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Futuro no Presente X

Demorei a dizer qualquer coisa, não tinha palavras outra vez, senti como se tudo a minha volta estivesse em câmara lenta, fiquei tonto, sentei-me mas meu corpo demorava imenso tempo a chegar ao sofá, sentia-me como qualquer pessoa se sente quando presencia algo inacreditável, do outro lado a voz disse-me.

- Está a ouvir-me.
- Sim. - Tentei recompor-me.
- Como posso ir ter consigo.
- Estará cá muito até quando? – Perguntei a tentar ganhar tempo.
- Somente o necessário para lhe fazer esta entrega.

Olhei para o telemóvel, tentei pensar, não conseguia, queria receber a caixa mas ao mesmo tempo tinha medo, as coisas estavam a se tornar demasiadamente fantásticas para mim.

- Volto-lhe a ligar daqui a quinze minutos, neste momento não consigo dar-lhe resposta.
- Ficarei a aguardar. Respondeu-me polidamente.

Não sabia o que fazer, sentia o estômago apertado com o nervosismo, fui a casa de banho, olhei-me no espelho e pergunte:

- Estas preparado para isso?

Não obtive qualquer resposta, mas continuei a interrogar-me cada vez mais concentrado a olhar para o fundo dos meus olhos, não tinha qualquer resposta, a parte detrás da minha cabeça começar a ficar quente, fiquei assustado, fui a minha caixa de medicamentos na esperança de encontrar um calmante qualquer, não encontrei nada, sentei-me numa cadeira junto a mesa da cozinha, pus a mão na minha testa e interroguei-me:

- O que eu faço agora?

Não tinha alternativas, ira ligar-lhe e combinar um encontro, respirei fundo, havia chegado a hora, liguei.

- Olá.
- Olá novamente Sr. Pedro.
- Conhece o centro comercial Bela Vida?
- Sei como ir lá ter.
- Podemos nos encontrar lá daqui a uma hora, na zona de alimentações, está bem para si.
- Estarei a sua espera.
- Até já.

Desliguei a chamada despachei-me o mais rápido que consegui, entrei no carro e fui directo ao ponto de encontro, queria estar lá antes da hora, pedi um café em um balcão, escolhi uma mesa que tinha um ângulo de visão que permitia-me ver todos que se aproximassem e fiquei a espera, ao longe um senhor com aproximadamente quarenta anos, vestido com um fato completo preto e com sapatos que notava-se serem de qualidade chamou-me atenção, sentou-se a duas mesas de distância, não podia ser ele, não trazia nada, estávamos exactamente na hora combinada e ninguém ainda tinha aparecido quando instantaneamente apareceu-me um senhor já de idade a minha frente, fez-me sinal para ficar em silêncio, e disse:

- Ninguém esta a ver-me ou ouvir-me a não ser tu.
- Quem és? Perguntei-lhe mentalmente.
- Sou um viajante do tempo.
- Porquê estas aqui agora a falar comigo.
- Basicamente é devido ao facto de o teu telemóvel estar sob escuta.
- Porquê esta sob escuta?
- Há quem queira saber mais sobre as viagens no tempo e está a usar os meios possíveis.

Olhei para o lado onde estava o senhor de fato.

- Exactamente, é uma das pessoas que estão a vigiar-te.
- E porque não falam comigo directamente?
- Não lhes convém, é preferível que aqueles que acreditam nas viagens no tempo sejam descredibilizados.
- E não viajam também no tempo?
- Viajam, quero dizer, daqui a muitos anos viajarão, a resposta a essa pergunta é muito relativa.
- Porque devo confiar em si?
- Só tu podes responder essa pergunta.
- Também posso estar a enlouquecer.
- E estas, cabe a ti escolher se queres manter-te a viver nessa sociedade ou não, podes viver como um louco, é uma das respostas que muitos encontram.
- Uma loucura consciente?
- Fernando Pessoa disse que só queria ser inconsciente e ter consciência disso.
- Ele tinha uns quantos problemas mentais.
- Isso é relativo.
- Como assim.
- Ele simplesmente tentou passar para o papel uma mensagem.
- O único livro que ele publicou em português?
- Sim e não, o mistério do livro esta no seu titulo, a vista de todos, não no seu conteúdo.
- Na palavra mensagem?
- Sim, no conseguir ver toda amplitude do obvio é que esta a genialidade?
- Não percebo.
- Nem tentes, se tentares perceber ficaras restringido a tudo que aprendestes até hoje, para aprendermos realmente algo novo temos que abstrair-nos das nossas ideias pré-concebidas.

