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ESTRANHA MADRUGADA (Continuação e Fim)

Nuvens Negras

A partir de agora Francisco começou a passar as noites sozinho com os filhos, sua esposa chegava quando as crianças ja dormiam. Maria chegava cada vez mais tarde e partia cada vez mais cedo. Os fins de semana raramente ficava em casa sempre tinha atividades políticas. Como ela é uma militante devotada e eficaz logo ela recebia um máximo de trabalho. Aos poucos para ela a família passou ao segundo plano. Suas atividades políticas passaram a estar acima de tudo. Pouco a pouco Francisco começou a estar farto da situação. Um dia que ela chegara mais cedo, à hora do jantar estalou uma disputa entre eles. Ele acusava Maria de não se ocupar suficientemente da família. Ela gritava dizendo que ele não a compreendia não era paciente como devia. As crianças choravam e o casal gritava e as acusações mútuas não paravam. Furioso Francisco saiu de casa batendo a porta com estrondo! E assim este casal que se amava começou a desunir-se porque outros interesses estavam suplantando o amor. Durante vários meses tais cenas se repetiam constantemente. Começaram a dormir em quartos separados, o amor tinha sumido. No fim do mês de Junho antes das férias, Maria anunciou que não partiria a Portugal, Francisco que fosse sózinho com os filhos. Ela tinha assuntos importantes a tratar durante o verão. Assim ele partiu de férias com os filhos para nunca mais regressar a França. Mas Maria não reagiu a essa situação porque achava isso ser mais conveniente para ela. Em julho e agosto o partido tinha programado para ela visitas de trabalho em varias capitais de Europa. Ela sabia que se declinasse tais responsabilidades a sua posição no seio do partido poderia sofrer com isso. Como depois de algum tempo ela começara a ter certas ambições políticas, ela teria de estar bem em vista. Para aumentar seu prestigio pessoal estas deslocações ao estrangeiro vinham mesmo na hora exata. A sua audácia, sua determinação, sua franqueza no falar e a sua habilidade em negociar iria fazer dela uma mulher política de alto nível. Isto para ela significava mais do que tudo ao mundo. Estava disposta a sacrificar o amor e a família. Em Bruxelas tinha uma reunião importante com a direção do PS belga. Nesta reunião foi tratado importante assunto do alargamento da comunidade européia. A Grécia a Espanha e Portugal eram candidatas à adesão à União européia. Maria pôde ali defender a posição de Portugal. No final o presidente do partido belga felicitou Maria e convidou-a para jantar em sua casa. A família dele fazia questão de a receber. Ela aceitou com prazer. Durante o jantar se falou da democracia em Portugal e de como o socialismo tinha dominado o comunismo. E falaram do Presidente do PS português. Os convivas chegaram à conclusão que aquele simples professor português um dia seria Presidente da República. Então Maria perguntou se tinham noticias do seu amigo Arnaud. Fez-se um silêncio enquanto olhavam uns para os outros.
– O anfitrião a olhou nos olhos e disse: " Arnaud faz parte da nossa família é o meu filho mais velho, mas não está presente conosco porque está numa casa de saúde a se recuperar dos maus tratos recebidos no Forte de Peniche. Receia-se que fique inválido para o resto da vida. As torturas que a PIDE lhe infligiu foram horríveis. E continuaram torturando até à morte. Eles o lançaram no mar, mas ele ainda vivia e teve a sorte de ser recolhido ainda em vida por um pescador. Sendo pai de um militante comunista também preso pela PIDE este homem cuidou de Arnaud. E como conhecia o Mestre dum arrastão francês que vinha muitas vezes ancorar no porto de Peniche organizou o repatriamento clandestino de Arnaud."
– Maria disse: " Eu gostaria de o ver isso será possível?"
– O anfitrião respondeu: " Ele está na clinica em Gand aos cuidados de um grande professor Flamengo, se quiser amanhã podemos ir visitá-lo. Sabe Maria ele fala muito de você e de Brigitte, ele vai ficar feliz de te ver."
– Maria disse: " Irei com todo o prazer. Sofri muito por causa dele e de Brigitte." No dia seguinte Maria ficou impressionada com o estado do seu amigo. Muito magro, branco, encurvado e coxeava. Era uma sombra dele mesmo, mas ao vê-la o seu rosto se iluminou com um largo sorrir.
– Então Arnaud falou: "Querida amiga como é bom te ver aqui! Sei que tens desenvolvido uma enorme atividade política depois da ultima vez que nos vimos em Paris, faz agora quase seis anos anos. Soube também que Brigitte está em vida e não voltou em França. também que tem bastante responsabilidade no seio do partido. Como vês eu ainda não retomei as minhas atividades. Nem sei se algum dia as retomarei. Cheguei nesta clinica meio morto e a recuperação tem sido lenta e muito difícil. A droga que me deram e as torturas subidas arruinaram a minha saúde."
– Maria disse " Mas querido amigo sua luta não foi em vão. Hoje temos a democracia em Portugal e o nosso partido é o primeiro no país. Tenho mesmo a certeza que o seu amigo e professor vai no futuro ser eleito Presidente da República."
– Arnaud respondeu: "Por falar nisso recebi o mês passado uma carta dele onde dizia que queria saber qual o meu estado de saúde. Queria-me convidar para passar férias em Portugal na sua propriedade do Algarve. também me agradecia por minhas atividades. Embora a nossa missão não fosse levada até ao fim, o que realizamos fez tremer o antigo regime. Eu respondi que por enquanto o meu estado de saúde não me permite viajar, mas que agradecia a sua atenção."
– Maria: " Os Pidescos não foram de mão morta contigo. Claro como eras estrangeiro os maus tratos duplicaram. Mas agora vejo onde està o teu anular da mão esquerda? Foram eles que te cortaram o dedo? Porquê?"
– Arnaud: "Lembras-te da aliança que emprestaste à Brigitte? Sabes ela lhe estava larga e a maior parte do tempo era eu que a trazia no dedo junto com a minha. Quando fomos presos ao verem as alianças eles queriam saber quem era aquele Francisco, já que nos meus documentos eu me chamava Arnaud. Eu resisti e sempre recusei confessar fosse o que fosse. Danados eles pensando que eu depois iria confessar mesmo, me cortaram o dedo com as alianças e o jogaram no mar diante dos meus olhos. O interrogatório durou bastante tempo. Mas não confessei nada. Tive uma enorme perda de sangue. Levaram-me na enfermaria onde cuidaram de mim até levei uma transfusão sanguínea. Quando melhorei, as torturas continuaram até que me deixaram por morto. Depois me jogaram no mar!"
Maria não conseguiu suster o riso. Vendo que Arnaud e o pai a olhavam surpreendidos.
– Envergonhada ela respondeu: "Desculpem sei que o momento não é para rir, mas a minha aliança foi encontrada nas tripas de um peixe que o meu marido pescou no cabo Carvoeiro. Ele ficou aflito pensando que algo me tinha acontecido. Eu também sofri quando ele me mostrou a aliança pensei que tu e Brigitte tinham sido assassinados"
Sorrindo eles continuaram conversando. No final da visita ela prometeu a Arnaud que o viria ver quando estivesse de volta na Bélgica. No dia seguinte ela devia seguir para Amsterdam. Entretanto em Peniche Francisco estava com algumas dificuldades para cuidar dos filhos e das suas atividades profissionais. Enquanto não começa o ano escolar ele ainda conseguia ir para a frente, mas depois seria muito mais difícil. também ia fazer obras na garagem, pois como era representante de uma importante marca de automóveis e camiões, era necessário construir um stand de exposição! Tinha comprado um terreno mesmo ao lado e a construção começaria brevemente. Um domingo ele foi com os filhos visitar os sogros às Caldas e a cunhada Olinda se ocupava das crianças enquanto ele falava com os sogros. Estes estavam preocupados com Maria há dois meses ja que não dava sinal de vida. Francisco também estava triste com a situação, pois achava que ao menos ela podia escrever aos filhos. Mas a sua ambição política não tem limites e isso passa antes de tudo. Ele não poderia continuar nesta situação estava pensando em divorciar e arranjar alguém para cuidar dos filhos. Para os sogros o divórcio não seria a solução, mas por outro lado alguém teria de cuidar dos netos.
– A sogra então sugeriu: "Olhem talvez a Olinda possa ir para Peniche e se ocupar dos meninos. Ela é solteira e não tem trabalho fixo. Acho que temos a solução. O que acha Francisco?"
– Este céptico respondeu: "Sim pode ser mesmo, mas estará ela disposta a fazer tal sacrifício? Sempre viveu com vocês aqui e lá, sobretudo no inverno, não é muito agradável."
