AS MINHAS SOMBRAS

Uma toalha de corvos, mais negra que o meu pesar, ergue-se no céu pintando-o com tons de noite o dia tão claro.
As trevas cegam a luz, o sol torna-se poente e torna-se mais fácil abrir a mente.
Visto a pele nua de sentimentos e sinto-me mais nu que sem roupa. Escondo-me no meu canto, onde os raios nâo toquem nem corpo nem pranto.
Quero vestir-me de amnésia, pentear-me com os ventos quentes do inferno,
consumir o que sou para renascer como alguém.
Quero pintar os sonhos de vida, numa tela em que te sintas excluida, servir-te na bandeja da vingança o que me deixaste em herança.
E os corvos tombam por terra, fazendo levantar as folhas outonais, pintadas de um vermelho que parece sangue de gente.
O céu torna-se claro e a luz volta a brilhar... escondem-se as sombras e eu nelas.
E a tela dos sonhos perde-se na luz, que me verga como uma cruz, sem gota de sangue vivo para deitar, aguardo apenas o fim do respirar.