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ESTRANHA MADRUGADA por Victor Alexandre

                               Prefácio
Portugal em 1974 estava passando inúmeras aflições.
Era dominado por uma ditadura velha de 50 anos. Uma guerra colonial interminável.
Milhares de jovens eram mortos ou voltavam das colônias seriamente mutilados.Cada dia 10 de junho, o dia de Portugal, na parada militar, centenas de pais de luto vestidos, recebiam as condecorações póstumas de seus filhos mortos na guerra. O povo português passava fome, os salários eram baixos e os impostos muito altos. A PIDE Perseguia, prendia, torturava e matava os opositores ao regime. Uma mudança, uma revolução estava sendo necessária. O povo queria democracia, já estava farto da ditadura! A história de amor que se conta neste livro começa justamente no dia anterior á revolução, a estranha madrugada do 24 de abril de 1974.
(Este livro é dedicado á minha querida e saudosa mãe que na conheci, faleceu quando eu tinha três anos e meio. Ela era oriunda da vila de Peniche, ali nasceu e foi criada. É também na vila de Peniche que se inicia a Estranha Madrugada.)

                                                       Introdução

Naquela noite Francisco não conseguia adormecer. Era uma verdadeira noite de inverno embora estivéssemos ja em meados de abril. O mar estava revolto enormes ondas se desfaziam contra os rochedos espumando. O vento violento assobiava terrivelmente. Como havia um nevoeiro espesso o farol fazia funcionar a sua forte sirene. Tudo isto provocava um barulho ensurdecedor. É verdade que a sua casa se situa perto da falésia deste lado da estrada e bem perto do farol. Ele se voltava constantemente na cama e pensava no que tem sido a sua vida até ali. Seu serviço militar cumprido Francisco voltou a Peniche a sua terra natal. Durante os quatro anos da sua ausência se passaram vadias coisas tristes. Seu pai desaparecera no mar quando a sua traineira naufragou ao largo da Nazaré. Sua mãe falecera de desgosto seis meses mais tarde. Á sua chegada, na sua casa vazia ele sentiu a falta dos seus pais. Sendo filho único, como família só lhe restava o seu tio Paulo que era viúvo. Três anos de seu serviço militar os tinha feito em Moçambique durante a guerra colonial. Visto que ele não fumava nem bebia e como era bastante poupado, quando foi desmobilizado recebeu uma soma importante de dinheiro como soldo. Mas a casa estava em bastante mau estado e era preciso fazer algumas obras. Para isso ainda precisava de mais dinheiro então teria de encontrar rapidamente um emprego. Normalmente ele poderia recuperar o seu emprego na traineira onde trabalhava antes do serviço militar, mas estava decidido a nunca mais ir ao mar. Esta decisão foi tomada devido ao desaparecimento de seu pai no mar. Era no final dos anos sessenta e nesta época a pesca era praticamente a única fonte de emprego na vila de Peniche. Em terra não havia muita possibilidade de emprego assim para Francisco a única solução seria procurar emprego fora de Peniche. Como no exército ele tinha sido mecânico conseguiu se empregar numa garagem das Caldas da Rainha. Quando começou a trabalhar ali, viajava todos os dias de ônibus, mas mais tarde comprou uma moto para fazer o trajeto. Ele vivia sozinho. Um belo dia perto da oficina onde trabalhava ele encontrou Maria uma linda moça de vinte e dois anos, estudante em Coimbra. Ele tinha vinte e cinco. Aquilo foi amor à primeira vista mesmo. Seis meses mais tarde eles casaram. Embora os pais da noiva não fossem abastados fizeram mesmo assim um lindo casamento. A irmã mais nova de Maria a Olinda foi incansável nos preparativos para a boda. Após a lua de mel Francisco conseguiu empregar-se na única garagem de Peniche. Assim os noivos se instalaram definitivamente na casa de Francisco. Claro que ela com o casamento teve de parar os estudos quando só lhe faltava um ano para se formar em direito. Durante o verão Maria sentia-se bem naquela casa e até cultivava a pequena horta com amor. Mas no inverno as coisas se complicavam. O ruído do mar e a umidade do nevoeiro ela suportava muito mal. Numa noite de inverno um velho Cargueiro encalhou nas rochas mesmo em frente da casa deles. O resgate da equipagem foi muito difícil devido ao vento violento e à força do mar. Três marinheiros da equipagem perderam a vida nesse naufrágio. Esta tragédia mudou completamente o moral de Maria. Ela vivia deprimida e fechada sobre ela mesma. E foi nessa altura que ficou grávida do Ernesto e durante a gravidez ela sofreu bastante. O bebê estava muito em baixo e isso lhe provocava dores atrozes. Por causa da depressão ela fez mesmo uma tentativa de suicídio. Mas o parto correu bem e o menino nasceu perfeitinho. Ano e meio mais tarde ela ficou novamente grávida. Esta gravidez passou-a melhor, mas o parto durante o inverno por uma noite de tempestade, quase custou a vida ao bebê e à mãe. Ela