– O sogro: "A melhor maneira de saber é perguntar-lhe. Olinda chega aqui!"
– Ela veio, o pai falou: "Estás disposta a ir para a casa do teu cunhado cuidar dos teus sobrinhos durante o ano escolar?"
– Sendo bastante tímida, corada ela respondeu: "Não sei se me adaptarei lá, mas como gosto muito do Ernesto e da Aurélia, talvez não tenha problemas."
– Francisco: "Olinda, pensa bem eu não quero de modo nenhum te impor isto. Uma moça de 22 anos como tu deves ter teus amigos e amigas aqui nas Caldas. Talvez até um namorado. E lá onde eu moro fica longe do centro e depois em Peniche não tem muita diversão."
– Olinda ainda corada diz: "Cunhado fique sabendo que não tenho namorado. Tenho algumas amigas, mas se os meus sobrinhos precisam de mim, isso é o mais importante! Quanto a diversão o cunhado me ensina a pescar e tudo irá bem." Assim ficou resolvido que no domingo seguinte Francisco viria buscá-la. Entretanto ele prepararia o quarto dos hóspedes para ela poder estar à vontade. E ia fazer instalar o telefone e comprar um aparelho de televisão. Mas Olinda tinha um segredo íntimo, depois de menina ela amava secretamente Francisco. Desde a primeira vez que ele viera lá a casa com Maria para ser apresentado aos pais, ela o amava em silêncio. Ela tinha 12 anos e agora 10 anos mais tarde ainda o amava mais. Por esta razão nunca quisera namorado. Ela é de bela figura, olhos e cabelos castanho claro, alta, esbelta mesmo mais fina que Maria! Por um lado ela estava feliz de poder viver junto do homem amado, mas por outro a situação era inconfortável pois era o marido da sua irmã; e ele certamente ainda amava a esposa. Mas presentemente a sua principal preocupação era cuidar do Ernesto e da Aurélia. Como o passar do tempo ela se adaptava bem a essa vida e os sobrinhos gostavam muito dela. Todos os dias fazia uma boa caminhada ida e volta par ir levar e buscar os meninos na escola. Quando chegavam os ajudava a fazer os trabalhos da escola e cuidava do jantar. Com as obras na garagem o cunhado vinha tarde e nunca jantava, quando chegava ja todos dormiam. Só estavam todos juntos no café da manhã e nos domingos. Quando não iam às Caldas visitar a família, logo de manhã iam pescar e depois iam passear no centro da vila. Olinda aprendeu facilmente a pesca e mesmo durante a semana sozinha pescava algo para a família! Embora no inverno fosse mais difícil devido ao nevoeiro e ao barulho do mar, no entanto, ela nunca teve o mesmo problema da irmã. Até gostava de ir na varanda de pilatos ver as ondas espumando baterem nas rochas. Entretanto como tinha terminado as obras e o stand ia ser inaugurado, Francisco estava radiante e o seu pessoal também. A sociedade ia de vento em popa os benefícios aumentavam. E com o stand ainda iam aumentar mais. Mas Olinda sentia que ele andava triste, certamente com saudades da esposa. Ernesto escrevera à mãe em português dizendo que ia bem na escola e que ja tinham televisão em casa e deu o numero do telefone. Maria não escreveu, mas ligou um dia à tarde. Foi Olinda que atendeu a ligação, surpreendida Maria não reconheceu logo a irmã.
– "Alô desculpe quem é você?"
– Olinda: " Olá Maria não reconheces mais a voz ta tua mana?"
– Maria: "Oi Olinda o que estas fazendo aí?"
– Olinda: "Vim para cá cuidar dos meninos, o Francisco por causa do trabalho dele não dava conta do recado. E tu quando vens ver os teus filhos? Sempre estão falando em ti. O Ernesto ficou muito orgulhoso de te poder escrever em português. A Aurélia já está na primeira classe e já sabe ler alguma coisa."
– Maria: "Neste momento não me posso ausentar da França tenho imenso trabalho. Eles não estão aí?"
– Olinda: "Não estão, o tio Paulo foi buscá-los à escola e de lá iam passear no Baleal."
– Maria: "E o Francisco como vai?"
– Olinda: "Sabes nós quase não o vemos ele tem andado muito ocupado com a construção do stand. Olha a inauguração é de domingo próximo a oito dias. Ele ficaria feliz se tu pudesses vir."
– Maria: " Um stand de exposição de carros? Isso quer dizer que a sociedade está forte. Fico feliz por isso. Mas eu não irei. Primeiro porque tenho a minha agenda sobrecarregada e depois Francisco eu estamos de relações cortadas. Acho que jamais nos reconciliaremos. Temos duas visões muito opostas da vida."
– Olinda: " Mas eu sinto que ele anda triste, é difícil para ele viver sem ti."
– Maria: "Olha eu vivo bem sem ele, o meu amor é o meu trabalho. É verdade que sinto a falta dos meninos, mas como sei que eles estão bem com o pai é mais fácil para mim. E sabendo que tu estas aí com eles mais descansada fico."
– Olinda: "É, mas eu não substituo a mãe no coração deles. A Aurélia às vezes chora e pergunta porque é que sua mãe não veio com eles para Portugal. E diz que sente a tua falta. E o Francisco coitado aos domingos à noite vai na varanda de Pilatos e quando volta sei que esteve chorando. Isso me dá pena."
– Maria: "Isso com o tempo passará e ele arranjará outra mulher. Bem agora te deixo dá um beijo aos meninos e depois eu volto a ligar. Adeus."
Olinda se perguntava intimamente como uma mãe podia viver assim longe de seus filhos. E acima de tudo saber que o pai deles sofre por causa dela e ela fica fria sem se importar com ele. A ambição política pode ser destrutiva para uma família, mas também para a pessoa ela mesma. Olinda estava segura que um dia Maria iria sofrer por causa disso. No dia da inauguração do Stand, Olinda foi com aos sobrinhos e ficou encantada com todos aqueles carros novos brilhando e também com todas aqueles convidados e convidadas bem vestidos. Francisco abriu a cerimônia agradecendo a vinda de todos os presentes especialmente ao Presidente da Câmara a quem agradeceu as facilidades que a autarquia lhe concedera. Depois apresentou uma jovem senhora muito elegante, a doutora Mylène Godefroi, como a diretora de vendas para Portugal da importante marca francesa de automóveis. Ela dirigiu-se ao auditório em bom português, mas com um ligeiro sotaque francês. Falou que os seus patrões estavam satisfeitos de poder abrir um stand nesta vila de Peniche e que Francisco era o partenaire ideal, pois até falava francês. Acima de tudo que era um homem direito, honesto e amado de todos, por isso ele teria o maior apoio da parte da marca. Depois entregou uma lembrança a Francisco beijando-o na face. No decorrer do coquetel Francisco apresentou Olinda e os filhos à doutora Mylène. Mas toda a atenção dele era para Mylène. Olinda nessa altura sentiu ciúme! Pegou nos sobrinhos e foi embora para casa! Nos dias que se seguiram Francisco já jantava em casa, mas quase todos os dias a Mylène por essa hora, ligava para ele. Ele se fechava na sala para atender e Olinda enraivava!
– Um dia ela não se pôde suster e disse: "Sabes Francisco eu não gosto nada dessa Mylène, acho que não é mulher para ti. Não tem ar de saber tratar de crianças. Mas se gostas dela casa-te com ela. Eu voltarei para as Caldas."
– Francisco respondeu: "A minha relação com a Mylène é puramente profissional e se me fecho para falar com ela é para estar mais à vontade para tratar dos assuntos do stand. Em quanto a casar eu ainda sou casado com a tua irmã. E quanto aos filhos tu tens sido mais que mãe para eles. Enquanto a situação estiver assim fica descansada que nenhuma outra mulher porá os pés nesta casa." Olinda vermelha como um tomate deu as boas noites e se foi refugiar no quarto lavada em lágrimas. Ele surpreendido com a reação dela não sabia o que pensar.Vamos lá entender as mulheres? Uma quer mais à política que aos filhos. Outra arranja pretextos demais para lhe ligar ou o visitar na garagem. E esta parece que está com ciúmes, porquê? É verdade que no fundo ele não sabia muito sobre as mulheres. Talvez por ser filho único e ter andado sempre agarrado às saias da mãe, na adolescência não tinha tido contacto com moças da sua idade, também viveu muito tempo sozinho, quer antes quer depois do casamento. Talvez em razão de tudo isso ele reconhecia que nunca pôde entender bem Maria. E agora a cunhada reagindo desta maneira! Claro ela gosta muito dos sobrinhos e não aceita que outra mulher se ocupe deles, daí os seus ciúmes. Quanto a Mylène embora seja uma linda mulher e tenha muito boas qualidades ele acha que ela não fará uma boa mãe para os seus filhos. Ela é ja divorciada e tem dois filhos que são criados pelo pai em França. Se ela não cuida dos seus próprios filhos como cuidará dos dele? E acima de tudo ele não a ama. Ele ama sempre a sua Maria. Mas um dia teria de se decidir, pois ela certamente não voltaria mais para ele. E aos 35 anos ele sente a necessidade de ter uma companheira. Mas tinha agora um problema: Olinda! Ele não a queria fazer sofrer, pois ela tinha sacrificado muitas coisas para vir cuidar dos sobrinhos. E refazer a sua vida com outra mulher iria privar Olinda das crianças. No dia seguinte era domingo ele se levantou cuidou do café da manhã e serviu as crianças. Mas Olinda não desceu estava sempre encerrada no quarto. Quando terminaram ele resolveu ir chamá-la, mas ja ela descia a escada. Trazia a sua mala na mão.
