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Strange VIII - Jogo de cartas e música
Semeavas minúsculas bolas de vidro cristalino,
nasciam plantas alteradas pela metamorfose das memórias
e nessa terra erguiam-se estátuas de bronze
envoltas num véu líquido, de lágrimas
aqui e ali rodeadas pelos rostos entristecidos.
Os aviões cruzavam as céus cinzentos
quebrando as asas contra o solo de espuma
tocando as margens de um rio de cal e alcatrão.
Os teus braços faziam piruetas de desalento
e as hélices nas tranças do teu cabelo brilhante
golpeavam o sol como boomerangues famintos. E tu choravas.
Choravas a angústia dos raios fulminantes
descendo-te pelo umbigo até explodirem no universo.
A guerra invadia-te de novo, a alma azul
de pássaro sonhado que sempre quiseras ser.
Desmaiavas ao tocar dos sinos
que enganavam a meia-noite por breves segundos.
Eras semente no bico da ave de metal,
estátua despenhando-se na própria pele suada,
bebida com açucar puro de cana bronzeada,
pelas longas tardes passadas a ver miragens de nada.
As estátuas ganhavam vida própria
nas madrugas em que o silêncio não falava
e era preciso ocupar o tempo para não gelar.
Cantavas ao ritmo de um motor que fumegava,
talvez as últimas gotas de óleo, pintadas na relva.
Semtavam-se junto do lago a jogar às cartas.
Infinitamente. Tragicamente.
Nelas viam apenas os paus queimados pelas bombas,
as espadas assassinas e o ouro roubado aos pobres.
Mas acabavam sempre por compor uma música com as copas.
Sabiam que para além de tudo e de ti, mesmo no silêncio,
no baralho sereno e adormecido:
não havia tanto ódio
e havia tanto coração a bater lento e compreensivo.
rainbowsky
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