A MINHA SAUDADE

A MINHA SAUDADE

Neuza Maria Spínola

Sinto saudades de tantas coisas
Que vivi e não vivi na minha vida!
Não sinto saudades da infância,
Mas de momentos que foram bons!
Das noites de chuva sem luz,
Em que ficávamos na varanda cantando,
Da voz da minha mãe reclamando,
Da risada do meu pai, debochando!
Das árvores em que subia,
Das brincadeiras de roda,
Dos amigos de outrora,
Dos primeiros amores sentidos.
Sinto muitas saudades,
De gente que nunca mais vi,
Dos amigos da juventude,
Das músicas que eu cantava,
Da gravação em que cantei na despedida,
Ao meu primeiro namorado.
Da primeira vez que fomos ao cinema,
Vigiados pela minha irmã,
Vigiados pelos vizinhos,
Cercados por muitos olhares.
Sinto saudades da ilusão que sentia,
De tudo que idealizei,
De todos os planos feitos,
Das minhas filhas crescendo,
Dos seus primeiros dias de escola,
Das festas de quinze anos,
E de tudo que pra elas sonhei.

...Sinto saudades de quem eu amei,
De quem eu deixei , E de quem me deixou,
De quem não me conheceu,
E eu queria conhecer.
Sinto saudades dos que partiram,
E não puderam voltar mais,
Do meu pai, a quem não pude dizer adeus,
Nem tive como me despedir!

Sinto saudades do que não vivi,
Do que poderia ter sido lindo,
Do amor que eu amei tanto e que se foi,
E mesmo me amando, se acovardou!
Dos momentos que não vivemos,
Dos carinhos que não trocamos,
Das emoções que não sentimos,
Do amor, que pressentíamos, fosse eterno,
Mas que nem ao menos chegamos a conhecer.