Ha fogos lá fora

há fogos lá fora
revoltas na rua
fecharam as portas
as bocas
cerraram os punhos
vestiram o perto
na fome da fome

há sol  e não reparam
há o cravo vermelho
e não o usam
vestidos de colarinhos
os outros
há tudo isto no meu pais
e revolto-me na calada
não vou a rua
fecho as portas
na cobardia do cravo
talvez vermelho
não me lembro

criaram a distancia
apagaram a memoria
pagraram a soldo
o silencio a revolta
e estamos sentados
em  bancos de jardim
tiraram as vestes
a alegria dos dias
vivemos neste espaço
e ficamos sentados

o país a assalto
os colarinhos brancos
manchadas
e nós sentados
nos bancos... de jardim

reclamamos de bocas cerradas
de bocas desdentadas
cerradas
sem som sem cravo
vemos futebol
e sorrimos
marchamos a Fátima
e só tudo isso importa
nos cravos vermelhos
nas lapelas dos idos

apesar de tudo
somos mesmo assim .