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FIDÉLIO, Beethoven - Óperas, guia para iniciantes


FIDÉLIO, Beethoven - Óperas, guia para iniciantes

Autoria – Beethoven  (Ludwig Von – 1770-1827 – Alemanha)
Libreto – Josef Sonnleithner


Personagens

Don Florestan – nobre e marido de Lenora. Interpretado por um Tenor.

Lenora (Fidélio) – esposa de Don Florestan, disfarçada como auxiliar de Rocco. Interpretada por uma Soprano.

Jaquino - jovem chaveiro. Interpretado por um Tenor.

Marcelina – noiva de Jaquino e filha do carcereiro. Interpretada por uma Soprano.

Rocco – o carcereiro. Interpretado por um Baixo.

Don Pizarro – diretor da cadeia. Interpretado por um Barítono.

Don Fernando – Ministro da Justiça. Interpretado por um Baixo.
 


Local e Época

Espanha, meados do século XVIII.

Enredo

O primeiro cenário da Ópera é uma sombria prisão situada nas cercanias de Sevilha. Dominando quase toda a cena, avista-se o pátio do presídio e, numa das laterais, a casa do carcereiro Rocco, onde a sua filha, Marcelina, recebe a corte do chaveiro Jaquino, o primeiro auxiliar de carceragem.
Ali, Don Pizarro, corrupto diretor do estabelecimento, mantém encarcerado injusta e ilegalmente, Don Florestan, há mais de dois anos, por conta da inimizade visceral entre ambos, oriunda de divergências políticas e comerciais.
É, a rigor, um verdadeiro crime de sequestro que ele praticou, haja vista inexistir qualquer processo jurídico, e que tentou acobertar espalhando a falsa noticia de que o desafeto teria morrido fora da cidade, o quê explicaria a sua ausência.
Uma explicação plausível para a época e que, por isso, convenceu a quase todos.
Porém, a esposa do prisioneiro, Lenora, que sabe do que realmente aconteceu, busca o marido incansavelmente, embora não disponha de meios para comprovar a sua versão. Ciente, pois, de que os caminhos legais não lhe estão franqueados, ela criou um estratagema para ludibriar Don Pizarro e libertar o marido.
Vestindo-se com homem e adotando o nome de                             Fidélio, ela conseguiu empregar-se na prisão como auxiliar do carcereiro Rocco, o qual, em pouco tempo passou a tê-la em alta consideração, graças ao seu talento e empenho no trabalho.
Dessa sorte, ela confirmou as suas suspeitas anteriores de que o seu bem amado, amarga, ali, a injusta prisão.
Contudo, no dia-a-dia, enfrenta um problema que não podia esperar, já que também conquistou o amor da jovem Marcelina, filha de Rocco, que sequer desconfia de sua real identidade. Uma dificuldade, todavia, que não lhe impede de prosseguir em sua busca.
Assim, certo dia, Lenora (transfigurada em Fidélio), convence o carcereiro a deixar os prisioneiros tomarem banho e sol, esperando ver entre aqueles infelizes o seu amado esposo.
Nesse momento o público ouve um dos ápices melódicos da obra, quando os prisioneiros entoam o célebre Coro ao avistarem a luz o sol.
Mas a sua tentativa não surte o e efeito desejado, pois Rocco tem ordens expressas de manter Don Florestan em completo isolamento, nas mais severas condições, já que Don Pizarro espera que ele não sobreviva às mesmas.
Não obstante esse primeiro insucesso, Fidélio não esmorece e continua a sua faina rotineira até que um dia chega a notícia de que nos próximos dias, a prisão será inspecionada pelo Ministro da Justiça, por ordem do Rei.
É uma noticia alvissareira para Lenora, pois Don Florestan e o Ministro são amigos leais e certamente este último a ouvirá e intercederá em favor de seu amado.
Por outro lado, na iminência de ter o seu crime descoberto, Don Pizarro já não pode aguardar que os maus tratos matem a Florestan e decide assassiná-lo com a máxima urgência.
Para tanto chama Rocco e ordena-lhe que execute o prisioneiro, mas o carcereiro recusa-se a fazê-lo sob o argumento de não ser um assassino.
Sem alternativa, Pizarro decide executar pessoalmente o desafeto e ordena que Rocco traga-lhe o prisioneiro, devendo Fidélio segui-lo aos porões do presídio para auxiliar-lhe com o condenado.
Enquanto os subalternos seguem, Don Pizarro dá vazão à sua irritação com o fato os outros prisioneiros estarem gozando do banho de sol e ao som de seus impropérios, o primeiro ato é encerrado.