– Disse: "Por favor, leva-me ao autocarro eu vou embora." Logo acorreram as crianças que se agarraram a ela chorando.
– Diziam: "Tiazinha não vai embora não, precisamos de ti." Ela não respondeu e saiu e começou a caminhar em direção às portas da vila. Ainda não tinha feito 250 metros o cunhado a alcançou de carro.
– E lhe disse: "Entra, por favor, quero conversar contigo" Ela subiu no carro.
– Francisco: "Eu acho que entendo mal as mulheres, mas de uma coisa estou seguro, eu te devo muito por teres cuidado dos meus filhos até agora. Nunca te poderei pagar a afeição que tens tido por eles e por mim. Mas esta tua reação me surpreende. Me diz o que se passa contigo?"
– Olinda: "Por favor cunhado não diz mais nada. Chorei a noite inteira. Estou muito confusa para te responder agora. Leva-me de volta para casa os meninos ficaram chorando." Respeitando as palavras dela, Francisco deu meia volta e a levou a casa. Depois deste episódio ela andava triste e mal falava quer ao cunhado quer aos meninos. Um dia Myléne se apresentou à porta quando Francisco não estava.
– Olinda ficou cheia de raiva: " O que é que você deseja? O meu cunhado não està."
– Mylène: " Sei que Francisco não está, eu venho falar com você. Me deixa entrar?
– Olinda: " Entre e fale rápido estou muito ocupada."
– Mylène: "Sabe, eu tenho mais experiência na vida que você e se venho aqui hoje é porque entendi que a Olinda ama o seu cunhado. Nós mulheres entendemos estas coisas muito bem. Eu entendi isso no dia da inauguração do Stand. Como Francisco e eu estávamos falando muito, você partiu furiosa com as crianças. Sintomas como esse não me enganam”.
– Olinda: "A Mylène pode ter mais experiência da vida do que eu, mas uma coisa é certa se amo o meu cunhado ou não, não é assunto seu. Mas o meu problema são os meus sobrinhos. Não suportaria que uma mulher qualquer visse nesta casa e não os tratasse bem."
– Mylène: "Olhe eu até simpatizo com você e sei que o Francisco reconhece o que como tia tem feito pelos filhos. Quanto a mim embora o seu cunhado não me seja indiferente não se preocupe porque as nossas relações são puramente profissionais. E eu também tenho dois filhos e não tenho vida para cuidar deles, como poderia cuidar dos seus sobrinhos?"
– Olinda: " Mas porque me veio contar tudo isso?”.
– Mylène: "Ultimamente sinto Francisco preocupado. Então perguntei o que se passa com ele. Ele me disse que era a Olinda que o preocupava até contou que você se quis ir embora. E como estou segura que você está apaixonada por ele te vim tranqüilizar.”.
– Olinda: "Lhe fico obrigada pelo seu cuidado, mas, por favor, não diga nada disto ao meu cunhado.”.
– Mylène: "Esteja descansada isto ficará entre nós.”.
– Olinda: "Desculpe a minha rispidez e frieza para com você."
Beijaram-se e despediram. Olinda ficou envergonhadíssima por Mylène ter adivinhado os seus sentimentos. Mas também ficou aliviada por saber que ela não era sua rival. Alguma perguntas surgiram na sua mente. E se Francisco se apaixonar por uma que não tenha filhos? O que fazer neste caso? Como suportaria ela ter de sair desta casa? Teria coragem de continuar a viver sabendo o seu amado nos braços de outra mulher?
Amor e Ciúme

Olinda aos poucos começou a ser mais aberta e mais simpática com o cunhado. Este ficou satisfeito com a mudança nela e um domingo deixando os meninos com o tio Paulo, convidou-a para irem a Lisboa. Num dos cinemas da capital passavam o filme " Música no Coração". Ouvindo falar na televisão que era uma linda história de amor e com belas canções ela tinha dito que gostaria de ver tal filme. Um pouco para recompensá-la pela sua dedicação aos sobrinhos ele resolveu lavá-la. Almoçaram num restaurante na Avenida do Brasil e depois foram à matinée, no cinema Alvalade. Olinda estava bem feliz embora durante o filme emocionada tivesse chorado. Após o cinema, como ainda era dia e fazia bom tempo foram andar de barco no jardim do Campo Grande. Na viagem de regresso Francisco sentia que esta saída lhe tinha feito bem e que ela estava feliz.
- Então falou: "Vejo que estás bem contente com o meu convite. Pois não paras de sorrir!" - Olinda: "Não tenho palavras para te agradecer este dia. Não só pelo filme mas também por estar na tua companhia. Não sei como a minha irmã deixou um homem tão afável e carinhoso por causa da política."
- Francisco: "Sabes eu gosto muito dela e é difícil para mim viver sem ela, mas mais tarde ou mais cedo eu terei que refazer minha vida. Tenho 35 anos e dois filhos que precisam de uma mãe, mas por outro lado não queria que tu sofresses por não teres os teus sobrinhos. Acho que devias sair mais e tentar arranjar um namorado vens de completar os 23 anos e é bem o tempo de te casares e teres os teus próprios filhos."
- Muito corada Olinda respondeu: "No filme que fomos ver apreciei a maneira como a moça cuidava das crianças, via-se que as amava. Eu me pude ver nessa personagem. É verdade que me afeiçoei muito aos meninos e se um dia tiver de partir sei que vou sofrer. Mas não està no meu pensamento me enamorar e casar."
- Francisco: "Mas entende-me, eu preciso de alguém e certamente se eu trouxer uma mulher para viver comigo tu terás de partir. Se tu arranjasses namoro e te casasses as coisas seriam mais fáceis tanto para mim como para ti."
- Olinda: “E se tal mulher não cuide dos teus filhos como eu, o que farás se eu estiver casada? Para mim era melhor esperares um tempo até eles serem mais crescidos." Francisco não respondeu e fizeram o resto da viagem em silêncio ou falando de outras coisas. Nos dias que se seguiram Francisco andava triste embora Olinda cuidasse bem dele e falasse bem com ele.
- Uma noite ao jantar ela disse: "Escuta, tenho algo para te dizer, mas me envergonho, e não sou capaz de te falar”.
- Francisco: "Sabes que eu sou compreensivo e podes-me dizer tudo. É alguma coisa com os meninos? Ou arranjaste namorado?”
- Olinda: "Não é nada disso. Lembras-te quando viestes à casa dos meus pais pedir a mão da minha irmã? Lembras-te como eu era nesse tempo?"
- Francisco: “Lembro bem, eras uma mocinha muito atinadinha para a tua idade. Também me lembro que não tiravas os olhos de mim!"
- Muito corada, Olinda, falou: "Pois fica sabendo que desde esse dia nunca deixei de te amar. Por isso nunca estive interessada em namorar. Sei que a situação não é fácil para ti, pois és o meu cunhado. Mas prefiro ser franca contigo, te amo e gostaria de ser tua esposa."
- Francisco surpreendido diz: "Olha que escondestes bem isso, pois nunca me apercebi de nada. É verdade que tens mostrado muito carinho por mim, mas daí até eu perceber esses teus sentimentos, estava bem longe. Por um lado essa seria a melhor solução para os meninos e para nós, mas por outro eu ainda amo a tua irmã. Mas deixa-me pensar no assunto." Ela ficou muito aliviada! No entanto passaram-se algumas semanas e ele não tocava no assunto. Chegava tarde a casa e andava muito pensativo e calado. Olinda começou a se arrepender de se ter aberto com ele. Uma tarde tocou o telefone.
