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RECORDAÇÕES
Recordações
Desta terra que me acolheu eu sinto vaidade,
Nela vou vivendo a minha liberdade,
Não a quero perder mas gosto mais da vida,
Embora sem liberdade também possa ser vivida.
Na minha terra onde pobremente nasci,
E agora já velho nela não ando, vivo por aqui,
Nela não vivo há já tanto tempo,
Não sinto saudades, mas dela me lembro.
Para esta falta de saudades, há uma razão,
Que guardo na minha mente cheio de consternação,
A de querer comer e a minha mãe nada tinha,
E comigo chorava agarrada à minha mãozinha.
Quando passo pelo lugar do meu nascimento,
Olho, sinto o coração apertado e me lamento,
Que ali vivi, açoitado pelas condições de então,
E sinto uma tristeza imensa daquele triste Sertão.
Naquele areal imenso entre os pinheiros e o mar,
O meu Sertão que ainda hoje ouço chamar,
Tantas brincadeiras com outros meninos eu fazia,
Quando jogava com uma bola de trapos, tanto eu corria.
Com as minhas brincadeiras, não queria saber de mais nada,
Ignorava a barriga, e o tempo assim eu passava,
Apenas brincava, gritava e tanto ria,
Que não me lembrava que a barriga estava vazia.
Não tinha que comer, a fome é que me comia,
E com ela eu chorava às vezes também ria,
Mas era um rir triste, com os lábios apenas,
O som não saía ficava preso nas cenas.
Quando o Sol se escondia, eram horas de jantar,
Mas eu nada tinha para comer e assim me ia deitar,
Fechava os olhos chorando até ao meu adormecer,
Cansado de ter fome, sem nada ter para comer.
De vez em quando acordava e chamava pela minha mãe,
Que há muito tempo Deus já lá a tem,
Mas ela para mim não morreu pois ainda a recordo,
E hoje a sonhar com ela, de vez em quando eu acordo.
Tavira, 27 de Agosto de 2010 - Estêvão
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