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DO CONFORMISMO INTELECTUAL...
Os intelectuais têm a função de unificar os conceitos para criação de uma nova cultura, que não se reduz apenas a formação de uma vontade coletiva, capaz de adquirir o poder do Estado, mas também a difusão de uma nova concepção de mundo e de comportamento.
Cezar Luiz de Mari
Quando num país boa parte de seus intelectuais se rende à pasmaceira geral, sem dúvida, entramos no mais reles tipo de cinismo: o cinismo justificado. Nele, predomina o que chamo de heresia às avessas cuja essência consiste em rebeldia-obediente.
Se, como diz, acertadamente, Mangabeira Unger, o mundo sofre, hoje, sob a ditadura da falta de alternativas, o grande passo para o início de sua destruição é irmos, a fundo, na produção de Idéias conectadas com “inéditos viáveis”.
O diabo é que, dentro e fora da universidade, indivíduos optam por fechamentos intelectuais tão baratos que acabam se transformando em charlatães, pedantes e sacerdotes do estabelecido. Envenenam a idéia de Crítica, aplicando a este fenômeno qualquer arenga verbosa, desde que sirva para racionalizar o conformismo. Diante de jovens ingênuos, destilam suas tolices e ensinam como mentir.
Não são poucos os intelectuais perdidos, não sabem a que vieram, sobretudo, ignoram qual nosso verdadeiro papel. Como enfrentar forças encalacradas nas engrenagens do sistema requer coragem, desprendimento e solidão, tomam os discursos e as práticas dominantes tratando, cinicamente, de adocicar as coisas contra as quais se recusam combater.
Onde surgir qualquer foco de imaginação transformadora, o conformismo intelectual estará presente. Economia de mercado, competência, lógica meritocrática, tecnologia, redistribuição compensatória (cesta básica), Prouni, Reuni etc, são reificações elevadas à categoria de sagradas, divinas. É o fetichismo da ordem.
Enquanto o intelectual digno deste nome faz falar o silêncio, ousa dizer o que não se diz, busca o escondido, o velado, aquilo que está bem oculto, trabalha sempre a partir das radicalidades, visa à transformação das realidades, pensa e age entrelaçadamente, é questionador contumaz e mergulha no dia-a-dia. No conformismo intelectual, temos um arremedo dele, temos fariseus hipócritas, puxa-sacos de todo gênero, temos a vigarice banalizada. Honestidade e conformismo intelectual, amigo, se excluem.
Não podemos esperar, de forma alguma, cidadãos dotados, digamos, de compreensões homogênicas dos inúmeros segmentos sociais se os mesmos estiverem sendo auxiliados por intelectuais imersos no conformismo. Como afirma Humberto Ecco, “o intelectual tem de ser a consciência crítica do grupo. Ele existe para incomodar”.
Rebeldia-obediente é falsa crítica, é jogo malandro para que tudo fique como está, quando muito, acontecendo movimentos cosméticos, pois, no fundo, está se levando vantagem em certo setor. Como é deplorável nos depararmos com pomposos cortejos vigaristas guiando cegos aos interesses pessoais, de grupelhos e de politicalharia! Nesse ambiente das aparências o que prevalece senão a caricatura, o patrulhamento, o mal, a safadeza e a mentira?
Estou, enfim, com Helenice Rodrigues da Silva: Num país onde reina desigualdades e injustiças e onde o poder, seja ele qual for, tende a corromper a liberdade de pensar e de agir, a função do intelectual não deveria ser, antes de mais nada, crítica e ética?
Ary Carlos Moura Cardoso
Mestre em Literatura pela UnB
Pós-Graduado em Filosofia pela UGF
Pós-Graduado em Educação pela UnB
Professor da UFT
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