Perguntas

Onde devemos estar quando tudo isto acabar?
A que devo a honra de estar acabado e jogado
Nestes pingos frios e traiçoeiros?

Onde? Pergunto.

Ascenderam as velas
Num lugar onde não existem mais navios à vela,
Enaltece em minha pele o desejo
De comungar com o meu precioso pecado

Luto pela minha inexistência
Pelos meus dias ébrios.

Hoje caminhei nas minhas dores...
Já disse que demônios sempre retornam ao espectro.
Sinto vontade de chorar,
Mas nunca verão minhas verdadeiras lágrimas.

Um pássaro caiu do ninho
E duro ali permaneceu,
Imóvel
Só, tão só
A vida o esqueceu
Assim como todos esquecem
Daqueles que se vão,
Que se vão

Fujo dos meus dias de chuva
E quanto mais me escondo
Eles aparecem, intermináveis.

Não quero mais o que almejei
Não quero ser o que não sou
Peço-lhes que rabisquem do mapa
O meu caminho
A minha solidão
O meu desejo
A minha vontade

Saltou da jaula uma fera
Que encontrou os meus medos
Dilacerando o meu peito
A minha fina coragem

Minha cabeça cai
Meus ombros declinam
Meus olhos se fecham
Minha boca cala-se
Meus lábios intimidam-se
Até me ver no chão todo nu
Com a respiração apenas,
Uma respiração que se chama
Viver sem querer viver,
A vida de tão bela
Que às vezes sinto vontade de me matar.