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Auto-Hipnose
Com um único e maldito toque, desposei a flor de cerejeira, que colhi da árvore embebida em vento… descuidada, converti a seda das suas pétalas em cinza, e permaneci friamente petrificada, enquanto esta caía neste meu peito que o Sol dourou.
Encardida de vergonha e penúria, esvaí-me em tinta diáfana, sem me aperceber da mancha que verti sobre a minha, já molestada, inocência, que a cada dia se desmorona… Pudera eu, jovem mulher, declinar-me perante a pureza, e suplicar-lhe um antídoto para a perversão que povoa os meus pensamentos, no entanto, o alcance da minha voz, ou do seu som, é pequeno demais para se fazer sentir.
O nascer do dia é sempre um momento solene, um fenómeno cuja simbologia alude à vitoriosa marcha de um guerreiro que, orgulhoso, alça a sua espada aos Deuses Solares, rogando-lhes vida eterna.
Despedi-me da cama, arrastando lentamente o corpo, como um bicho estranho, ciente da sua forma. Serpenteei os largos corredores mentais até à casa de banho, onde mergulhei num pequeno lago oval: por lacónicos ensejos, sustive a respiração, suspendi as inquietações triviais e libertei todo o meu peso, deixando-me ser sugada pelo vapor opaco. Depressa me liquidifiquei, juntamente com o espaço que me circundava, num ritual de unificação maga, de transcendência da alma, de grandiosidade incalculável. Era como ver-me da perspectiva de Deus, num auge, quase lírico, no qual a minha humanidade flutuava, gracilmente, diante dos meus olhos… De volta ao físico, com os braços pousados nas margens, enxotei do rosto a água e dos pulmões o ar.
Porque é que a realidade é tão nítida, quando a quimera é tão disforme?
Porque é que estamos todos num constante estado de evaporação?
Será que algum dia tomaremos estas incertezas como fundamentais, ou continuaremos a vê-las como preconceitos?
Quanto mais aperto o pensamento, mais apertado fica a nó que entrelacei em volta de sanidade, com o propósito de não a perder. E, embora saiba que a estou a asfixiar, sou incapaz de negar-me a satisfação que o estatuto de “filósofa” me dá.
Num ímpeto, pouco gracioso, levantei-me trôpega, enrugada e ensopada, de alucinações lunáticas, que tentei combater, aliada ao tacto suave da toalha de malva tecida. Mal conseguia distinguir os mosaicos que me suportavam, quanto mais se estava, ou não, de volta à experiência humana! Quando dei por mim, estava crucificada ao chão, a convulsionar as minhas deturpações, assemelhando-me a um animal invertebrado e epiléptico.
Estranhamente, a dor agonizante que me assolava, era bastante reconfortante, visto ser uma sensação real – pensei estar sair do estado de dormência, porém, não sabia se seria essa a desfecho que queria… O sentir é incontornável e persistente, e isso faz da dor uma constante na vida. Seguindo lógica, a constante faz da vida um ciclo.
Meramente ciente, rastejei dali para fora.
De certa forma, aquele cubículo, onde estava, era como que a representação deste sítio – num sentido mais lato. Ali, havia uma população inteira de seres, que festejavam, alegremente, o facto de estarem vivos. Na verdade, digo isto, porque sempre me deram a entender que este mundo é uma grande festa, na qual as pessoas exuberam os seus sentimentos mais ocos, com o intuito de codificar o conteúdo das suas almas.
E se o mundo é uma celebração (como me foi ensinado), então eu sou a sua hóstia, pronta a ser consumida por milhares de crentes.
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