- Era Maria sua irmã: "Alô Olinda?"
- Olinda surpreendida: "Olá Maria como estás? Os meninos não param de perguntar por ti."
- Maria: "Eu não te liguei por causa deles. Liguei porque me veio aos ouvidos que estás apaixonada pelo meu marido."
- Olinda tremendo: "Mas ... quem te disse uma coisa dessas?"
- Maria: "A mim nunca me enganaste. Sempre soube que gostavas dele. E tive a confirmação disso após uma reunião de trabalho com uma tal Myléne Godefroi. Falando de Peniche falamos de Francisco e me disse que a cunhada estava apaixonada por ele. Claro ela não sabia nem sabe que eu sou a esposa de Francisco."
- Olinda: “De todos os modos tu o deixaste e ele merece ser feliz. Por isso se ele me quiser, porque não. Serei uma boa mãe para os filhos dele já que tu não o és."
- Maria furiosa: "Ah sim? Pois fica sabendo que amanhã mesmo estarei aí e te ponho fora de casa."
- Olinda: "Vamos ver se poderás, quem me trouxe para cá foi ele e é ele que me mandará embora."
- Maria: "Nunca pensei que a minha própria irmã me faria uma coisa dessas, roubar-me o marido!"
- Olinda: "A última vez que falamos disseste que ja não o querias. Que tinham duas visões opostas da vida e que nunca mais te reconciliarias com ele." Aqui Maria desligou! Nessa noite ao jantar Francisco parecia preocupado com a testa franzida.
- Olinda: "Cunhado pareces preocupado. Tens problemas na garagem?"
- Francisco: " Não, mas a Maria me ligou esta tarde e está furiosa. Disse que amanhã à tarde estará aqui para te mandar embora!"
- Olinda: "A mim também ligou e me disse isso e tu o que pensas?"
- Francisco: "Eu acho que ela não vem, mas se vier eu tenho uma surpresa para ela! Mas tu daqui de casa é que não sais. A partir de hoje esta é a tua casa e os meus filhos serão os teus filhos. E quando o divórcio fôr pronunciado tu serás minha esposa."
- Olinda: "Fico feliz com isso, mas lembra-te que ela é a mãe deles e que eles gostam muito da sua mãe."
- Francisco: "Sei disso, mas foi uma força de expressão por que tu tens sido mais que mãe deles." No dia seguinte Olinda andava preocupada, pois tinha medo que Maria viesse e fizesse escândalo diante dos meninos. Então pediu ao tio Paulo para levá-los depois da escola. Enquanto ela se ocupava com a lida da casa ouviu um ruído de motor. Um carro estacionava diante da porta. Olinda abriu. Era Francisco, ele vinha mais cedo para no caso de Maria aparecer não se encontrarem as duas sozinhas. Uma hora depois Maria chegou.
- Entrou pela casa dentro gritando: “Sua traidora! Vais me pagar caro isso!”.
- Francisco tirando um envelope da gaveta da secretária lhe diz: "Por favor, não quero escândalos aqui, pega este envelope abre e lê." Maria começou a ler e empalideceu. Era uma citação de divórcio contra ela por abandono de família. Ela enraivecida saiu batendo com a porta. E arrancou com o carro a toda a velocidade. Enquanto conduzia se acalmou e chegou à conclusão que os ciúmes a tinham cegado, de todas as maneiras ela nunca poderia se ocupar duma família. As suas atividades políticas tinham aumentado e ela se tinha feito um nome no meio político francês. Madame Maria Marques era um nome temido nos outros partidos e até no seu próprio. Pensando que seu marido e a sua irmã não a temiam, aí a sua raiva sumiu. Com o passar do tempo Francisco e Olinda se aproximavam cada vez mais. Logo ele sentiu que a amava e começaram a fazer projetos quanto ao futuro. Decidiram também não partilharem o mesmo quarto até ao divórcio. Como o casamento dele tinha sido somente civil, um ano depois o divórcio foi pronunciado. Maria não apareceu, mas se fez representar por um advogado. A partir daí o casal passou a viver junto, pois o amor entre eles aumentava cada dia. Mas vizinhos e conhecidos começaram a censurar tal relação. Também os pais de Olinda e Maria não viam aquela ligação com bons olhos. Mas Francisco os tranqüilizou dizendo que em breve iriam casar civilmente e isso calaria a boca às pessoas mal intencionadas que falavam. Seis meses passaram e um sábado de manhã, casaram na conservatória do Registro Civil de Peniche. O copo de água teve lugar no restaurante do Duarte de quem Francisco era grande amigo. Entre os quarenta convidados estava Mylène que tinha sido a testemunha de Francisco. Ela pediu desculpa a Olinda por ter falado a Maria sobre a paixão de Olinda pelo cunhado. Mas ela não sabia que Maria era a esposa de Francisco. Olinda tranquilisou-a dizendo que não havia problema. Olinda Marques estava bem feliz de ser a esposa de Francisco Matias. Uns meses depois compraram uma linda casa, numa nova urbanização, não longe do centro da vila. E eles viviam bem felizes. A casa perto do farol onde Francisco tinha vivido a maior parte da sua vida seria arranjada e alugada a veraneantes para passarem férias de Junho a Setembro. Uma noite quando ele chegou do trabalho reparou que os olhos de Olinda brilhavam muito e que ela estava feliz.
- Olinda disse: “Tenho uma boa noticia para ti. Adivinha o que é!”.
- Francisco: “Sabes que eu não gosto de adivinhas. Mas pelo brilho dos teus olhos acho que estás grávida. Me engano?”.
- Olinda: "Não, fiz o teste hoje e deu positivo. Não sabes como estou feliz."
- Francisco: "O Ernesto e a Aurélia vão ficar contentes por terem um novo irmãozinho. Tu preferes que seja menino ou menina?"
- Olinda: "Sabes eu não tenho preferência o que eu desejo que este bebê afirmará ainda mais o nosso amor."
Entretanto em França, Maria continua suas atividades políticas. A sua ambição não tem limites. Mas a sua vida sentimental é estéril e por vezes se sente só e pensando a seus filhos reconhece que a política não é tudo na vida. Nessa altura a sua amiga Brigitte Leclerc veio a Paris tratar de assuntos do PS português. As duas amigas caíram nos braços uma da outra. Brigitte contou que tinha estado em Peniche durante alguns meses trabalhando na sede do partido ali. Entretanto tinha conhecido Olinda e Francisco e se tinham tornado grandes amigos. Também falou que Ernesto e Aurélia estavam bem crescidos e eram muito educados. Mais tarde decidiram ir a Bruxelas visitar Arnaud que, entretanto já tinha saído da clinica. Em viagem Brigitte contou que Arnaud e ela tinham tido uma ligação antes de terem sido presos. Maria enraiveceu, pois ela estava amando Arnaud. E o ciúme veio ao de cima!
- Maria: “Mas porque não me contaste isso antes. Arnaud e eu nos amamos e provavelmente casaremos brevemente."
- Brigitte: “Como querias que te contasse se esta a primeira vez que estamos juntas depois de mais de cinco anos? E tenho a certeza que Arnaud me ama a mim porque estamos trocando correspondência depois de um ano."
- Furiosa Maria respondeu: “Isso é o que veremos quando lá chegarmos. Eu visitei-o na clinica várias vezes e tu nunca quiseste saber dele”.
- Brigitte: “Somente soube que estava em vida há um ano e com as minhas atividades em Portugal, não me foi possível vir antes”.
- Maria: “Deixemos que ele escolha, mas tenho a certeza que me escolherá a mim. Eu tenho uma posição mais importante que tu e sou muito mais mulher que tu. E até sou mais bonita que tu!”.
- Enraivecida Brigitte replicou: “Isso é o que iremos ver, é verdade o que disseste sobre ti, mas ele me conhece melhor que a ti. Eu sou muito mais carinhosa que tu e saberei fazê-lo feliz. Ele me escolherá a mim". Depois desta troca de mimos entre as duas o silêncio reinou até ao fim da viagem. Durante o almoço na casa de Arnaud elas não trocaram palavra e os presentes deram-se conta de que havia algo entre elas. O pai dele Marc, para atenuar a atmosfera ambiente começou a falar da saúde do filho. Embora estivesse dado como curado ainda tinha seqüelas irreversíveis. Arnaud não mais seria o mesmo que antes. Tinha problemas de hipertensão, duas vértebras cervicais machucadas. Também de vez em quando sofria dores de cabeça atrozes. Devido a um problema nos joelhos teria de usar uma bengala até ao fim da sua vida. Enquanto ele falava Maria e Brigitte olhavam uma para a outra e também para Arnaud. No fim do almoço saíram para o jardim atrás da casa.
