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III – Os apeadeiros são de partir não de ficar
Hora e lugar marcado lugar de partidas e chegadas de pessoas sozinhas a fazerem-se acompanhar em multidões anónimas sentem-se menos sós bancos frios desapossados de nada repletos de gente que se levanta sai ignora olha sorri mente com o cúmulo da certeza a serem conhecidos de uma outra hora outras horas mais redundantes e coloridas atravessam estações. Era noite gelada como se o frio trepasse por nós acima a fazer estremecer o coração aquecido por palavras sonhos enlaces de nada a serem tudo preenchiam carruagens vazias. Desencontro. Estou aqui em frente a X vou até aí. Caminhos circulares em desencontro ofegante suspenso no tempo e nas partículas de humidade a encherem razões. Estavas em frente a Y e do X ao Y corri ao telefone presa ao calor da tua voz e do momento. Vi-te de costas sombras negras a cobrir a calçada estou a ver-te viras-te enterneceste-te. Disfarçaste. Enterneci-me disfarcei banalidades encontros de apeadeiros de partidas e chegadas onde ninguém fica.
Partimos.
Cumplicidades atípicas normalizadas por memórias que não existiam ou talvez sim talvez sim. Não. Talvez sim. O olhar a estrada a correr o mar holofotes de luzes a rasgar a noite sorrisos derretiam ao luar ali dentro longe da luz do frio do rumor da tempestade.
- É o teu namorado não é?
- Hum? Quem?
- Ele, é que é o teu namorado.
- Ahh, errrr não não, ele? Ahahah não. Somos amigos apenas.
- Mas ele gosta de ti.
- Não, acho que não.
- Gosta gosta. Vê-se pela maneira como te olha.
- Hum? Como? Qual maneira? Olha normal como tu.
- Não não. Nota-se que gosta de ti, vê-se. Gosta. E muito.
Sorri. Apenas sorri. Sim o encantamento estava ali bem visível. Eramos amantes mesmo antes de o sabermos ou estarmos ou sermos ou caso haja uma alínea no Manuscrito das Relações, assim daquelas em letras pequenas para ninguém ler:
“Há amantes que o são sem saberem mas são a sentir por serem mais além pertencerem à classe do inimaginável do improvável do amor súbito e inaudito que assombra e persegue. Há.”
E se assim essa alínea existir. Há. Mil e uma centena milhares de anos a caminhar lado a lado ora cruzando estradas ou vogando em pontes trémulas e extintas.
Reencontram-se.
Cumplicidades amores ao toque toques de pele na pele a fundir paixões. Estrada mais estrada e luzes a rasgar a noite impassíveis à nossa passagem e o frio a gelar os ossos de coração a escaldar de febre descontrolada a controlar rumos de navios abandonados à deriva cá dentro. Ternuras a saltar pelas têmporas a serem contidas retidas distantes à força sem sucesso tão perto demasiadamente perto explodem em palavras abafadas ao som inesperado de Novelos da Paixão a suster suster-nos a descambar derreter para ficar ficarmos pararmos o tempo ali parar eternidades. Tenho que ir. Olhas-me. Dá-me um abraço. Tenho de ir. O tempo parou parou parou suspiros morreram morreram ali em nós sem respirar na força na intensidade na alegria no fulgor do momento que não estávamos a acreditar não acredito não pode ser isto não está a acontecer. Se pudesse ter-te-ia dissolvido no meu corpo ficar contigo ou tu comigo assim um só a serem dois. Não é justo ir embora partir para não voltar virar as costas para não chorar perder as peças de nós nos passos da noite daquela noite um último olhar virar as costas sair conter conter parar.
Respira segue não olhes para trás adeus A adeus seguir M voar a não sentir O chão fechar a porta subir escadas fechar T a porta ainda aí estás vontade de voltar abrir a porta descer a correr as escadas abrir a porta correr para ti voltar aos teus braços esquecer o mundo E aos teus abraços esquecer que existimos um sem o outro guardar guardar-te fechar a porta.
Fui-me deitar.
Não sei se dormi se sonhei se acordei se fechei sequer os olhos ao som da tua voz. Ficámos abraçados assim aquecidos suspensos nas horas que pararam no tempo que não existe. Existe.
Acordámos?
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quarta-feira, novembro 14, 2012 - 04:31
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