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SEPULTO O TÉDIO
Piso o meu rosto
com as notas desafinadas
de um piano feito de mel,
que apenas os meus sentidos
mudos se atrevem a escutar o cheiro,
deste sobe e desce no poço das certezas.
Limo as versões
amargas dos meus lábios
com a geleia dos meus instintos,
fazendo-me rodopiar num vórtice
que estoqueia a minha mente martelada
por barulhos sem punho para levantar a moral
de um exército derrotado no suor dos meus pés.
Exibo-me
numa montra
do que não sou paralelo
aos sítios onde não quero chegar,
desmistificando a libertação dos sentidos
sobre um altar de carne onde vagueia a minha alma.
Faço-me castigos
substituindo as nuvens
que escondem a estrela da sorte,
ao largo silvestre das minhas palmas,
por raios de sol assentes em solas de orelhas moucas,
influenciando frases embirrantes que julgam me calar.
Sepulto o tédio
numa janela de açúcar,
derretido pelo fascínio dos meus assédios,
servindo-me um manual de instruções de gestos
que apontam para as cordas de um sino sem badale,
ao cimo de uma torre construída de vidro inquebrável.
Sou diálogo
noctívago das corujas
agoirentas como quem arranca
um dente a sangue frio num salto de mentiras,
que me assaltam por cima das farpas da solidão acidentada.
Talvez ficarei sozinho,
sem mim para não mais me deixar
sem pressa de me restaurar tardiamente
nos carris em brasa que guiam a minha carruagem
de promessas virtuosas numa avenida de peripécias,
que são fortuna no cultivar sementes pelas minhas personalidades.
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