- Arnaud falou então: “Fiquei feliz pela visita das minhas melhores amigas. Não sei como vos agradecer o vosso cuidado. Como vêem eu estou praticamente um inválido. Estou triste por não poder retomar as minhas atividades."
- Maria: “Realmente a Pide deu cabo da tua vida, mas acho que devias tentar fazer algo por ti. Talvez continuares os estudos e mesmo te ocupares, mesmo em casa de certas atividades políticas”.
- Brigite: "Maria tem razão. Se bem me lembro antes de sairmos de Paris estavas escrevendo para um jornal e também tinhas um projeto de livro. Acho que devias continuar."
- Arnaud: “É verdade, isso me poderá ajudar ao menos no moral porque de vez em quando tenho vontade de morrer. Me pergunto porque me salvaram a vida, seria melhor eu ter morrido no mar."
- Maria: "Não sejas tonto amigo ainda podes vir a ser muito feliz. Ainda podes casar e fundar uma família. E com uma mulher a teu lado será mais fácil para ti suportar teus problemas de saúde."
- Brigitte: “Sei que ele ainda vai ser feliz. Se tu quiseres amigo eu vou cuidar de ti. Lembras-te daqueles dias antes de sermos presos como vivemos felizes?"
- Arnaud: “Sabem vocês estão falando de arranjar uma mulher para me ajudar, mas já tenho uma. É a enfermeira que vem todos os dias cuidar de mim. Se eu arranjar uma mulher e casar a minha esposa terá de ser também a minha enfermeira!"
- Maria: “Como falamos a ultima vez que te visitei, já estou divorciada e gostaria de refazer minha vida . Dei mesmo a entender que não me importava que fosse contigo. Lembras-te?"
- Arnaud: " Sim me lembro. Mas tu sabes bem que não tens vida para cuidar de mim. ja viste o que era eu ficar sozinho dias inteiros enquanto Madame Maria Marques brilha nas arenas políticas?"
- Maria: "Claro já estás a falar como o meu ex-marido, mas fica sabendo que Brigitte não cuidará melhor de ti do que eu. Ela também está muito ocupada na política em Portugal."
- Brigite: "Estás enganada Maria. A diferença entre mim e ti é que tu és ambiciosa demais e colocas a tua ambição à frente do amor e da família. Porém eu tenho agora muita atividade porque sou solteira, mas o dia que me casar, as atividades políticas passam ao segundo plano."
- Arnaud: “Por favor, não me obriguem a escolher entre as duas. Mas uma coisa é certa os médicos me recomendaram uma mudança de clima para me ajudar a recuperar. Por isso eu preferia ir para Portugal do que ficar em França."
- Maria: “Estou a ver que já escolheste o teu campo. Muito bem, mas eu estarei vigiando sobre ti. E não deixarei que Brigitte te trate mal."
- Brigitte: “Não precisas te incomodar com isso porque se o Arnaud me quiser eu saberei ajudá-lo a ser feliz. Sabes, eu já pensei em tudo. Como fui designada para dirigir o partido no Algarve ja aluguei um apartamento em Faro. O clima é excelente para Arnaud. Conhecendo os diretores de alguns colégios poderei arranjar um lugar de professor de francês e alemão para Arnaud."
- Arnaud: “Estou mesmo emocionado Brigitte porque chego à conclusão que nunca me deixaste de amar. Fica sabendo que eu também não. Estou achando que irei mesmo para o Algarve". Furiosa Maria não conseguiu esconder os ciúmes e despediu-se da família de Arnaud pegou o carro e partiu para França sem se importar com Brigitte. Entrou na auto estrada Bruxelas-Paris, mas a raiva dela não diminuiu ao contrário o ciúme dela ainda aumentou a raiva. Já em França, indo a alta velocidade e não tendo em conta o pavimento molhado pela chuva, a viatura derrapou saiu da estrada e caiu num barranco. Maria foi cuspida do carro e ficou como que morta a cem metros do carro estampado! O ciúme tal como a paixão cega as pessoas!

Vida e Esperança

O acidente de Maria, com a foto do carro espatifado fazia a primeira página da maior parte dos jornais franceses. No jornal Le Monde o artigo se intitulava: "Madame Maria Marques vitima de um acidente!" E continuava dizendo: "A nova deputada socialista madame Maria Marques sofreu um despiste na auto estrada perto de Valenciennes. O piso molhado e velocidade exagerada parecem ser as causas do acidente. Embora não esteja em perigo de vida seu estado inspira cuidado. O diretor do hospital de Valenciennes informou a imprensa que devido ao estado em que ficou a viatura se receava contusões graves, mas felizmente só tem ferimentos com alguma gravidade, mas a vitima está em estado de choque. Segundo as ultimas informações o presidente do partido socialista visitou ontem à noite a deputada no seu leito de hospital." Em Bruxelas Arnaud e Brigite tiveram, a noticia do acidente nas informações das 22,00 horas do dia do acidente. No dia seguinte seguiram para Valenciennes no carro do pai de Arnaud. Encontraram Maria muito combalida com a cabeça envolta em ligaduras e uma perna engessada. Mas com boa moral.
- Maria: “Obrigada pelos vossos cuidados, mas dentro de dias estarei como nova. Mas sabem isto aconteceu para que eu aprenda a controlar os meus nervos. E que também não me deixe cegar pelo ciúme”.
- Arnaud: "Ficamos muito inquietos embora as noticias diziam que estavas em vida. Sim é verdade que ontem partiste como uma louca. Mas nunca pensamos que te iria acontecer isso!" - Brigitte: “Espero que já te tenha passado o ciúme e que possamos continuar amigas como dantes. Arnaud e eu partiremos no próximo fim de semana para o Algarve. E casaremos dentro de uns meses. Desde já estás convidada pra seres a minha madrinha de casamento."
- Maria: “Não se preocupem reconheço que fui inconseqüente comigo mesma. Também acho que os meus ciúmes não tinham fundamento. Quanto a ser madrinha do casamento se puder aceitarei de bom grado. E acho que certamente continuaremos a ser bem amigos como o fomos sempre!”
Entretanto em Portugal a notícia do acidente tinha saído em toda a mídia portuguesa. Francisco, Olinda e os meninos estavam jantando na casa dos pais nas Caldas quando viram no Telejornal a foto do carro destruído, a informação dizia que, vítima de um acidente da estrada, Maria Marques deputada socialista em França não estava em perigo de vida. Seguiu uma entrevista do Presidente de PS português onde ele dizia que sua família e amigos não ficassem em cuidados que Maria Marques só tinha sofrido ferimentos sem gravidade. Embora isto tenha tranqüilizado a família, Ernesto e Aurélia estavam tristes e choraram por causa da mãe. No dia seguinte tocou o telefone Olinda atendeu era Mylène que ligava de Paris.
- “Alô Olinda estão todos bem por aí?”.
- Olinda: "Sim tudo bem. Estás ao corrente do acidente da minha irmã?"
- Mylène: “Sim e fui visitá-la no hospital ela está bem. Me pediu para vos ligar afim de que vos tranqüilizar."
- Olinda: “Mas porque se deu tal acidente? Ela é muito prudente a conduzir!"
- Mylène: "Sim, mas parece que estava nervosa e conduzia com velocidade exagerada sobre o asfalto molhado o carro derrapou e se despistou, felizmente que ela foi projetada, se ficasse dentro do carro não se tinha aproveitado nada dela."
- Olinda: “Sim vi a foto do carro completamente destruído na televisão. Acho que ela teve muita sorte. Olha as crianças fartaram-se de chorar."
- Mylène: "É normal é a mãe deles. Olha só espero que este acidente a faça refletir à sua vida. E que a partir de agora demonstre mais amor pelos filhos. A mim me fez refletir e eu acho também que me vou ocupar mais dos meus."
- Olinda: “Mylène te agradeço o telefonema e quando vieres a Peniche tenho prazer em te receber na minha casa."
- Mylène: “Obrigado e beijos a todos vós."