Lembrei-me da conversa que tinha tido com o Ivo acerca do livro que ele estava a ler sobre coincidências e da sua atitude antes de o ler.

- Queriam dar-me a caixa, porquê?
- Tu concebeste o principio básico mas ele terá de ser materializado.
- Mas já não preciso dela nem do que nela contém.
- Em principio ias precisar.
- Porque?
- Estão a tentar saber mais sobre as viagens no tempo, vão tentar tirar todas informações que sabes e depois darem-te como louco, o pior é que tu mesmo ficarás em duvida se não tiveres provas.
- Quem.
- Não se sabe.
- Continuo a não entender porque pura e simplesmente alguém do futuro não entra no meu tempo e fala comigo.
- É o que estou a fazer.
- Pois, continuo a saber se devo confiar em ti ou não.
- Precisas de uma prova, certo?
- Exacto.
- Vamos fazer algo divertido. Riu-se.
- Pode ser.
- Vais deixar de me ver mas continuar a ouvir, levanta-te, vai em direcção ao senhor de preto e pergunta-lhe as horas, ele irá ver as horas no relógio do telemóvel, de seguida levantará rapidamente e fará uma chamada.

Pensei rapidamente no que ouvi, chamei até mim o ser de luz e perguntei-lhe.

- Como posso fazer para que esse viajante do tempo não leia tudo que penso?
- Não aceites mentalmente o que ele disse, coloca na tua mente que ele só te ouvirá se o visualizares.
- Ele não vai se aperceber disso.
- Não, tu próprio é que escolhes como emites e recebes a informação.
- Mas anteriormente não aconteceu assim.
- Não tinhas consciência do que eu acabei de dizer.

Levantei-me, fui em direcção ao senhor de preto, notei que ele me via mas fingia estar a olhar para outro lado, parei o perto suficiente para que ele não pudesse olhar-me directamente, tirei meu telemóvel do bolso, visualizei o viajante.

- O que vais fazer, perguntou-me?
- Divertir-me um pouco.

Fechei o canal de comunicação, liguei ao Ivo, ao mesmo tempo que tocava o telemóvel do Sr. de Preto.

- Bom dia Pedro. Respondeu-me o Ivo.
- Bom dia, desculpa-me por ontem a noite.
- Não há problema, ligas-te só por isso?
- Não, queria combinar algo para hoje, afinal é sexta-feira.
- Ah, pois, hoje, sim sem dúvida, era sobre isso que queria te falar ontem mas não acabamos a conversa.
- Pois, também queria te explicar a história das minhas viagens, já sei como são feitas.
- Falamos disso depois.

Visualizei outra vez.

O homem de preto desligou a chamada, fui até ele e perguntei-lhe as horas, olhou-me friamente e disse-me:

- São 12:15.

Olhei para o meu telemóvel e disse:

- Bolas tenho o relógio meia hora adiantado, obrigado.

Voltei-me a sentar onde estava anteriormente, o Sr de preto levantou-se, fez uma chamada e começou a sair do recinto.

