CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Sem mãos

Esgueirou-se por um buraco de tédio como um coelho se esgueira na toca. E ali ficou, em buraco escuro, quase impune.
Salivava mesmo após a refeição, a própria carne em ferida.
Um quarto do tempo chegava-lhe, metade disso até.
Gritou para dentro e implodiu em insana satisfação

Chamava-se Mariana, foi esquartejada num quarto escuro. Encontraram-na por todo o lado.
Tinha um destino mas ninguém sabia disso, nem sequer a cigana que lho tinha dito na palma de uma linha de mão que lhe acabava no ventre.
Seu pecado mortal a boca.

Via passar os transeuntes mas era cego. Tinha um acordeão que se recusava a tocar. Um macaco de corda que governava o negócio.
Naquele dia, Ângelo saiu atrasado do prédio. Deu conta disso o cego que era cego mas não era cego.
Cumprimentou-o sem retorno de moeda na lata, no descuido atrasado do outro.

A polícia cercou o medo. Houve uma espécie de pausa. Ninguém se mexia e nem isso lhes tinha sido pedido.
Só um baque no silêncio, preenchido por um macaco de corda a tocar na rua, e um cego de vigília.
Lacraram-no à porta do crime sem lhe pedirem autorização.

No dia seguinte da investigação, todos eram suspeitos, menos o cego que era cego mas não era cego, e que foi o único que viu.
Um homem a discutir com o silêncio surdo, uma ameaça e um quase barulho de faca.
Viu-o pelo barulho que vinha da frincha na porta e inundava o átrio das noites frias dos sentidos.

Ângelo tem as suas impressões por todo o lado. Deixou o seu esperma nos lençóis e nas notas.
Chegou tarde ao trabalho no dia em que saiu da casa de Mariana e não viu sequer o cego, mas o resto do dia foi normal. Passou-o numa secretária suja, disfarçado de funcionário público, embrulhando o tédio em pequenas caixas de veludo que envia a si próprio.

Sua mãe, apesar de o ter abandonado à nascença, encontrada pela polícia, confessou a sua surpresa pela suspeita que a Ângelo era imputada.
Filho seu nunca faria tal monstruosidade.
O chulo que por acaso era seu marido anuiu da cozinha acenando a cabeça, palitando os dentes com uma navalha que sacou detrás da orelha.

Ângelo foi condenado, mas não era culpado.

Submited by

quinta-feira, fevereiro 5, 2009 - 13:51

Prosas :

No votes yet

admin

imagem de admin
Offline
Título: Administrador
Última vez online: há 2 semanas 6 horas
Membro desde: 09/06/2010
Conteúdos:
Pontos: 44

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of admin

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Prosas/Outros O homem sonha, a obra nasce. Deus existe? 2 2.725 03/11/2008 - 21:45 Português
Poesia/Meditação Dialogo existencial e outras comédias 1 1.495 03/18/2008 - 00:21 Português
Prosas/Outros O escritor é a sua árvore 1 3.294 03/20/2008 - 15:05 Português
Poesia/Amor Apenas humanos 1 1.777 03/24/2008 - 15:57 Português
Poesia/Amor O ainda desvario 3 1.287 03/27/2008 - 16:25 Português
Poesia/Aforismo Oito vidas 3 1.332 03/31/2008 - 00:10 Português
Poesia/Meditação Fósseis 3 1.260 03/31/2008 - 21:37 Português
Poesia/Aforismo ResgaTE 1 951 04/02/2008 - 17:55 Português
Poesia/Geral Quiromântico 1 2.072 04/13/2008 - 18:31 Português
Poesia/Geral Em nome de... 2 1.552 04/16/2008 - 09:52 Português
Poesia/Geral Sem abrigo 1 1.538 04/21/2008 - 23:00 Português
Poesia/Paixão À trois 4 928 04/25/2008 - 09:55 Português
Poesia/Tristeza Choro 4 2.708 04/28/2008 - 01:44 Português
Poesia/Amor Amante Poema 4 1.355 05/06/2008 - 13:14 Português
Poesia/Meditação A dois passos... 5 1.881 05/08/2008 - 03:32 Português
Poesia/Meditação O que resta depois dos espelhos 2 1.765 05/14/2008 - 22:44 Português
Poesia/Amor Aos quatro cantos 3 1.489 05/19/2008 - 22:43 Português
Poesia/Dedicado Carta Registada 2 1.004 05/26/2008 - 14:09 Português
Poesia/Geral "UM GRITO" 2 1.134 05/29/2008 - 23:11 Português
Poesia/Gótico Dialogo de vultos 5 1.606 05/30/2008 - 19:38 Português
Poesia/Geral A água que o fogo desejou 4 1.611 06/01/2008 - 23:01 Português
Poesia/Geral " PENSAMENTOS" 5 4.496 06/02/2008 - 01:53 Português
Poesia/Geral Aonde, Aonde ir? 3 1.001 06/05/2008 - 19:58 Português
Poesia/Desilusão "AMARGURA" 2 1.469 06/06/2008 - 00:33 Português
Poesia/Meditação Chegada do in-esperado 6 1.025 06/06/2008 - 13:49 Português