Semanas depois Maria saiu do hospital e para se restabelecer completamente foi passar um mês em casa do seu antigo professor. Ele e sua esposa ajudaram-na a recuperar de seus ferimentos. No entanto estando ausente do meio político veio-lhe aos ouvidos que nas instâncias do partido algumas vozes se levantavam contra ela. Achavam que ela não era indispensável e que era tempo de a substituir. Logo que retomou suas atividades ela estava decidida a calar tais bocas. A partir desse momento , como ela tinha o apoio do presidente do partido, calculadora e fria começou ser mais dura ainda com os seus colaboradores. E os que falaram contra ela sofreram as conseqüências disso. Uns foram enviados para cidades do Norte da França e outros foram simplesmente demitidos. Ora isto por um lado fortaleceu a sua posição no seio do partido, mas por outro lado criou-lhe muitas inimizades. Recebeu varias cartas anônimas com ameaças de morte! Um dia entrando no carro viu um pedaço de fio vermelho solto perto do pedal do acelerador. Ela saiu do carro e chamou a policia. Após examinarem a viatura os desarmadilhadores do exército descobriram uma bomba pronta a explodir ao funcionamento do motor de arranque. A imprensa francesa não abafou o caso, mas até foram longe demais na cobertura deste atentado falhado. Le jornal Le Matin no seu editorial intitulado "Vingança política" se podia ler: "A deputada socialista Maria Marques escapou à justa a un atentado, seu carro foi armadilhado. Como nestes últimos tempos a deputada tem tido mão de ferro contra seus inimigos dentro do seu próprio partido, certamente ela està sendo vítima duma vingança política. O inquérito policial vai na direção de seus inimigos políticos. Alguns ja foram interrogados pelo Juiz de instrução criminal. Esta situação coloca o PS em má posição em relação às futuras eleições..." Todos estes acontecimentos fizeram com que ela tomasse todas as precauções, mas, sobretudo começou a duvidar do bem fundado da sua decisão de enveredar por uma carreira política. Começou a achar que colocar a política à frente de tudo na vida tinha sido um erro. Tinha perdido o homem amado e o amor dos seus filhos para quê? Para estar ameaçada de morte. A cada esquina de rua um assassino emboscado poderia estar atentando contra a sua vida! A direção do partido se reuniu e foi decidido descarregar Maria Marques de certas responsabilidades. E também prover um guarda-costas para assegurar a sua proteção. Nesta ocasião recebeu uma carta de Brigitte a convidá-la para ser madrinha do casamento que teria lugar dentro de mês e meio. Ela respondeu que teria muito prazer em aceitar. E como teria de tirar férias aproveitava essa ocasião. Entretanto o guarda-costas que se chamava Alain Pires era bastante eficiente no seu trabalho e Maria sentia-se em segurança junto dele. Quando chegou a data do casamento de Brigitte e Arnaud, viajaram os dois para o Algarve. O casamento foi na cidade de Faro onde o casal reside. Para a boda tinham sido convidadas mais de 200 pessoas entre eles estavam Francisco, Olinda grávida de sete meses, e Aurélia e Ernesto. Maria ficou feliz em abraçar os filhos o ex-marido e a irmã. Ela apresentou Alain como sendo seu guarda-costas e amigo. Arnaud e Brigitte estavam felizes por se verem rodeados de tantos amigos.Como não partiram em lua de mel devido ao trabalho de Arnaud como professor, no dia seguinte os amigos mais chegados bem como a família de Arnaud almoçou junta. No decorrer da conversa Francisco abordou o assunto daquela estranha madrugada e da noite de 24 de Abril de 1974. Arnaud contou o episódio das alianças e de seu dedo cortado e lançado ao mar. Francisco falou do submarino e do barco que ele viu desaparecer de diante dos seus olhos. Aí Marc o pai de Arnaud interveio.
Falando traduzido pela nora disse: "Como já se passaram vários anos depois da revolução eu posso falar disso. Em Bruxelas a 15 de abril, se encontrava um certo General reformado pelo antigo regime, quando recebeu a confirmação que o golpe de estado estava programado para a noite de 24 para 25 de Abril ele pediu ajuda às autoridades belgas.
Precisava voltar a Portugal o mais rapidamente possível totalmente incógnito, pois a PIDE vigiava sobre ele.
Como o primeiro ministro belga na altura era do PS, junto como o ministro da Defesa, também socialista, providenciaram um submarino para o conduzir a Portugal.
Esta seria a melhor maneira de assegurar o sigilo sobre o retorno do general a Portugal. Mas o submarino ao chegar nas águas portuguesas sofreu uma avaria técnica e não podia continuar sobre Lisboa.
O comandante decidiu deixar o General ao cuidado de dois de seus homens e desembarcá-lo em Peniche. Enquanto o submarino rumava para Vigo afim se ser reparado.
Eu só sei até aqui o que se passou depois ja não sei".
- Francisco: "Eu sei que esse General ás cinco da manhã ja estava dirigindo o MFA. Mas a pergunta que sempre faço é: Onde desembarcou então? Eu não vi desembarcar ninguém e o pneumático desapareceu diante da minha vista."
- Então Brigitte falou: "Sabe Francisco os homens que protegiam o general viram alguém na estrada de mota que parecia segui-los então afundaram o pneumático e foram a nado até a ilha do Baleal. Sabe, ali estava um contacto que tinha sido prevenido por telefone a partir do submarino, os esperando. Providenciou roupa seca algumas bebidas quentes e como era a maré baixa conseguiram ir a pé até à entrada da vila. Lá o contacto foi buscar um amigo com uma viatura que conduziu os três homens a Lisboa desta forma o General chegou a tempo para dirigir o resto das operações e durante o dia receber o poder das mãos de Marcelo Caetano. Quem me contou tudo isso foi o Doutor Presidente do PS."
- Francisco: "Como eu fui bem enganado? Eu gostava de conhecer esses homens belgas para lhes dar um puxão de orelhas. (Rindo continuou) Se esse contacto é penicheiro eu devo conhecê-lo. Quem será?"
- Nisto Maria disse: "Sabes quando estive em Peniche a organizar o partido logo depois do 25 de abril eu o conheci como militante do partido e me ajudou muito no meu trabalho. Mas eu nunca te disse nada. Eu ja o conhecia antes e tu ainda melhor do que eu, pois o conheces desde menino!"
- Francisco: “Como assim desde menino? Eu fui sempre criado lá em cima e pouco contato tinha. Era da escola para casa e de casa para a escola. A menos que seja o meu antigo professor."
- Maria: “Nada disso estás muito longe de pensar, mas vou-te ajudar. Quem foi o teu melhor amigo na tua infância e juventude? Quem tem uma casa na ilha do Baleal que aluga aos veraneantes depois de mais de vinte anos?"
- Francisco: "Não me digas que é o meu tio Paulo? Por isso depois que enviuvou levava uma vida pacata, mas muito misteriosa. Ás vezes precisava dele, mas nunca sabia onde ele estava. Estava às vezes três ou quatro dias sem o ver. Depois sem mais menos aparecia."
- "Sim, disse Maria, durante muitos anos ele protegeu e ajudou bastantes opositores ao regime quer fossem socialistas, quer comunistas, a fugirem para Espanha por mar. Olha o general Humberto Delgado foi um deles."
- "Ai o malandro do meu tio vai ter que se haver comigo quando chegar a Peniche, disse Francisco." Enquanto Arnaud seu pai e Francisco conversavam Maria, Olinda e Brigitte se afastaram um pouco e falavam da gravidez de Olinda. Maria deu-lhe alguns conselhos sobre os últimos meses da gravidez e sobre o parto! Brigitte falava do seu noivo como ele tinha recuperado muito depois que tinha vindo da Bélgica. E que o seu trabalho como professor também ajudava, sobretudo moralmente. Então Maria contou todos os dissabores sofridos em França por causa da política.
- "Ai mana como toda a família anda preocupada por causa desse atentado falhado. Achamos que da próxima vez talvez não falhem", falou Olinda!
- Maria: “Pois ,mas tenho o Alain que vigia sobre mim e assim vivo mais tranqüila, no entanto acho que mais tarde ou mais cedo deixo a política. Como me formei em direito posso ser advogada quer em França quer em Portugal”.
- Brigitte: “Olha eu acho que o Alain é bem eficiente não te larga nem um minuto, até parece um namorado ciumento que não deixa nenhum homem se aproximar de ti. Eu ontem à noite reparei que quando falavas com o teu ex-marido ele parecia inquieto”.
- Maria: “Sabem, eu sei que ele me protege assim porque me ama, se declarou a mim na viagem. Eu não sei o que pensar, mas acho que seria um bom marido para mim." Logo se despediram, pois a família Matias devia partir para Peniche antes do anoitecer.Essa noite pelas 23 horas, no hotel quando Maria ja se preparava para se deitar, Alain bateu à porta do quarto.
- "Maria, recebi uma ligação do presidente dizendo que é melhor para nós não embarcarmos amanhã para Paris como previsto. Ele não te ligou diretamente no quarto pensava que ja estivesses dormindo. Mas pediu para lhe ligares amanhã à primeira hora a situação està grave em Paris um dos teus inimigos foi preso acusado de encomendar o teu atentado.