- Andas a tentar fazer o que?
- Nada de especial, apenas estou a os baralhar, não combinei horas com a pessoa que me entregaria a caixa, falei que seria uma hora depois da hora da chamada, agora ainda tenho mais 15 minutos até chegar a hora combinada.
- Não entendo o que podes ganhar com isso.
- Aparentemente nada.
- Continuo a não entender, estas a dar-lhes mais tempo?
- Sim.
- Com isso só facilitas a vida deles.
- Mais ou menos.
- Se não estiveres a ser observado por aquela pessoa serás observada por outra qualquer, já não consigo dizer quem, abriste uma interrogação espaço temporal para mim.
- Sinceramente não me importo com isso.
- Não entendes a história conta que recebeste hoje o primeiro protótipo do componente principal da máquina do tempo e isso não aconteceu.
- A história esta enganada.
- Não é possível.
- O impossível não existe.
- Não entendo.
- Também não entendia a pouco tempo atrás, como fizeste a tu viagem no tempo?
- Com a maquina que concebeste.
- Essa máquina não existe.
- Se não existisse eu não estaria cá.
- E não estas.
- Claro que estou.
- Estas equivocado, a máquina não existe, tu pensas que estas no passado a falar comigo mas não estas.
- Estas a dizer que eu estou louco.
- Sim, estas mesmo louco.
- Estas a tentar-me confundir agora.
- Talvez.
- Tornei possível o teu sonho das viagens no tempo.
- Como assim?
- Concebi a primeira máquina que fez viagens no tempo.
- És então o primeiro viajante?
- Sim.
- Estas enganado.
- Impossível.
- Já viajei no tempo.
- Não há tecnologia na tua época para o fazer, as ideias que tiveste só foram realizáveis muito tempo depois da tua morte.
- Como quais?
- A utilização de cordas que atravessam nano worm-holes como vias de comunicação.
- Isso é uma novidade para mim, nem sei do que estas a falar.
- Escreveste sobre isso nos teus apontamentos sobre viagens no tempo mas com outra linguagem.
- Acho que não entendeste a mensagem.
- Tanto a entendi que a tornei possível.
- Entendeste parte, não toda sua amplitude.
- Como assim.
- Mens agitat molem.
- O que queres dizer com isso?
- É latim, a mente move matéria.
- Continuo a não entender.
- És físico, certo?
- Sim.
- Estas a pensar como um físico, não podes pensar assim para perceber toda amplitude das viagens no tempo.
- Mas eu estudei todos os teus apontamentos, tornei reais tuas viagens e agora dizes-me que não percebi, consegui encaixar o que sabias na física e tornar o que só existia Idilicamente em algo tangível e real.
- Ainda bem para ti, mas não era necessário.
- Pensava que ficarias contente em descobrir que aquilo que imaginaste era possível.
- Já sabia mas via de outra maneira.
- Qual?
- Sem aparelhos tangíveis alguns.
- Não consigo acreditar nisso.
- É esse o problema, mas como tu mesmo disseste não tentes perceber.
- Não sou um génio.
- Deves ser, para conseguir tornar tangível algo que foi concebido de forma intangível sem o objectivo de tornar real.
- Mas não foi isso que entendi.
- O que uma pessoa entende depende da lente que usa.
- Percebo isso, o que vais fazer agora.
- Não sei.
- Mas sabes que estas a ser acompanhado em todos teus movimentos.
- Ninguém esta sozinho.
- Não percebes o que pode acontecer se resolverem aplicar essa invenção sem seguir princípios éticos e morais?
- Não pensei sobre isso ainda.
- Devias pensar.
- Ficamos por aqui.
- Voltarei a entrar em contacto contigo.
- Apenas se eu permitir.
- Como assim?
- Talvez te ignore.
- Porquê?
- Não quero ser responsável pela tua invenção.
- Mas foste tu que idealizaste.
- Não, estas enganado, eu não idealizei uma máquina real, eu apenas imaginei uma maneira de viajar no tempo para falar comigo próprio, não sou responsável por aquilo que tu inventaste.
- Desde a minha invenção que ando a tentar ganhar tempo a aqueles que financiaram-me o projecto.
- Porquê?
- Desconfio das intenções deles.
- Qual é o teu medo?
- Da mesma maneira que utilizaram outras invenções para coisas menos boas façam o mesmo com essa, já te apercebeste do potencial que ela tem?
- Talvez, mas se estas mesmo preocupado com isso e és o único no teu tempo que usa a maquina devias a sabotar.
- Mas alguém iria desenvolver depois.
- Tens que fazer o melhor que podes fazer a cada momento segundo a tua consciência, não podes ser responsável por algo que não tinhas consciência, mas és a partir do momento que tomas, esses apontamentos que disseste que fiz podem nunca chegar a serem feitos, eles ainda não existem.
- Mas se eles não forem feitos eu nunca estaria a falar contigo neste momento.
- O passado, o presente e o futuro são construídos em simultâneo.
- Não entendo.
- Nem tentes, aceita apenas.
- Estas a perder os teus quinze minutos.
- Não, enquanto estou a falar contigo estou parado no meu presente.
- Como?
- Não sei, só sei que é assim que funciono.
- Quer dizer que poderias passar toda a eternidade nessa fracção de tempo?
- Não chega a ser uma fracção.
- Tenho de voltar ao meu presente, minha máquina não funciona assim.
- Funciona como?
- Pensava que sabias.
- Não.
- O tempo não avança para mim mas avança para tudo o resto.
- Até a próxima.
- Até a próxima.

Observava as pessoas a minha volta e sabia que estava a ser observado por alguém, iria deixar o tempo passar calmamente, aquela situação não me fazia sentir desconfortável, antes pelo contrário, sentia-me como um personagem de um filme, era excitante.

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segunda-feira, maio 10, 2010 - 16:01

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