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Mãe pode ser um momento vago , primeira parte
Mãe pode ser um momento triste, um momento vago. Nascer num mês frio de Outono na rua que dá pelo nome de rua de todos os santos, essa rua de árvores magras onde se faz a madeira para a cama onde se dorme intranquilo ou a mesa onde se come infeliz como uns olhos de cão. Nesta rua havia um padre. Quando o homem veio puxar a infancia ás páginas dos cadernos aquilo era um sofrimento dificil de esclarecer. Empurrar um novelo de orações pela goela, o pai um pau hirto a proibir sentimentos, a impor o medo. Aquele padre costumava dizer o seremão do pomar. O homem que tem a figura de rapaz e nos sonhos ainda não consegue realizar a sua fantazia, vomitava aqueles frutos que lhe sabiam a mordida de serpente. A mãe obrigava-o naquele tempo á penitencia do óleo figado de bacalhau. A casa que está na cabeça do homem, os gritos, o andar dos fantasmas que se confundem com o passo pesado dos condenados, o gelo dentro dos olhos da mãe, tudo muito escuro. O homem que tinha este pesadelo, que transpirava como um recem nascido tentando fugir á condenação dos filhos não desejados haveria de conquistar a sua própria luz. O velho professor e o padre que fazia o seremão do pomar, a familia do rapaz e aquela humilhação de ser sempre avaliado como um atleta exposto no ultimo degrau. O padre adorava a besta do estado novo e o velho professor que dormia sobre a secretária expulsava da bocaum cheiro nauseabundo, uma mistura de cebola fritae tripas de peixe, esse cheiro chegava a entranhar-se na madeira do crucifixo. Como era dificil viver, agora o homem sabe que não podia ser de outro modo. O ódio é grande mas está a tentar que essa maré baixe.
Lobo 010
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