- Maria: “Mas o que vou fazer à minha vida com tanto trabalho lá à minha espera? Acho que o presidente é um medricas, eu não tenho medo. E amanhã embarco mesmo."
- Alain: “Não é prudente fazer isso. Não é uma questão de ser medricas. É a credibilidade política do partido que està em jogo. Parece que a máfia està envolvida no assunto e há um contrato para te tirarem a vida”.
- Maria: "De todas as maneiras eu não tenho medo. Bem, mas o melhor agora é ir dormir e amanhã veremos o que o patrão tem a nos dizer". No dia seguinte bem cedo foi o presidente que ligou e durante uma hora explicou a Maria a situação. Lionel Durand ex-membro da direção do PS licenciado por Maria Marques vinha de ser encarcerado na prisão de la Santé em Paris. É acusado de ter comandado o atentado da viatura armadilhada. Conhecendo as ligações que ele tem com a máfia italiana e americana receia-se que Maria e o PS sofram violentas represálias. O que se sabe ao certo é que há um contrato sobre a vida de Maria ela pode ser assassinada não importa onde. Desta forma é impossível voltar em França. Mesmo em Portugal é perigoso! Mas se està organizando tudo para que Maria deixe a Europa junto com Alain. Não há outra solução. Terá que demissionar da direção do partido. E deve abandonar a cadeira de deputada no Parlamento. Sobretudo devia ficar em Portugal e aguardar as instruções. Maria ficou totalmente arrasada com tudo isto Durante quase oito anos tinha servido o PS com devoção e luta, para quê? Em vez de a defenderem e protegerem a demissionavam das suas funções. Tudo isso por causa da credibilidade do Partido em relação às próximas eleições. Se a sua vida está ameaçada pela máfia onde se esconder? Que vai o partido fazer por ela? Se tiver de deixar a Europa nunca mais verá os filhos! Que erro ter abandonado tudo pela política. Como està arrependida! Que esperança em relação ao futuro para ela?. No dia seguinte na recepção do hotel se encontrava um grande envelope dirigido a Alain Pires. Tinha vindo pela mala diplomática. Dentro se encontrava uma forte soma de dinheiro em travels cheques, dois passaportes ao nome de Natalie Deschamps - Ferder e Frederic Ferder e também duas passagens da Varig para o Rio de Janeiro. Uma carta explicava que a partir de agora Maria e Alain eram um casal francês que estavam mandatados por uma importante multinacional francesa para abrir uma representação no Brasil. Junto estavam todas as credenciais necessàrias em nome de Natalie Deschamps e Frederic Ferder. A carta explicava que devido aos leais serviços prestados ao PS francês e português, fora tudo organizado de modo a que a vida de Maria fosse preservada. A passagem de Lisboa para o Rio estava marcada para o fim dessa tarde mesmo. Ora isto nem dava tempo para ao menos se despedir dos filhos. Alugaram um carro se despediram de Brigitte e Arnaud sem lhes contarem a verdade. A partir daí Maria Marques de dupla nacionalidade Luso Francesa, não existia mais. Iria desaparecer para sempre! Na viagem para o Rio, Maria baixinho chorava apoiada no ombro de Alain este a acarinhava e a consolava. No fundo o assunto não tinha sido mal resolvido, ao contrário eles iriam começar uma nova vida. A felicidade deles só dependia dela se aceitava ou não a proposta de casamento de Alain. Aqui Maria deu uma grande gargalhada que o surpreendeu.
- E disse: “Mas nós já somos casados. Vê no bilhete do avião. Monsieur e madame Ferder! E no passaporte tenho o nome de Ferder. Já somos marido e mulher querido Frederic."
- Alain: "Mas ainda não disseste que me amas, estarmos casados é apenas uma cobertura para a tua fuga. Na vigem para o Algarve eu disse que te amava e tu limitaste-te a sorrir. Parecia que estavas a zombar de mim."
- Maria: “Sabes porque sorri? Porque já não é a primeira vez que uma personalidade se enamora do seu guarda costas e vice versa. Mas a tua declaração exigia reflexão, pois já fiz sofrer uma família e não quero que o caso se repita. Mas o destino decidiu. A personalidade importante desapareceu. Agora ficou um casal unido na vida e nos negócios que tem a esperança de viver a verdadeira felicidade. Mas fica sabendo que te amo meu querido Frederic e tu amas a tua Natalie, porque ficar preocupado meu amor?"

Epílogo

O desaparecimento de Maria Marques provocou no meio político francês uma polêmica enorme. Para a imprensa francesa ela estaria em Portugal seu país natal e não voltaria mais em França tanto mais que seus inimigos nunca mais a deixariam em paz. Para a opinião publica decepcionada pela política era simples Maria Marques desaparecera talvez numa placa de "béton". Seus inimigos políticos a assassinaram e fizeram desaparecer o corpo numa coluna de cimento armado. Em Portugal o Governo pressionado pela imprensa e a opinião pública protestou sem convicção junto das autoridades francesas e um suposto inquérito foi aberto. Claro na família de Maria choraram amargamente, para eles ela tinha sido assassinada. O Ernesto de 12 anos e a Aurélia de quase dez sofreram muito com a perda da sua querida mãezinha. Ela não voltaria mais. Durante dias choraram embora a sua tia os consolasse e encorajasse. Para Francisco foi também difícil a situação, pois Maria tinha sido a sua primeira esposa e mãe dos seus filhos. Mas a vida continua e aos poucos a dor foi passando. Mês e meio depois Olinda deu à luz uma linda menina a quem deram o nome de Maria Olinda. Ernesto e Aurélia estavam contentes por terem uma nova irmãzinha. Olinda e Francisco estavam felicíssimos, este lindo bebê veio no momento certo para fortalecer o seu amor mútuo. Dois meses depois aconteceu algo que veio perturbar a sua felicidade. O tio Paulo Matias com 72 anos faleceu de repente duma ruptura de anevrismo. Ao funeral compareceram varias personalidades do mundo político. No cemitério um membro destacado da direção do Partido Comunista fez um pequeno discurso: "Queridos amigos que dizer de Paulo Matias a quem estamos acompanhando à sua ultima morada? A maioria dos presentes não sabe, mas o nosso malogrado amigo por muitos anos serviu a democracia em Portugal. Era pacato e discreto, mas muitas vezes arriscou a sua própria vida para ajudar muitos militantes quer socialistas quer comunistas a fugir às perseguições do antigo regime. Embora fosse socialista nós reconhecemos o muito que nos ajudou. Paulo Matias é um herói da luta contra a ditadura Salazarista. Nós já solicitamos à Presidência da República para que ele seja condecorado a titulo póstumo. Ao seu sobrinho Francisco Matias e à sua restante família apresento em nome do meu partido os nossos sinceros pêsames." Para a família Matias foi uma perda enorme o falecimento do tio Paulo, sobretudo Aurélia e Ernesto perderam o seu único tio e melhor amigo. Com o passar do tempo os negócios de Francisco prosperaram e ele investiu as suas poupanças na Bolsa de Valores. A pouco e pouco tinha ações em vadias sociedades e cada ano os seus dividendos aumentavam. Os filhos mais velhos faziam bom progresso na escola e a Maria Olinda crescia e se tornava cada vez mais linda. Mas a felicidade desta família uma vez mais sofreu um golpe. Olinda ficou de novo grávida, mas perdeu o bebê e os médicos disseram que era arriscado engravidar de novo. O melhor seria fazer a ligadura das trompas. Desta maneira Olinda não daria mais filhos a Francisco. Quem consolou Olinda foi Brigitte que veio com Arnaud a Peniche visitá-los. Ela estava grávida de cinco meses e convidou o casal Matias para serem os padrinhos do bebê. No tempo devido nasceu a Brigitte um lindo menino a quem puseram o nome do avô paterno Marc. Mylène estava sempre ligando de França a Olinda e um dia tinha uma excelente noticia. Ela e seu ex-marido e pai dos seus filhos em breve iam casar novamente. Em outubro de 1983 devido a que a sua fortuna tinha aumentado consideravelmente Francisco e Olinda decidiram passar as férias de Natal ao Brasil. Toda a vida ele tinha sonhado visitar esse pais irmão. Toda a família estava feliz de poder fazer tal viagem. Em quinze dias visitariam São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. Como seria o inicio do verão ali se deleitariam nas belas praias brasileiras. O dia da partida chegou e eufóricos viajaram para o Rio de Janeiro. Mas Francisco tinha alguns assuntos dos seus negócios a tratar no Brasil especialmente em S. Paulo. Depois de desfrutaram das belas praias cariocas viajaram para aquela cidade. Uma tarde, foram num novo centro comercial que abrira naquele dia. Aurélia estava vendo um linda montra com decoração de Natal. De repente passou uma senhora alta bem vestida. Aurèlia ficou de boca aberta, a senhora era a sua mãe, ou uma sósia dela. Mas não, era bem a sua mãe! Surpreendida hesitou uns momentos. Quando ia para a chamar, a senhora perdera-se no meio da multidão que estava afluindo no centro comercial. Aurélia entrou correndo na loja onde estavam os familiares comprando uns sapatos para Ernesto.
