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Maria, Malú, borboleta

   É uma vez, em qualquer tempo como agora, um ser que não precisou ser criado, pois sempre existiu. Como não teve começo e seguramente não terá fim, sente-se confortavelmente seguro. Em ciclos intermináveis constrói sua existência para desfrutar nos detalhes, todos os níveis da transmutação.
Numa dessas passagens viu-se lagarta, andar pequeno, dimensões limitadas sempre atentas para não ser jantada antes de concluir seu objetivo. Ao longo do calendário do homem decidiu que chegara o instante. Eclodiu primeira uma asa com todo carinho e cautela, para que a beleza dela toda amarela saltasse intacta. Fez o mesmo com a outra asa, esperando o calor do sol aquecer suas clavas que pareciam rosáceas da cor luminosa do dia.
No corpo escolhido alceou seu primeiro voo. Pousou delicadamente no galho de uma nova árvore num velho jardim.
Com olhinhos astutos olhou o infinito sorvendo o ar puro da manhã de um novo dia. Sentiu a reciprocidade do ambiente e entendeu a holística do pertencer.
  Após voar sobre campos verdejantes, adejando trilhas voantes e brincadeiras de pousos rasantes, foi parar na bacia de frutas docinhas onde Chiquinha comia com gosto. Ela nem percebeu. Entre lambidas cascas de mangas sua asa ficou presa. Chiquinha comeu as frutas todinhas levando com ela a asinha cor de manga amarelinha.
  Se fosse contar o que aconteceu com a borboleta seria outra história. No entanto, a história escolhida entre inúmeras e infinitas, foi a da ressurreição de Maria. Nasceu do ventre de Chiquinha trazendo no sangue o doce mel da lambida que ocasionou mais tarde, seu diabetes. Maria que seria de Lourdes nascida no Marco no estado do Ceará. Malú, como se tornou conhecida, cresceu correndo no sertão, brincando sob árvores de caju, tomando banho de riacho e comendo rapadura.
Quando cresceu veio com a família morar na cidade grande, Fortaleza. Alguns anos depois,casou e teve três filhas. Jamais deixou seu lado ingênuo e carinhoso de tratar a todos. Adorava fazer mercantil ou simplesmente comprar presentes o ano inteiro para dar no natal. Sempre cantando em seu bailado destilava alegria e sabedoria. O corpo, no entanto envelheceu.
  Ao longo do calendário do homem decidiu que chegara o instante...
Malú preferiu voar, refazer a jornada, começar de novo e brincar como quando criança. Escolheu sentir-se livre como poeira das estrelas.
  E toda borboleta que passa voando na minha frente ouço ela me dizendo: - Como vai minha filha? Ao ver voando tão bela, quase sempre amarela, sinto enorme saudade dela. Por um momento posso ouvi-la e vê-la. Chego a chorar de saudade, mas misturo com felicidade ao concluir. Minha mãe estará sempre aqui!

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segunda-feira, novembro 26, 2012 - 17:44

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mase albuquerque

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