OS NOSSOS LUGARES

Nesta velha madeira
em que nos sentámos,
onde as folhas voavam
caídas dos ramos,
com as caricias do vento
que gemia baixinho
empurradas ao acaso
para o nosso caminho.
O tempo de areia
continua a doer,
e é bola de sabão
que deixa de se ver.
Os sonhos sempre a cair,
deixam as árvores despidas
e o sangue que corre nas mãos
são horas perdidas.
Continuo sentado
em cima da memória
e um arco no céu
vai contando a nossa história.
O teu corpo de mulher
vestido de pele
é musica esquecida
num pedaço de papel.
Meu espinho sem rosa
num perfume sem corpo
és o rio sem leito
onde fecho os olhos ... e me deito.
E a pauta de sangue
é gemido de guitarra
a saudade que vence
corrente que me amarra.
O abraço que me deste
num quarto de hotel
é musica que se sente
num arrepio de pele.
Mas o Céu vai-se abrir
para o sol que quer brilhar
e a voz que nunca morre
voltar a cantar.