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A estrelinha que queria aprender a contar…
Era uma vez,
numa noite onde o céu era de um azul profundo, intenso, com uma lua que iluminava com luz brilhante cada recanto, uma pequenina estrelinha que queria aprender a contar. Olhando lá do alto a imensidão do oceano, com ondas sibilantes, esbatendo-se em brancas areias, pensava…
- Nesta noite tão clara, como gostava de poder descer…saltitar na crista das ondas e contar a meu belo prazer! Contar os grãos de areia cintilantes, contar estas ondas que a brisa embala, contar as terras distantes, contar novas alvoradas!
E assim, em tom de desabafo, suspirava a estrelinha, quando de repente, num piscar de olhos, a uma velocidade estonteante, se libertou dos céus e voou em queda livre, pairando de nuvem em nuvem até poisar, de mansinho, no cimo de um verde monte. Por entre ervas altas, espreitou e, pé ante pé, chegou perto de uma respeitosa ave, um mocho, que estava poisado numa árvore de grande ramada, perguntou-lhe então:
- Olá, como te chamas? Tens um ar culto e tão sábio…preciso aprender a contar, serás tu, por ventura, capaz de me ensinar?
Observando a luminosa estrela pequenina, este respondeu:
- Obrigada pequenina, por me tratares com tanto respeito, é um pedido pertinente…não sei se tenho jeito…para uma tarefa tão nobre…
Mas com os seus olhitos de luz, fitando aquela voz do saber, a estrelinha justificou:
- Sabes, lá de cima, contemplo coisas tão belas, que seria muito mais feliz, se conseguisse contá-las! Contar o número dos rios, contar as pétalas que bailam nas brisas, contar os balões que as crianças soltam, os papagaios que esvoaçam…contar as cores do arco-íris, o número dos meus amigos, contar com muita alegria, os meninos que me olham, lá bem no alto, e me contam nas suas descobertas entre sorrisos…por favor, ensina-me a contar!
Assim, o velho mocho ponderou qual seria melhor forma de ensinar a estrelinha. Pensou, pensou e por fim disse:
- Os teus motivos são nobres, na verdade pequenina, não sei se estou à altura de tamanha aventura! Mas sobe para o meu dorso, iniciarás a nobre descoberta da luz que nos traz o saber. Anda! Vamos voar para que sintas como é bom aprender, uma verdadeira viagem, que sempre nos faz crescer. Não penses que eu, por ter esta idade, já não tenho o que aprender!
Radiante a nossa amiguinha, ao sentir que a sede de saber estava também presente no coração do seu novo mestre, nem pensou duas vezes, subiu!
Em voos ousados percorreram o mundo, e a estrelinha começou a aprender, ao ritmo da emoção. Já a noite ía avançada quando chegou a sua primeira lição. Ao poisar numa pedra cruzaram-se com uma bébé lebre que chorava…a ave falou primeiro:
- Porque choras aqui tão sozinha? Tens medo, ou estás perdida? És ainda tão pequenina …onde está tua mãezinha?
O bichinho tremendo respondeu:
- Perdi-me da minha ninhada, houve fogo de madrugada, e agora não sei onde estou…a minha casa é na floresta, mas corri tanto e tão depressa que não sei voltar para lá!
Então a estrelinha, irradiando bondade, ofereceu-lhe a sua amizade:
- Não chores, fico contigo, a tua mãe virá certamente, acredita no que digo!
E assim foi, passado um curto intervalo de tempo tudo estava resolvido. Perguntou então o mocho:
- Minha pequena estrelinha, quantos era a lebre sozinha?
Ela respondeu:
- Essa é fácil, o único número que conheço será a resposta certa, mas que coisa tão simples esta, um ... um coelhinho assustado!
Aproveitando o momento em que rasgos de luz encadeavam os conceitos, o mestre mocho continuou:
- E contigo? Quantos são?
A resposta foi tão rápida que, num piscar de olhos, a jovem estrela gritou:
- Ora não te percebo, um e um…que queres que diga…sabes que não conheço os números…
Perante o olhar triste da jovem estrela, o mocho retorquiu:
- Conheces pois, contigo eram dois!
E assim, em conversa animada, até ao romper da madrugada, a estrelinha aprendeu a contar, percebendo que tudo é simples: juntando um a um quantidades que conhecia conseguiu chamar pelos nomes os números que aprendia: um, dois, três, quatro, cinco, depois o seis, sete as cores do arco-íris…infinitos momentos felizes nesta noite de recordações. Com o romper de aurora, sorrindo foi-se embora, mas despediu-se do seu professor:
- Adeus e obrigada por esta bela caminhada! Não sei se te reencontro, mas para sempre te conto, entre aqueles com quem aprendo. Nesta noite maravilhosa, conheci a amizade e, para dizer a verdade, são amigos que conto agora! Desde o céu ao som do vento, partilho o meu conhecimento. Nas canções das crianças, elas contam estrelas, eu conto esperanças!
Sílvia Cerico
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