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Inválido viver

Conheço os mais lindos lugares: montanhas, vales e florestas,
São sonhos!
Cabem na mente,
Mas estranha á alma.

Conheço a música e todos os tons,
São sonhos!
Perceptíveis aos ouvidos,
Mas desinteressantes ao âmago.

Conheço pessoas que falam que escrevem, riem e choram,
São sonhos!
Captam as emoções,
Mas são antíteses á liberdade.

Conheço o mar, sondei a extensão de sua grandeza,
È sonhos!
Pode-se contemplá-lo,
Mas logo se percebe sua finitude.

Conheço o dinheiro e já ouvi sobre todas as riquezas possíveis,
São sonhos!
Satifaz ao corpo e ajuda a transpor intempéries,
Mas nem de longe promete felicidade.

Conheço as religiões, sua tirania e sectarismo,
São sonhos!
Acalenta o cérebro,
Mas não aquece o atmã.

Conheço filosofia,
É sonho!
Refrigera o pensamento,
Mas não traz alegria.

Conheço a mística e o oculto,
É sonho!
Extasia o inconsciente,
Escraviza o ser.

Conheço guerras e competições,
São sonhos, sonhos profundos!
Acalenta o ego e torna servil as ações,
Mas mata a humildade dos corações arrebatados.

Ó ser alado!
Indeciso, confuso, sem rumo,
Internamente sem norte o homem não consegue,
Encontrar o que existe além do sonho.

Estranhas alegrias,
Lucubrações de vacilantes reflexões
Buscas no vácuo á procura do nada,
Sonhos, em vão, pausa, inertes extensões.

Brinquedos somos,
Nas mãos do além,
Simples adornos,
Nos aprisionam aquem.

Se eu soubesse que seria assim,
Se meu espírito desconfiasse,
Talvez viver eu não quisesse.
Por ficar tão consciente de mim.

Por mais bonita seja a visão,
Por mais terno seja a volúpia,
Por mais sagaz seja a paixão.

Em vão pode-se viver,
Sendo a eternidade um instante,
E sendo o instante eternidade.

Qual vou repousar?
Chamo-me filósofo,
Mas como tão pobre asceta pode merecer este nome?

Vê! Viver é fácil,
Viver desperto é raro,
Quando se desperta vem junto uma fragrância.

Fragrância de loucura,
contamina toda a terra,
acautela-te!

Não penses,
Não fales em vão,
Não vaciles sua atenção.

Ficarás sem saber?
Que realizar todos os desejos,
Esperar por todas as esperanças.

Não garante o pleno ser!
Que depois que a’lma,
De meu corpo e de teu corpo se evolarem.

Duas gélidas lápides cairão sobre,
Nossos corpos,
E sobre nossa campa.

Um epitáfio brilhara pela lua cheia
O verbo insólito
INVÁLIDO VIVER.

John Eber - Contemplando o último raio de sol que jaz translúcido sobre o inerte galho da noneira.

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quarta-feira, maio 25, 2011 - 17:57

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