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DIÁRIO DE UMA BISSEXUAL - O INÍCIO´(cont.)
A festa, um dia antes…
A festa começou por volta das nove da noite num bar que eu não apreciava muito mas que fora o único que eles conseguiram alugar só para o grupo. E eu não fazia a mínima ideia de quem eles teriam convidado para além do grupo normal. Éramos dez ao todo mas eu sabia que eles queriam festa á séria, provavelmente até teriam convidado mais umas quantas pessoas que eu não conhecia muito bem.
Claro que acabei por adorar a surpresa que me fizeram. A decoração, o bolo que tinham encomendado e até a música que passaram nessa noite (a minha melhor amiga tinha feito uma selecção especial). E tal como tinha previsto, não conhecia metade das pessoas a não ser de vista. Eram amigos dos meus amigos, pessoas completamente aparte do grupo. Mas eram divertidos e simpáticos. Acabamos por nos envolver todos numa espécie de concurso de bebidas a ver qual de nós bebia mais. Confesso que sou adepta desses concursos parvos mas que tornam o ambiente animado. Pelo menos a mim tornam.
Mas também tenho de admitir que não lido muito bem com a bebida. Não estou habituada a lidar com o álcool como certas pessoas, neste caso metade dos convidados, por isso ninguém estranhou que depois de três míseros copos de uma mistura qualquer que levava vodka, eu já estivesse ainda mais estouvada do que realmente sou. Ou vomitava tudo ou transformava-me. Foi mais a segunda opção. E foi aí que tudo se tornou mais interessante. Admito que estava podre de bêbeda mas sabia perfeitamente o que estava a fazer, só me sentia mais leve e solta.
Marta aproximou-se de mim. Não fazia parte do meu grupo de amigos e nem a conhecia de lado nenhum. Se bem que a cara dela não me era completamente estranha naquele momento.
- Estamos a divertir-nos ou não? – Perguntou-me com um sorriso.
- Sim. – Foi o que me saiu nesse momento. Um simples “sim”.
- Parabéns princesa!
Eu sorri. Na verdade aquela frase soou demasiado suave aos meus ouvidos. Ela olhava-me de uma forma estranha. Contemplava-me desde a ponta dos meus pés até ao fio dos meus cabelos.
- Obrigada querida. – Foi o que respondi. E juntei-me ao meu grupo, já tão animado como eu.
E se não fosse o súbito interesse dela em mim, algo que eu estava a estranhar nessa noite, eu nunca mais me teria lembrado do seu rosto jovem mas que parecia conter toda a sabedoria do mundo. Não me perguntem em quê porque por esta altura as ideias ainda se estão a mostrar aos poucos, assim como certos pormenores mais obscenos do que se passou nessa noite.
O que interessa realmente salientar aqui (que é algo que certamente não contarei aos meus netos) é que no final da festa e já sem nada mais para beber, eu e a tal de Marta acabamos por ser as protagonistas de um strip poker decadente. Acredito que alguém ali estava a tentar, e a conseguir, que cada uma de nós perdesse. Mas o pior da noite nem foi o strip! O acto de nos despirmos com a maior sensualidade do mundo foi apenas o preliminar de tudo. O prólogo de uma história que parece que se pode repetir. O que importa mesmo é que eu e Marta, depois de tudo, acabamos por nos envolver de uma forma que eu nunca pensara envolver -me com uma mulher.
Confesso que ainda não estou em mim. Foi apenas um jogo.
Uma aposta. Uma brincadeira inofensiva. Na verdade uma festa para ser festa não deve ter regras ou proibições. E só o facto de pensarmos na palavra regra já tornava tudo demasiado sério. No fundo, éramos simples adolescentes nessa noite. E como bons adolescentes, acabamos por escolher um jogo mais viciante e divertido. Verdade ou Consequência? Ela escolhera a segunda hipótese e, para tal, teria de beijar-me.
Claro que pensei que ela não faria. Pelo menos com tanta vontade como aquela que demonstrou quando me agarrou no rosto e aproximou os seus lábios dos meus.
- Que vais fazer? – Perguntei eu, já nervosa mas sabendo perfeitamente que ela ia mesmo fazer aquilo.
Ela nem respondeu. Então fechei os olhos e deixei-me levar, sob os olhares atentos e alguns risos dos meus melhores amigos.
- Vá Miss! Esta poderá ser a melhor noite da tua vida! – Ouvi alguém dizer.
A melhor não foi mas sem dúvida que foi a mais ousada. E como ousada que sou, atrevi-me a manter os meus olhos fechados e a entreabrir os meus lábios quando senti os dela a tocarem-me.
Cálidos. Suaves. Agora que me lembro, sabiam a morango. Eu adoro o sabor e o cheiro a morango. Talvez o facto de saber tão bem me tivesse deixado ficar ali, a sentir os seus lábios e a devorar os dela.
E posso arranjar mil e uma desculpas para ter gostado tanto. A sua essência, o sabor, a afeição, a ternura do momento, o facto de imaginar que seria um homem talvez…como disse, mil e uma. Mas a realidade é que estaria a mentir. Nem eu própria sei porque me mantive ali ou porque gostei tanto. O que interessa é que quando os nossos lábios se separaram, senti que algo demasiado bom tinha acabado. Fiquei triste? Oh meu Deus! agora que penso nisso, fiquei mesmo triste.
Afinal não estava assim tão bêbeda. E acordei com vontade de ligar-lhe. Afinal tinha de lhe agradecer o facto de me ter trazido a casa. Se ao menos tivesse o número ou a morada dela…dava-me a um certo trabalho.
Antes de mais deixem que vos diga que me considero uma rapariga com muita sorte. Eu quero, eu posso e…vejam lá que tenho mesmo! Isto tudo para não se admirarem se vos disser que dentro do bolso do meu casaco, bem enrolado numa espécie de post-it, estava
Marta
91*******
(claro que não podia colocar aqui o número)
(Falta saber como foi lá parar sem eu ter dado por isso…)
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