recusava sempre ter os filhos no hospital os partos ocorriam em casa com a ajuda de uma parteira profissional. Foi depois do nascimento da Aurélia que Francisco começou a sentir que a esposa se despegava dele. Ela veio fria e distante com ele. Embora ele amasse a esposa como no primeiro dia, ela tinha-o deixado fazia ja dois anos. Nesta noite terrível ele pensava muito também aos seus filhos Ernesto, quatro anos e Aurélia um ano e meio. Agora ja com seis e três anos e meio. Maria nunca tinha suportado a vida nesta casa situada à beira do mar. Nunca se tinha adaptado a este modo de vida. Nunca tinha sido feliz nesta casa durante os cinco anos que tinham vivido juntos ali. Os filhos aqui nasceram. Maria um dia fartou-se desta vida fez as malas e partiu para França levando as crianças com ela. Foi viver como uma tia imigrada naquele país havia 10 anos. Francisco não via os filhinhos há dois anos ja. O barulho aumentava cada vez mais, ele olha o relógio eram ainda quatro horas da madrugada. Ele não conseguia pregar olho. Mas o cansaço era tanto que por fim adormeceu. A campainha do despertador o arrancou do seu torpor. Eram seis horas da manhã. Mas estranho, o barulho do mar tinha terminado o vento e o mar acalmaram. Francisco vestiu-se e saiu de casa. Estranho mesmo, o nevoeiro cessara. Um amanhecer como em pleno verão. Nem uma nuvem, o céu estava estrelado. Que mudança de tempo radical em apenas duas horas. Ele ia montar sobre a mota quando de repente um carro surgiu na estrada a toda a velocidade. Ele é doido pensou Francisco! A trezentos metros a estrada acaba e depois é o precipício de muitos metros de altura.Á velocidade que ele vai não vai poder parar a tempo. Ele põe a moto a trabalhar e vai atrás do carro. Perto do farol tem uma curva a 100 metros do precipício, por um momento perdeu o carro de vista. Passando a curva ele não ja viu mais o carro nem ouviu nenhum ruído de queda no abismo. Só via o parque de estacionamento do restaurante e o pequeno muro que serve de proteção para as crianças. Ele vê também o recinto do farol com o portão aberto como sempre. Mas de carro nem marcas ao solo, sumiu simplesmente. Perto do pequeno muro tem umas escadas na rocha por onde descem os pescadores amadores. Francisco desce alguns degraus olha bem em baixo, mas nada não há nada lá. Ainda faz escuro o sol só se levanta dentro de duas horas. Estranho um carro desaparece sem deixar rastro! Não há ninguém nas redondezas. Dirige-se então ao farol, conhecendo bem o faroleiro perguntou-lhe se tinha visto qualquer coisa. Não ele nada viu nem ouviu. Francisco se lembrava bem do carro duns turistas que tinham puxado mal o travão de mão. A um momento dado deslizou e caiu no precipício e explodiu 25 metros mais abaixo. Mas um carro a toda a velocidade não tinha feito nenhum ruído de queda. Teria sido vitima de uma alucinação? Não ele tinha bem visto um carro a toda a velocidade e depois mais nada. Que estranho acontecimento! Só com ele é que acontecem destas coisas! Tendo perdido uma boa meia hora com tudo isto estava bem na hora de partir para o trabalho. O incidente da manhã não lhe saía do espírito, mas não falou a ninguém desse assunto. Por outro lado Francisco estava bem decidido a descobrir o que realmente se passou. Á tardinha quando voltou, como ainda não tinha anoitecido ele dirigiu-se de novo ao fim da estrada à beira do precipício. O mar estava calmo e não havia vento e não havia ninguém nas paragens. O restaurante só abre no verão. Então desceu as escadas até onde podia. O cabo Carvoeiro estava sereno e calmo. Apenas algumas gaivotas pousavam sobre a "Nau dos Corvos", um rochedo em forma de barco. Mas no fundo do abismo não havia nenhuma evidência de que ali se despenhara uma viatura. Se sentando sobre o rochedo onde normalmente se senta quando vai pescar ele meditava no estranho evento daquela manhã. Sem se mexer ficou ali sentado por mais de meia hora. Como tudo isso era tão estranho! Enfim Francisco se decidiu a voltar em casa. Ele prepara uma frugal refeição, para ele só não era preciso muita coisa. Depois de jantar era ja noite, tornou a sair e desta vez foi até à "Varanda de Pilatos" que se encontra sobre a falésia quase em frente da sua casa. É um enorme buraco na rocha que o mar cavou naturalmente. Três metros mais abaixo há uma janela talhada na rocha também naturalmente e que dá sobre o mar. Dali se pode ver a imensidão do mar bem como a orla costeira desde o cabo Carvoeiro até à praia do Baleal. Na sua solidão Francisco gostava de vir à noitinha neste lugar para meditar. Bem entendido em noites calmas como esta. Hoje especialmente ele precisava de bem meditar e refletir sobre o desaparecimento da viatura daquela manhã. Em comparação com a noite anterior podia-se dizer que era uma noitinha de verão. O ar parecia imóvel. Era noite de Lua cheia. Por esta abertura na rocha o mar luzia, negro e liso como um espelho