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OS MEUS OLHOS NÃO ME CONHECEM
Os meus olhos não me conhecem
Quero olhar os meus olhos mas não consigo olhar,
Eles não se podem ver, para dentro não se podem virar,
Apenas olham para fora, para ver e para crer,
Mas nem sempre assim fazem, às vezes julgam sem ver,
Para ver abrem as janelas mas fechadas também vêem,
Quando a minha mente descansa, na escuridão que têm,
Sonham que estão a ver, mas não passa de uma ilusão,
Parecendo que às vezes é verdade a mentira da visão.
Olham a luz, olham a terra, olham o céu e o mar,
Sentem a alegria, a tristeza e pelas duas podem chorar,
Mas continuam sem ver para dentro sem ver a sua própria cor,
Mas rejubilam ou sofrem pelas coisas de amor,
Quando o coração lhes transmite este nobre sentimento,
Mas apenas os outros vêem, o que eles têm lá dentro,
Se são lágrimas ou não que correm pelo meu semblante,
E eles só vêm as lágrimas quando elas caem para diante.
Queria tanto olhar os meus olhos, mas eles não olham para mim,
Queria tanto vê – los a sorrir no meu princípio e no meu fim,
Mas durante a minha vida de certeza nunca o vou conseguir,
Queria tanto ver quando choram ou quando estão a sorrir,
Para ver se têm rosto como o rosto que os detém,
Mas também ficam contentes, por ver o sorriso de alguém,
Que contagiam os meus na sua alegria ou na sua tristeza,
Mas continuam sem olhar para eles, disto eu tenho a certeza.
Nasci, fui menino, já sou velho, não sei o tempo que vou viver,
E os meus olhos estão comigo e nunca me vão conhecer,
Só sei como sou e quem sou pelas imagens que tenho de mim,
O que é que eu posso fazer se eu fui concebido assim?
Mas pelos meus olhos nunca conhecerei o meu próprio rosto,
E eu que gostava tanto de olhar para mim a meu gosto,
No meu querer não vale a pena insistir em querer o impossível,
Eu não posso inverter, mudando o impossível em possível.
Tavira, 8 de Fevereiro de 2010 – Estêvão
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