isso. Certamente, teria de reunir forças para sacrificar o animal e, além de tudo, teria de ter muito esforço para não vomitar na hora que teria de beber o sangue. Se sente perdida.Como uma miragem, uma figura preta, toda negra, surge no horizonte. Agora pode vislumbrar melhor o vulto. Um homem com roupas pretas dos pés a cabeça vem montado em um cavalo árabe negro. Quando ele se aproxima, ela começa a se sentir protegida. Ele desmonta, suas botas pretas brilham ao sol. Ele pega seu cantil, molha a mão e com carinho passa seus dedos úmidos em seus lábios. Antes de desmaiar, seus olhos mergulham nos deles, imensos olhos negros de um homem do deserto. Acorda... Parece que estivera num pesadelo terrivel. Seu corpo dói muito. Observa o ambiente ao seu redor: uma cadeira rústica, paredes cruas, a cama aonde está é confortável, mas deve ser tão antiga como as pirâmides. Se sente refrescada. Se sente molhada. E realmente está, se toca e sente isso. Nota que está nua. Vira a cabeça e se assusta. Num canto sentado, como se estivesse orando está seu anjo salvador. Está de olhos fechados, ainda todo vestido de preto. Nota que é belo, um ébano do deserto. De repente, o homem abre os olhos e ambos se miram imensamente. Ele se levanta e lhe toca os lábios. Ela abre a boca como a pedir algo a ele. O homem murmura: "meus olhos claros!". Se beijam longamente, enquanto a lua cheia, lá fora, começa abraçar as areias quentes do deserto.