sem tain. Ao longe se viam as luzes dos navios que passavam ao largo. De repente a uns dois kilômetros da costa, faróis de luz vermelha surgiram do mar. Logo a seguir um vulto enorme surgiu do mar. Um Submarino? Se perguntou Francisco. Emergir ali é perigoso, pois o mar é pouco profundo e tem muitos escolhos. Devido ao seu passado como pescador, pois o tinha sido desde menino, ele sabia que era muito difícil navegar ali. Por uma embarcação deste tipo era ainda pior.Logo se abriu uma escotilha e alguns vultos humanos se movimentavam no convés. Então três homens subiram num barco pneumático a motor e se dirigia em direção à costa. Assim rapidamente com tinha surgido, o submarino imergiu. Do lugar onde se encontrava ele não podia ver onde iam desembarcar. Francisco estava achando este desembarcamento muito suspeito. Assim resolveu ir tirar o assunto a limpo. Correu então a casa montou na mota e pela estrada ainda podia ver o pneumático com os homens a bordo. Este se aproxima da costa, mas em obliquo, com certeza vão desembaraçar perto do grande Filtro. Ele estacionou a mota no recinto do filtro e avançou em direção do mar. Neste lugar tem algumas duas algumas rochas e depois o mar. Franciso subi numa duna e dali podia ver o mar. A visibilidade era excelente devido à Lua cheia. Subiu ainda numa duna mais alta, mas não conseguia ver o barco pneumático. Nem sequer o ruído do motor ouvia. Ele avançou até aos rochedos com muita precaução e olha em todas as direções, mas nada de barco nem dos tripulantes. Ele continuou a avançar até mesmo à água, mas teve de se render à evidência o barco sumiu. O que ele tinha vivido de madrugada se repetira à noite, um meio de locomoção se evaporara diante dos seus olhos. Com o seu olhar escrutador e penetrante ele passou o mar ao pente fino desde o cabo até à praia do Baleal e não havia sinal de vida. Ele não via absolutamente nada, o mar estava sempre liso como um espelho sem tain. Se houvesse um barco certamente ele o veria. Mas nenhum barco navegava ali. No horizonte Francisco podia ver as luzes dos navios que passavam ao largo. Portanto ao longo da costa o barco pneumático tinha sumido mesmo! Muito estranho no espaço de menos de 24 horas ele fora testemunha ocular de dois desaparecimentos sem explicação. Ele foi mesmo até ao Baleal, mas não encontrou nada não viu viva alma. Muito confuso e perturbado voltou em casa eram mais ou menos meia noite. Na estrada cruzou algumas viaturas que vinham do cabo, todas com duas pessoas a bordo. Sem duvida casais de namorados que tinham vindo aproveitar o local isolado e a noite de Lua cheia para namorarem à vontade! Ja em casa Francisco pensa em Maria e nas crianças ele tinha recebido carta dela no correio da manhã, embora fosse datada de 15 dias antes. Ela falava das crianças. Ernesto que estava ja na primeira primária era aplicado em classe e teve boas notas antes das férias do Natal. Quanto a Aurélia ela está em pré-escolar e se diverte muito com os seus companheiros de classe. Mas sobre ela não diz nada ou quase nada. Ela dizia que ganhava bem a vida e que às crianças não lhes faltava nada. Mas sobre a relação deles de marido e esposa não falava nada.Mas ele se fazia muitas perguntas. Maria tinha encontrado outro homem ou vivia sozinha com os filhos? Como trabalhava como arrumadeira de quarto num grande hotel de Paris não lhe seria difícil arranjar um homem. Ela nunca tinha falado de divorcio, queria isso dizer que um dia ela voltaria? No entanto o que era importante para ele era que os filhos fossem bem tratados. No tocante a sua relação aquela separação lhe causava muita tristeza. Embora ele fosse um belo homem ainda não tinha conseguido se enamorar de alguém. Nos seus conhecimentos ele tinha varias jovens senhoras que tinham um fraco por ele. Portanto ele se fazia distante e frio com elas. Maria era sempre o seu único amor. Vivia na esperança que um dia a situação mudasse e que voltassem a ser uma família feliz. Com esta sensação de esperança ele adormeceu. Ao acordar de manhã ele se sentia bem revigorado. Ele esperava não ter o mesmo problema do dia anterior. Esta manhã havia um pouco de nevoeiro, mas nada de especial aconteceu. Portanto os estranhos desaparecimentos de que fora testemunha não lhe saiam da mente. Era a manhã de 25 de abril de 1974.
Continua!

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sexta-feira, março 25, 2011 - 17:44

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VICTOR ALEXANDRE

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Comentários

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Caro Victor vamos esperar a

Caro Victor vamos esperar a continuação e ver o desenrolar de seu conto.

Até o presente momento me despertou a curiosidade sobre os fatos estranhos ocorrido com o Franscisco, parabéns e estarei esperando a continuação.

Abraços.

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