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Por detrás da AM

Era um belo dia de Primavera, bastante caloroso por sinal. As árvores daquela área eram verdinhas e dançavam ao sabor do vento deixando o aroma a pinheiro instalar-se nas narinas das pessoas que ali estudavam. Aqueles pinheiros e a área circundante pertenciam à escola Secundária José Loureiro Botas, uma escola como todas as outras. Era demasiado quadrada. Quadrada porquê? Porque lá, os alunos não se sentiam inspirados a dar o ser melhor, ou melhor, os estudantes não queriam saber daquela estrutura que era a segunda casa de muitos, mesmo sem se aperceberem disso. Mas nem todos aceitavam este espírito quadrado que todas as escolas tentam implementar no corpo estudantil desde sempre. Podiam ouvir-se crianças a correr, adolescentes a namorar, amigas a cochichar, amigos a jogar à bola. Enfim, era apenas uma escola como todas as outras. Apenas Normal! As suas paredes brancas, as funcionárias pouco pacientes e os professores apressados. Tudo isso era normal naquela escola. Apesar de tudo isso, continuava a ouvir-se risos, pessoas a correr, adolescentes a flertar, miúdas com manias e miúdos tentando a sua sorte com as miúdas. Como é que apesar do que a escola introduz no nosso cérebro desde pequeninos, os jovens continuavam a divertir-se? Talvez fosse da Primavera, que pulveriza todos com o seu pólem. Ou talvez fosse pelas hormonos que nesta altura do ano andam tresloucadas.
Com processos disciplinares, o “shh!” das auxiliares educativas e os castigos, esta secundária tornara-se quadrada aos olhos dos jovens adultos. Então porque é que essa juventude ia todos os dias às aulas? Todo o santo dia entrava pelas portas, que mais parecia de uma prisão. E eles entravam, sem qualquer medo ou vergonha. É impressionante!
A minha vista deixa de ser tão ampla, e agora restringe-se apenas a um grupo que está debaixo dos pinheiros, que lhes oferece sobretudo a sombra necessária e prazerosa neste dia de calor infernal.
Eram oito raparigas e seis rapazes. Estava desequilibrado, mas nenhum dos presentes parece importar-se muito com isso. É então que reparo no que aquele grupo de amigos está a frazer no precioso e curto intervalo. Uma rapariga estava a falar e todos os outros a ouviam atentamente. Chegava a parecer que ela é que mandava naquele grupo de pessoas. Todos os adolescentes que a rodeavam olhavam-na com o máximo de atenção possível que podiam. Apesar de ela ser a mais baixinha de todos, conseguia obter a atenção sem ser necessário gritar ou berrar. Mas a atenção não era conseguida pelos seus atributos corporais, apesar de os ter, e sim por os seus atributos intelectuais.
Falava sobre festas na escola. Recolhia, aceitando as opiniões de todos. Divulgava notícias da agência de viagens que contactara. Estavam a fazer o que era perfeitamente normal. No décimo segundo ano, finalistas do ensino secundário preparavam uma viagem de finalistas. A rapariga muito paciente explicava tudo, assunto por assunto a todos, fazendo passar papéis que corrobassem o que dizia. Enquanto falava, todos ouviam. Ninguém ali guardava rancor dela. Mesmo sem terem elegido um líder, todos ali estavam conscientes de que ela era a líder daquele grupo, apesar de nunca aceitar mandar mais que os outros. Podiam odiar pessoas naquele grupo, mas esta moça conseguira unir todos os intervenientes sem provocar qualquer dano colateral. Mesmo quando algum jovem queria ser mais importante naquele grupo que ela. Ela apenas sorria-lhe e entregava-lhe a pasta dizendo:
-É muito trabalho para uma pessoa só. Ainda por cima, para além que não esteja habituado a lidar com pressão e muita papelada. Se alguma vez precisares de ajuda, podes contar comigo para te ajudar a solucionar o problema.
Não aguentou nem uma semana e devolveu a pasta. E lá estava ela, cansada fisicamente por todo o trabalho extra-aula que estava a ter, mas nunca se queixou. Não queria que ninguém se preocupasse com a viagem de finalistas. Até porque essa rapariguinha estava a fazer um óptimo trabalho na planificação das férias. Tinham tudo em ordem. Este grupo, “Students Out” foi dos mais conhecidos naquela secundária do centro de Portugal.
Essa rapariga ajudara em tudo o que podia e até no que não podia. No entanto, nem todos sabiam o que ela fazia. Desde realizar os trabalhos de casa pelos amigos, fazer os trabalhos de grupo praticamente sozinha, organização de recolhas de materiais para voluntariado, até à organização de festas e actividades elucidativas sobre voluntariado. Ajudara a “Ajuda de Berço”, partcipara e organizara uma recolha de sangue, visitou o canil municipal da Marinha Grande, ingressou no corpo dos Bombeiros Voluntários de Vieira de Leiria, do qual, ainda hoje faz parte.
Está na hora de conhecer a rapariga de quem falo. O meu nome é Ana Filipa e eu sou essa rapariga.
 

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terça-feira, março 8, 2011 - 20:54

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