§§§

O segundo ato é ambientado na reprodução do horroroso calabouço subterrâneo onde Florestan é mantido aprisionado.
Tateando na escuridão, em meio a toda sorte de detritos, Rocco e Fidélio descem a escadaria com a máxima cautela.
Aos poucos a visão de ambos tenta adaptar-se à penumbra, mas o resultado é apenas parcial e eles não conseguem distinguir com clareza se o vulto jogado no chão é o de Florestan.
Avançam mais alguns metros e apenas quando o homem no solo implora por água é que Lenora reconhece a voz de seu marido e o identifica.
Então, conforme havia sido combinado, Rocco assobia avisando a Don Pizarro que o prisioneiro está pronto para ser executado.
Tomado de demoníaca fúria e pouco se importando com o estado deplorável do detento, Pizarro investe brutalmente contra ele; porém, antes que possa atingi-lo, Fidélio interpõe-se entre ambos e apontando uma pistola contra o covarde agressor, revela a sua verdadeira identidade.
Nesse momento, o toque de clarim anuncia a chegada do Ministro da Justiça, Don Fernando, para a anunciada inspeção na cadeia.
Ainda aturdido com a revelação e irado por não ter podido executar o seu desafeto, Don Pizarro sente que o temor de ser descoberto invade-lhe a alma e sem qualquer racionalidade foge daquele soturno ambiente.
É o fim da primeira cena.
A segunda cena tem como cenário o pátio da prisão e a iluminação em sua carga máxima reproduz o ardente sol sevilhano.
Além dos prisioneiros, uma grande multidão acorrera para saudar a chegada do Ministro e Don Fernando saboreia a calorosa recepção enquanto anuncia a ampla anistia que El Rei concedeu à maioria dos apenados.
É um momento de júbilo e de muita alegria, exceto para o corrupto Diretor do presídio que sabe que o seu castigo não tardará.
E fica maior o seu pavor, quando escuta o Dueto “O Namenlose Freude (Ó Alegria indizível)” que Florestan e Lenora entoam, enquanto Rocco os conduz para o pátio, onde Don Fernando toma conhecimento da injustiça praticada e o liberta imediatamente.
Don Pizarro tenta argumentar, mas Don Fernando manda prendê-lo imediatamente e a multidão explode em aplausos, saudando o restabelecimento da justiça e a vitória da abnegada lealdade de uma apaixonada e valente esposa.
Ao público resta a lembrança da belíssima ária “In Des Le Bens Fruhlingstagen (Na primavera da vida)” que Florestan entoou ainda no cárcere, ao lembrar-se de sua felicidade anterior e a deliciosa sensação de que, ao cabo, o Bem sempre triunfa.
É o fim da Ópera.


Histórico

Foram raros os grandes autores que não se interessaram pelo gênero operístico, mas alguns deles incursionaram minimamente por essa seara, como, por exemplo, o presente caso de Beethoven que a despeito de sua genialidade, produziu apenas uma Ópera.
Sabidamente rigoroso e preso a sólidos parâmetros éticos, Beethoven rejeitou inúmeras sugestões e libretos que lhe foram enviados, por julgá-los “exagerados”, “levianos”, “primários” etc. Por fim, interessou-se pelo libreto de Josef Sonnleithner, cuja trinca de elementos centrais, Liberdade, Fidelidade e Justiça, pareceu-lhe adequada.
Vencida a resistência inicial, o maestro pôs-se a trabalhar com afinco e o fato de ter reescrito a abertura por quatro vezes, ter alterado o nome original de “Lenora” para “Fidélio” e ter aceitado várias observações de amigos e admiradores do gênero, bem mostra o quanto ele se preocupou em criar uma obra que estivesse à altura de seu renome.
Contudo, apesar de tantos cuidados a primeira versão do trabalho não teve boa acolhida.
Excessivamente longa e interpretada por Cantores inexperientes, a obra não conseguiu agradar ao público de Viena (então submetida a Napoleão), desabituado ao gênero operístico.
Apenas quando Beethoven a reduziu, por sugestão de seu amigo Stephen Breauning, é que a acolhida melhorou; sendo que a consagração definitiva só aconteceu quando George Frederick Treitschke deu-lhe ares definitivos em 1814.
A partir de então, tornou-se uma das obras mais importantes do gênero, sendo exitosamente representada em todo o mundo.

Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.
Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 03/09/2015

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quinta-feira, setembro 3, 2015 - 13:36

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