O olhar do morto

Olhar para frente
E se deparar com o nada.
Toda a vida que se esvai
Acompanhando o tempo,
Um dia sucumbe sob sua
Própria persistência...
E vai embora sem saber
Se realmente viveu.
Mas melhor partir
Que ficar eternamente
Contemplando esse horizonte
Vazio,
E esse céu sem voz.
Mergulhar na escuridão
Última,
E nunca mais abrir os olhos.
Sim,
Partir e se deparar com o vazio
De tudo,
A inexistência de qualquer
Luz e esperança...
A falta de qualquer voz...
E de qualquer rosto.
E não haverá lágrimas,
Não existirão olhos
Para derramarem lágrimas,
E nem olhares julgadores,
E nem ajuda para compreender
O que sempre esperara,
Mas que nunca se realizará.
A falta de tudo,
A ausência de desespero e
Esperança!
A própria essência do vazio,
A grande face do lugar nenhum!
Mas sempre partir,
Um imperativo que foi herdado
Do primeiro que cruzou a fronteira
Do não viver,
E veio viver,
Num lugar sem sossego.
Imperativamente partir!
E nunca mais abrir os olhos,
E não sentir nem mesmo a brisa...
Pois os ventos, naquele lugar,
Nunca estiveram.

(mas, ouve-se no vazio, um choro lúgubre)