- Ofegando disse: "Pai eu venho de ver a mãe passar aqui diante da loja. Com a surpresa hesitei em chamá-la e ela sumiu no meio das pessoas".
- Olinda e Francisco juntos: "Tens a certeza menina?"
- Aurélia: "Absoluta é ela mesmo não tenho nenhuma dúvida. A minha mãezinha não està morta, e eu sempre acreditei que ela vivia em qualquer parte. Ela vive aqui em S.Paulo papai!" Incrédulos o pai a Olinda e o Ernesto se entre olhando não a acreditaram. Ela simplesmente confundira a mãe com outra pessoa. Não era possível. Embora o seu corpo nunca tivesse sido encontrado certamente tinha sido assassinada. Ora não lhe tinham armadilhado o carro uma vez? A menina certamente fora vitima de uma confusão. No dia seguinte deixando a família no hotel, Francisco saiu para tratar de alguns dos seus negócios. Entrando num banco e esperando a sua vez na fila olhando pelo vidro da montra viu uma senhora entrar num carro e arrancar. Impossível! Não podia ser! Aquela mulher era Maria! Não tinha nenhuma dúvida! Afinal Aurélia talvez tivesse razão.
- De volta no hotel contou o sucedido: "Tenho a certeza que Maria está viva venho de a ver entrar num carro e arrancar. Embora a tenha visto de relance pelo modo de arrancar não tenho nenhuma dúvida. A Aurélia tinha razão Maria está aqui em S. Paulo".
- Olinda: "Se tens a certeza disso ao menos sabemos que está em vida. Mas como fazer para a encontrar? São Paulo é uma grande cidade com vários milhões de habitantes".
- Ernesto: "Custe o que custar temos de encontrar a minha mãe. Quero a ver e abraçar".
- Aurélia: "Sabes mano o que vamos fazer? Vamos buscar nos catálogos telefônicos Certamente o seu nome estará lá. Se tem carro também deve ter telefone!"
- Ernesto: "Boa idéia vamos começar já, pois aqui no quarto tem os catálogos". Depois de vadias horas de busca e algumas ligações tiveram de se render à evidência o nome da sua mãe não constava em nenhum catálogo telefônico. As vadias Marias Marques a quem ligaram eram todas brasileiras. No dia seguinte de manhã Francisco se dirigiu a um dos endereços que lhe tinha dado Mylène era um cartão de visita ao nome de Natalie Deschamps e Frederic Ferder, Avenida Amazonas – São Paulo. Trata-se de um casal francês que se ocupa da multinacional de construção automóvel da qual Francisco é um acionário importante. Com este casal ele queria saber das possibilidades de ingressar nos quadros da empresa. Ele tinha gostado tanto do Brasil que gostaria de dentro de algum tempo voltar e se instalar definitivamente neste lindo país. Era um edifício moderno entrou no elevador e subiu ao décimo andar. Quem veio abrir a porta foi um homem bastante bronzeado de boa estatura, físico de atleta que se apresentou como sendo Frederic Ferder.
- Surpreendido disse: "O senhor de onde é em Portugal? A sua cara eu seu nome não me são estranhos!"
- Francisco: "Olhe que o seu nome não me diz nada, mas a sua cara também não me é estranha. Eu ja o vi em algum lugar".
- Nisto se ouviu uma voz de mulher: "Meu bem quem está recebendo à porta? Por favor, manda entrar eu já estou chegando!"
- Frederic: "Senhor é a minha esposa entre e sente-se aqui na salinha. Ela vai chegar, acabou de sair do banho".
- Francisco: "Obrigado. Mas sabe a voz da sua esposa não me é estranha, até diria que...”.
- Uma senhora apareceu envolta num roupão e diz: "Francisco és tu????? Como foi possível me teres descoberto?
- Surpreendido Francisco diz: "Maria como é possível? Pensávamos que tinhas sido assassinada! Aurélia tinha razão ela te viu anteontem no centro comercial E eu também te vi ontem quando fui no banco!" Logo Maria contou a razão da sua fuga precipitada e como começou uma nova vida no Brasil. Por questões de sua segurança pessoal não tinha informado a família que, todavia estava viva. Francisco disse que veio passar férias com a família!
- "Que legal, diz Maria, como gostaria de abraçar os meus filhos!”.
- Francisco: "E também te quero apresentar alguém de quem serias a madrinha se estivesses em Portugal quando ela foi batizada."
Maria: "Ah sim e é menino ou menina? Ja deve ter três anos não?”
– Francisco: "É uma menina e vai fazer quatro anos e sabes como se chama? Maria Olinda!"
– Maria: "Que lindo! O nome da mãe e da tia!" Combinaram jantarem juntos nessa mesma noite num dos melhores restaurantes português de São Paulo. A alegria de Olinda e dos sobrinhos foi imensa. Maria abraçada aos filhos chorava de alegria. Alain e Francisco falavam de negócios. No fim do jantar combinaram continuarem juntos até ao fim das férias. Juntos de carro, de barco e de avião visitaram a Amazônia e muitas cidades brasileiras incluindo Brasília. Logo chegou o tempo de voltar em Portugal as férias estavam a terminando. No entanto a separação seria de curta duração. Em junho no fim do ano escolar voltariam, mas desta vez para se instalarem definitivamente no Brasil. Francisco seria encarregado de construir uma nova linha de montagem de automóveis no sul do Brasil. Maria e Alain, aliás, Natalie e Frederic se ocupariam de fazer todos os preparativos necessários à vinda deles.
Numa noite de abril de 1984 dois meses antes de sua partida para o Brasil, Olinda e Francisco foram na ”Varanda de Pilatos" é noite de lua cheia e o mar está calmo. Ali durante bastante tempo rememoraram o que tem sido a sua vida. Realmente mesmo no meio de tanto sofrimento a vida os tem enchido de felicidade. Têm três filhos maravilhosos! Eles se amam muito e entre eles nunca houve o mínimo problema. E depois com a mudança para o Brasil a vida ainda será melhor. Enquanto Olinda falava Francisco pensava em Maria e aos anos em que ele vinha ali chorar amargamente a ausência dela. Então veio à sua mente aquela Estranha Madrugada de 24 de abril de 1974, e relembrou aqueles acontecimentos estranhos. Como tinha sofrido naquela altura especialmente durante aquela noite de tempestade. Como andou louco com o desaparecimento do carro e do barco. Como sofreu pensando que tinha acontecido algo a Maria quando encontrou a aliança dela dentro daquele peixe. Mas os acontecimentos dessa terrível noite e da estranha madrugada que se seguiu certamente tinham mudado a sua vida. Hoje 10 anos depois estava feliz ali naquele lugar romântico escavado pela natureza. "Varanda de Pilatos" que fora quantas vezes a testemunha da sua infelicidade e tristeza. Agora esse lugar estava sendo testemunha da sua felicidade! Passando seus braços à volta do pescoço de Olinda a sua querida amada a beijou ternamente. E ali juntinhos pediram a Deus que os abençoe pelo resto da vida! Ao longe se ouvia uma canção como que embalada pelo mar:
“Só nós dois é que sabemos”
“Só nós dois compreendemos”

“Quanto nos queremos bem...”
“Só nós dois e mais ninguém”

Esta narração baseada em fatos da vida real nos mostra que somos nós que fazemos o nosso destino. Somos nós mesmos pelas nossas decisões boas ou más que fazemos a nossa felicidade ou a nossa infelicidade. Nos ajuda também a compreender a importância da família na vida. Os valores familiares se estão perdendo dia após dia. Assim como Francisco e Olinda lute pela harmonia familiar e dê um ambiente são e equilibrado aos seus filhos. Nunca seja como Maria que colocou suas ambições políticas perigosas à frente do amor e da família. Vimos também como o ciúme incontrolado pode destruir a felicidade. Que a Estranha Madrugada se transforme em muitos dias lindos de amor e felicidade para todos nós!
FIM

 


 

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sábado, março 26, 2011 - 16:58

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