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O dilúvio do pássaro da nossa esperança
Chovia intensamente àquela hora.
Os aviões despenhavam-se a uma velocidade vetiginosa, quase
enganadora. Doía a face esquerda e o olho tinha o nervo apanhado. Sentia tonturas como se uma
vertigem me abanasse o interior. A capa que trazia estava encharcada em água, mas ainda assim
eu mantinha-me a salvo dos tubarões da chuva. Guardo memórias de os ver trincar os bancos de
jardim vazios, de perfurarem nos canais de água domésticos, e desaparecerem pelo horizonte.
Via-se fumo dos pássaros do ar a arderem na lama, como se tivessem sido alimentados por produtos
inflamáveis. Que mundo era aquele? Onde estavam as pessoas que me sorriam nos dias em que eu
al estivera no passado? Porque não se ouviam vozes, apenas os gritos de quem não sabia o que
fazer? Esperei que algo mais acontecesse, que uma janela se abrisse, que alguém me olhasse e
me oferecesse um chocolate quente para aquecer o corpo e alma. Mas ninguém apareceu. Tocou
o despertador, e por entre a névoa da manhã percebi que tinha tido um sonho. Mas, no fundo,
ardem por aí muitos lugares feitos de tristeza e amargura, porque a vida não tem asas e quando
o pássaro da nossa esperança se despenha num lago sem fundo... o dilúvio acontece à nossa volta.
O dilúvio do pássaro da nossa esperança.
rainbowsky
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