Noite azíaga

Sem o brilho de uma estrela,
sou noite negra de carvão.
Já fui brasa, em tua boca;
chão de barro batido,
por onde trotaram cavalos,
aos som de sins e de nãos,
fui teu avesso e o contrário.

Etílico ou sóbrio,
meu corpo te ressente.
Pranto esperado,
lágrimas de fosso,
donzela arrependida
pela alma deflorada;
fui tua rosa roubada
de jardins inverídicos.

Egressa da penumbra que habitava
recôndito corpo inerte,
espinho cravado nas costas,
prostrei-me ao portal de entrâncias,
com minhas vísceras expostas,
esperei mil luas
pelo soar das trombetas
- nem o silêncio de ti, pude ouvir.

Em noite azíaga,
jaz apenas um bate-estacas
a imprimir em meu peito:
morte, vida, morte, vida, morte, vida. (Ana Patricia Maximo)